terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

CIÊNCIA COMPROVA BENEFÍCIO DO PERDÃO

Estudar o perdão e seus efeitos no organismo é o trabalho do psicólogoamericano Fred Luskin, 48 anos. Na última década, ele fez inúmeras pesquisas sobre as emoções que envolvem o ato de perdoar, tão necessário para deixar o coração leve e a alma em paz.

AUTO CONHECIMENTO

A força do perdão

Perdoar é, por definição, desculpar. Ah, se fosse só isso, seria muitofácil! Existem muitos e intrincados sentimentos envolvidos nesse ato, e é esse o principal objeto de estudo do psicólogo americano Fred Luskin, doutor em aconselhamento clínico pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.Mais que um teórico, ele aprendeu na prática essa boa lição. Uma briga com um grande amigo, quase irmão, o fez conhecer o que é mágoa. "Ele nem sequer me convidou para seu casamento", conta Luskin. Anos depois, percebeu que, por causa desse desentendimento com o amigo, estava colocando uma dose de amargura em todas as suas relações.

Perdoar não foi fácil, mas serviu como laboratório para que a teoria virasse prática. Como gosta de dizer, o perdão se transformou em seu trabalho de vida. E é com orgulho do pai que vê o filho dar os primeiros passos que Luskin fala sobre o Projeto Perdão, estudoque começou em 1996, em parceria com a Universidade de Stanford, onde leciona.

Durante dois anos, ele analisou os sentimentos de 200 voluntários,dispostos a compreender como apaziguar a raiva e diluir a mágoa. O resultado do trabalho foi publicado no livro O Poder do Perdão (ed. Novo Paradigma).

Nele, Luskin mostra como o rancor pode desaparecer e como o perdão ajuda o corpo a florescer: diminui efeitos negativos do estresse, melhorarelacionamentos e traz paz interior. A seguir, ele nos dá as pistas dessajornada.Bons Fluidos - O que é essencialmente perdoar?Fred Luskin - É a habilidade de promover a paz interior quando as coisas em sua vida não estão caminhando da forma como você gostaria. Ou a habilidade de reagir e trazer para si o que você considera certo: amor, honestidade, atenção, saúde. E isso você consegue quando aprende a não alimentar raiva e rancor. Para praticar no dia-a-dia, é preciso ter atitudes como não levar tudo para o lado pessoal, parar de culpar o outro pelo que está sentindo e sair do papel de vítima.

BF - Por que perdoar ajuda a melhorar a saúde?
FL - Em minha pesquisa, quando conversava com os voluntários sobre o que lhes causou a mágoa, os sinais que o corpo dava mostravam o quanto aquele sentimento fazia mal. O coração ficava acelerado, as mãos, frias, começavam a suar e a respiração se tornava rápida. Isso acontece porque, toda vez que você pensa no que o magoou, seu corpo libera substâncias tóxicas, que vão minando as defesas do organismo, abrindo caminho para todo tipo de doença.

Além disso, guardar ressentimentos cria uma espécie de paralisia, umasensação de estar sem saída, inábil para lidar com seus problemas. O que estressa ainda mais. Quando você perdoa, pára de alimentar todos esses efeitos nocivos.
BF - Quem tem mais facilidade de perdoar: homens ou mulheres?
FL - Quando colocamos anúncios para chamar voluntários para participar das pesquisas ou quando fazemos workshops, a procura feminina é maior. Talvez isso aconteça porque as mulheres estão mais abertas a lidar com suas emoções. Desde pequenas estão mais acostumadas a verbalizar o que sentem. No entanto, nossos dados nos mostram que quase não existe diferença, entre os sexos, na capacidade de perdoar ou em quão complacentes eles podem ser. A mesma relação existe com a raiva. Homens e mulheres são capazes de sentir raiva um do outro na mesma intensidade.
BF - O tipo de personalidade influencia a capacidade de perdoar?FL - Sim, mas qualquer pessoa pode aprender a perdoar. As que são duras consigo mesmas ou muito egoístas têm mais dificuldade de liberar mágoas. Isso acontece porque elas se colocam como o centro do Universo e tendem a esquecer que coisas dolorosas acontecem com todo mundo e são superáveis.

BF - E o que isso causa?
FL - Quando você não perdoa, é como se estivesse se envenenando. São muitos sentimentos misturados, como mágoa, rancor, raiva, o oposto à paz. Na rotina, isso se traduz em nervosismo, melancolia e amargura. Algumas pessoas perdem até a capacidade de confiar em si mesmas e nos outros. E há aquelas que conseguem ter todos esses efeitos negativos, bloqueando as sensações boas e dificultando o perdão.

BF - É possível perdoar qualquer tipo de agressão?
FL - Já encontrei pessoas que foram capazes de perdoar o assassinato de um filho ou o roubo de todo seu patrimônio. Ao mesmo tempo, deparei com quem não consegue perdoar coisas quase insignificantes, como um atraso ou a bronca de um chefe. É uma capacidade individual, mas é claro que é preciso maior esforço emocional e mais tempo quanto pior for a dor.
BF - Quais as situações mais difíceis de perdoar?
FL - Traição e abuso de parentes, sexual ou de violência, como pais queespancam os filhos.
BF - Crer em Deus ou ter uma prática espiritual ajuda nesse processo?
FL - Se você, diariamente, orar, meditar, refletir, conversar ou seguir ospreceitos de algum líder espiritual, isso com certeza ajuda. Apenas ter umareligião, mas não acreditar com fé, ou ir a uma cerimônia religiosa nãocostuma ser suficiente para gerar mudanças internas. Constatamos que pessoas religiosas têm mais facilidade para perdoar porque se preocupam em agir de acordo com suas crenças, principalmente as que pregam a paz e a bondade. Até mesmo acreditar que algo aconteceu porque, de alguma forma, esse Deus quer mostrar um caminho é uma forma de tornar o perdão mais fácil. Isso só não acontece quando você acredita que Deus quer puni-lo. Esse pensamento afasta a possibilidade de perdoar.

BF - Algumas pessoas acreditam que o câncer é resultado da mágoa. Isso é possível?
FL - Eu não acredito que a tristeza tenha força para causar câncer. Mas em algumas circunstâncias pode fazer toda a diferença. Isso acontece porque a inabilidade de curar uma ferida emocional a mantém viva, o que tem efeito negativo no sistema imunológico ao longo dos anos. A maneira como você lida com seus sentimentos (sejam quais forem) pode curar ou machucar cada vez mais.
BF - Quem perdoa vive melhor?
FL - Dou cursos e palestras de como perdoar por todo país. Percebo que o perdão ajuda as pessoas a se sentirem melhores emocional e fisicamente. Elas se aproximam e buscam mais apoio na família e nos amigos. Acredito que, ao mostrar os caminhos que levam ao perdão, a superação das dificuldades comuns do dia-a-dia são mais fáceis, ficam mais abertas para os outros e para novas experiências. Num dos estudos que fiz na Universidade de Stanford, com jovens que tinham problemas relacionados a algum tipo de mágoa, após aprenderem a perdoar (veja quadro ao lado), 70% deles afirmaram que se libertaram desse sentimento e 20% tiveram uma redução da raiva. Sem mágoa no coração.

O doutor Fred Luskin indica atitudes para exercitar o perdão. Mesmo que você não consiga resultados imediatos, não deixe de tentar.* Comprometa-se a fazer o que te faz sentir bem. Se caminhar melhora seu humor, saia para andar todos os dias.* Perdão não quer dizer reconciliar-se com quem o magoou. Perdoar é ter paz interior. Como fazer isso? Não supervalorize sua mágoa. E comece a perceber ,o alto custo emocional (e físico) que você tem ao carregá-la no peito.* Exercite o perdão com as pequenas coisas. Quando estiver no trânsito e levar uma fechada, tente não sentir raiva. Ao discutir com alguém, em vez de ficar louco da vida, pense também nas razões pelas quais vocês brigaram. Em situações como essas, respire, reflita e evite ser dominado por emoções ruins. Isso ajuda a exercitar o perdão.* Para diminuir o ressentimento e a tristeza, procure uma técnica de combate à tensão: ginástica, ioga, caminhada, passeios ao ar livre.* Quando alguém chateá-lo ou você lembrar de algo que te magoou, preste atenção nos sinais de seu corpo. Se o coração bater acelerado e as mãos ficarem frias, faça duas respirações profundas, concentrando o ar no abdômen. Depois lembre-se de algo positivo e bom em sua vida.* Tenha em mente que uma vida bem vivida, com leveza e alegria, pode ser o melhor prêmio. Em vez de focar sua atenção nas feridas, e dar força a elas, aprenda a olhar as coisas boas a seu redor.
Fonte: Revista bons fluidos

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