sexta-feira, 10 de julho de 2009

O DEVIR PSICOLÓGICO

O devir psicológico Por largo tempo houve uma preocupação, na área psico­lógica, para encontrar-se as raízes dos problemas do homem, o seu passado próximo — vida pré-natal, infância e juventude a fim de os eqüacionar. A grande e contínua busca produzia, não raro, um deses­perado anseio para a compreensão dos fenômenos castrado­res e restritivos da existência, no dealbar dela mesma. Interpretações apressadas, comumente, tentavam liberar os pacientes dos seus conflitos, atirando as responsabilida­des da sua gênese aos pais desequipados, uns superproteto­res, outros agressivos, que, na sua ignorância afetiva, desen­cadeavam os complexos variados e tormentosos. Tratava-se de uma forma simplista de desviar o problema de uma para outra área, sem a real superação ou equação do mesmo. Os pacientes, esclarecidos indevidamente, adquiriam res­sentimentos contra os responsáveis aparentes pelas suas afli­ções, transferindo-se de postura patológica. Em reação, na busca do que passavam a considerar como liberdade, inde­pendência daqueles agentes castradores, inibidores, faziam-se bulhentos, assumindo atitudes desafiadoras, na suposição de que esta seria uma forma de afirmação da personalidade, de auto-realização. E o ressentimento inicial contra os pais, os familiares e educadores crescia, transferindo-se, automa­ticamente, para a sociedade como um todo. A conscientização dos fenômenos neuróticos não deve engendrar vítimas novas, contra as quais sejam atiradas todas as responsabilidades. Isto impede o amadurecimento psico­lógico do paciente, que assume uma posição injusta de de­serdado da sociedade, aí se refugiando para justificar todos os seus insucessos. Sem dúvida, desde o momento da vida extra-uterina, há um grande choque na formação psicológica do bebê, ao qual se adicionam outros inumeráveis, decorrentes da educação deficiente no lar e no grupamento social. O mundo, com as suas complexidades estabelecidas e para ele impenetráveis, apresenta-se agressivo e odiento, exigin­do-lhe alto suprimento de habilidades para escapar-lhe ao que considera suas ciladas. Nessas circunstâncias adversas para a formação psicoló­gica do homem, devemos convir que as suas causas prece­dem a existências anteriores, que formaram as estruturas da individualidade ora reencarnada, responsáveis pelas resistên­cias ou fragilidades dos componentes emocionais. No mes­mo clã e sob as mesmas condições, as pessoas as enfrentam de forma diversa, desvelando, nas suas reações, a constitui­ção de cada uma, que antecede ao fenômeno da concepção fetal.A moderna visão psicológica, embora respeitando as in­junções do passado atual, busca desenvolver as possibilida­des latentes do homem, o seu vir-a-ser, centralizando a sua interpretação nos seus recursos inexplorados. Há, nele, todo um universo a conquistar e ampliar, liberando as inibições e conflitos, diante dos novos desafios que acenam com a auto-realização e o amadurecimento íntimo. De etapa a etapa, ele avança conquistando as terras no­vas da vida e da experiência, que se sobrepõem aos alicerces fragmentários da infância, substituindo-os vagarosamente. O devir psicológico é mais importante do que o seu pas­sado nebuloso, que o sol da razão consciente se encarregara de clarear, sem ilhas de sombra doentia na personalidade. Extraordinariamente, em alguns casos de psicoses e neu­roses, de dificuldades no inter-relacionamento pessoal, de inibições sexuais e frustrações, pode-se recorrer a uma via­gem consciente ao passado, a fim de encontrar-se a matriz cármica e aplicar-lhe a terapia especializada, capaz de cons­cientizar o paciente e ajudá-lo na superação do fator pertur­bante. Mesmo assim, a experiência terapêutica exige os re­cursos técnicos e as pessoas especializadas para o tentame, evitando-se apressadas conclusões falsas e o mergulho em climas obsessivos que impõem mais cuidadosa análise e tra­tamento adequado. A questão, pela sua gravidade, exige siso e cuidados es­peciais. A nova psicologia profunda pretende desvendar as incóg­nitas das várias patologias que afetam o comportamento psi­cológico do homem, utilizando-se de uma nova linguagem e desenvolvendo os recursos da sua evolução ainda não exco­gitados. Por enquanto, o indivíduo não se conhece, apresentando-se como se fora uma máquina com as suas complicadas fun­ções, que busca automatizar. É indispensável, assim, que tome consciência de si. o que lhe independe da inteligência, da atividade de natureza men­tal. A consciência expressa-se em uma atitude perante a vida, um desvendar de si mesmo, de quem se é, de onde se encon­tra, analisando, depois, o que se sabe e quanto se ignora, equi­pando-se de lucidez que não permite mecanismos de evasão da realidade. Não finge que sabe, quando ignora; tampouco aparenta desconhecer, se sabe. Trata-se, portanto, de uma to­mada de conhecimento lógico. Esses momentos de consciência impõem exercício, até que sejam aceitos como natural manifestação de comporta­mento. Para tanto, devem ser considerados os diversos crité­rios de duração, de freqüência e de largueza, como de discer­nimento.Por quanto tempo se permanece consciente, em estado de identificação? Quantas vezes o fenômeno se repete e de que o indivíduo está consciente? Factível estabelecer-se uma programação saudável. No painel existencial, no qual nada é fixo e tudo muda, torna-se inadiável a busca da consciência atual sem as fixa­ções do passado, de modo a multiplicar os estímulos para o futuro que chegará. Destaca-se aí, a necessidade do equilíbrio, que segundo Pedro Ouspenski, é “como aprender a nadar”. A dificuldade inicial cede então lugar à realização plena. O homem amargurado, que se faz vítima dos conflitos, deve aprender a resolver os desafios do momento, despreo­cupando-se das ocorrências traumáticas e gerando novas opor­tunidades. As suas propostas para amanhã começam agora, não aguardando que o tempo chegue, porque é ele quem pas­sará pelas horas e chegará àquela dimensão a que denomina futuro. A estrutura psicológica social — soma de todas as experi­ências culturais, históricas, políticas, religiosas — exerce uma função compressiva no comportamento do homem, que se deve libertar mediante o amadurecimento pessoal, que elimi­na o medo, a ira, a ambição, característicos das heranças atá­vicas, e se programa dentro das próprias possibilidades inex­ploradas. A consciência do vir-a-ser proporciona uma mente aber­ta, com capacidade para considerar com clareza e saúde to­dos os fatos da existência, comportando-se de maneira tran­qüila, com possibilidades de conquistar o infinito.

Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, do livro O Homem Integral

Mensagem enviada pelo amigo Jaime Khoury/BA - Plantão da Paz

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