Sáb , 07/12/2013 às 00:00 | Atualizado em: 07/12/2013 às 14:55
A força de Mandela vinha da sua capacidade de não guardar rancor
Marjorie Moura
Margarida Neide | Arquivo | Ag. A TARDE
"A segurança impediu que Nelson Mandela fosse a pé da prefeitura para a Câmara Municipal"
A vinda de Nelson Mandela foi um momento histórico e emocionante para as mais de 150 mil pessoas que lotaram a praça Castro Alves, em 1991, mas teve um sabor ainda mais especial para o historiador, professor e religioso de candomblé Jaime Sodré, que integrou a comissão de recepção durante sua breve estada em Salvador.
Como o senhor se incorporou ao grupo de recepção?
Dois meses antes da chegada dele, nos reunimos no Olodum, pessoas do movimento negro, simpatizantes, com o serviço de segurança que acompanhava Mandela pelo mundo. Eram cinco homens sempre sérios, armados e que checavam os possíveis lugares onde ele visitaria.
Não achou a postura deles estranha?
Não, porque eles vinham de uma realidade mais violenta. Mas acabaram relaxando e ficaram menos sisudos, mas sempre cuidadosos e vigilantes.
Qual foi a sua tarefa?
Eu e o colega Gilberto Legal ficamos com a recepção e acompanhamento direto a Mandela. Recebemos treinamento especial da Polícia Federal. Mas quando o avião desceu, não teve segurança que desse jeito, e a multidão se aproximou. Mandela saiu pelo fundo do aeroporto.
E a partir daí tudo transcorreu como o programado?
Não, porque o governador Antonio Carlos Magalhães não aceitou que ele visitasse antes a prefeitura. Mas veio uma ordem, um esbregue de ACM, e a comitiva teve que ir para o Alto de Ondina.
E como foi este primeiro encontro?
Fiquei meio espantado porque na comitiva havia pessoas brancas e negras, e ele era acompanhado de um médico branco. Após o almoço, Mandela me confidenciou que ficou emocionado, recordando muito sua aldeia ao voltar a comer quiabo e justamente na Bahia, depois de tanto tempo na prisão .
Depois houve a apresentação na praça?
Sim, mas com nova alteração de planos, porque a segurança impediu que Mandela fosse a pé da prefeitura para a Câmara Municipal. Tive que correr para mandar que segurassem os fogos no palanque, mas me confundiram com Mandela e quando ele chegou os fogos haviam acabado (risos).
O que ficou da visita?
Ele deixou uma marca em minha vida. Embora eu falasse inglês muito mal, percebi por que ele era especial, que a força de Mandela vinha da sua capacidade de não guardar rancor e de entender que a raça humana é uma só.
Fonte: http://atarde.uol.com.br/materias/1553879
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