quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CONTINUANDO SOBRE A GÊNESE

DESLIENS EXPLICA O QUE ACONTECEU COM "A GÊNESE"



Na última matéria, tratamos de uma questão referente às diferenças de edições de A Gênese na época de Kardec. Estou publicando agora a tradução de um artigo de 1885 em resposta ao texto que saiu na revista "Le Spiritisme", assinado por Henri Sausse, intitulado "Uma Infâmia". Há um outro texto anterior a este que dá detalhes sobre a pesquisa feita por Desliens junto aos responsáveis pela montagem das placas de letras soltas pela sua transformação em placas permanentes de impressão. Quem quiser ler em francês, este outro texto está na Revue Spirite, 1884, Nº 24, 15 dezembro, pp. 753.






Paris , 1º de março de 1885.
Senhores membros do conselho de fiscalização da Sociedade Científica de Espiritismo.
Tendo sido eu o secretário de Allan Kardec até a sua morte, muitos espíritas buscaram as minhas lembranças para constatarem se o Sr. Allan Kardec teria introduzido modificações na primeira edição de A Gênese segundo o Espiritismo; eu vos peço que insiram esta resposta nas demandas que me foram feitas pois ela é a expressão da verdade.
Devo vos confessar, antes de tudo, que, ainda que as minhas convicções continuem inalteradas em me atendo ao credo de nosso mestre (refere-se a Allan Kardec), não tenho sido militante da vida espírita há quatorze anos. Isto colocado , eis aqui algumas palavras que posso afirmar:
A primeira tiragem de A Gênese, dividida em três edições, segundo o costume, foi editada pela livraria A . Lacroix, Verboeckhoven e Cia, no Boulevard Montmartre, 15, vindo a público em 1o de janeiro de 1868.
No correr deste ano de 1868, os editores faliram e o que restou da primeira tiragem ficou naturalmente perdida para Allan Kardec. O que aliás propiciou o acordo feito com o Sr. Bittard, nesta época empregado da livraria Lacroix, que o mestre ali estabeleceria as bases para a fundação de uma livraria especial para a publicação e a venda das obras sobre o Espiritismo. Este projeto começava apenas a ser executado quando a morte o surpreendeu, no dia mesmo da abertura da livraria espírita, na rua de Lille , 7.
Antes mesmo de ter se esgotado a primeira tiragem de A Gênese, Allan Kardec autorizou uma nova publicação em 1868, que são as 4a, 5a e 6a edições, o que os impressores Rouge, Dusnon e Fraisné podem confirmar como sendo esta a matriz que serviu para as edições publicadas de 1869 a 1871 e em diante.
As modificações que foram introduzidas nesta nova edição são, evidentemente, as que se tornaram objeto de polêmica.
O que posso afirmar , da maneira mais nítida e clara possível ,é que até o mês de junho de 1871, a Sociedade Anônima de Espiritismo, seguia sendo administrada pelos Senhores Bittard, Tailleur e eu; e que o Sr. Leymarie esteve completamente alheio à redação da Revista , bem como na reimpressão de qualquer das edições. Posso afirmar, igualmente, que neste período, de 1o de abril de 1869 a 1o de junho de 1871, nenhuma modificação foi introduzida na redação de A Gênese e que a sua última edição datada de 1868, é semelhante, exatamente àquela da primeira tiragem realizada pelo mestre.
Todos sabem que a impressão de uma obra se faz através de letras avulsas, reunidas em formas que por sua vez constituem as páginas. Se a obra não tem futuro está destinada a uma única edição e a composição é destruída imediatamente após a impressão servindo as letras para novas obras. Mas se se trata de um livro importante e de onde o autor espera retirar um certo número de edições, as formas são conservadas durante um certo tempo para permitir a introdução, no texto original, de todas as modificações julgadas necessárias a uma edição definitiva.
Uma vez o texto revisto e corrigido, sua impressão é definida; (foi o que fez Allan Kardec com A Gênese) e em seguida destroem–se as letras soltas (placa provisória). O que se ignora em geral é a diferença entre uma marca , um relevo e um clichê (matriz da placa).O relevo não serve para a impressão, é como um molde, uma forma que conserva as marcas das letras e estas não podem ser reproduzidas senão através da sua fonte (clichê).
Isto é o que pode explicar como, as impressões tendo sido realizadas em 1868, seus clichês só foram fundidos em 1883. Se fontes parciais foram feitas neste intervalo, foram sem duvida destinadas a uma publicação à parte, em brochuras especiais, extraídas de certos capítulos da obra. Ora, se estas impressões foram feitas em 1868, estando vivo Allan Kardec, é incontestável que o mestre, e somente ele, pode introduzir as mudanças que existem nas edições realizadas posteriormente, utilizando–se dos clichês anteriormente fundidos .E saiba-se que o mestre pagou pelas placas matrizes a seus impressores.
Possa esta curta explicação ser suficiente para eliminar toda causa de desunião a família espírita.
Lembremo-nos dos preceitos de nossos mestres:
“Amemo-nos uns aos outros. Fora da caridade não há salvação.”
A. Desliens

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