Por Manoel Trajano
Quando conhecemos alguém e nos enamoramos vem toda uma fase de encantamento,felicidade,flutuação, perda da noção de tempo,espaço e razão em que só nós não percebemos o abobalhamento a que nos sujeitamos ao tempo em que ficamos cegos,surdos e insensíveis ao mundo periférico além do limite de nosso prórprio corpo. Parece que a aura se contrai,reduz seu raio de ação na direção do outro.
Essa fase da paixão propriamente dita,perfeitamente natural no mundo racional e animal chega de surpresa e nos arrebata. Sentimos isso fisiologicamente a flor da pele e nada nos incomoda a não ser a falta que o outro faz. Alguns mais céticos a consideram como doentia. Discordo totalmente pois se um dia se comprovar isso,quero ficar doente por um bom tempo porque é muito bom curtir essa imaturidade do relacionamento,esse engatinhar que toca,cheira,ouve e vê com os olhos do corpo físico,mas de nada há doentio nisso. É viver intensamente os momentos iniciais daquele estágio que naturalmente vai amadurecer(ou não). Para tanto,saiamos da fase da projeção e da idealização e entremos na fase da introspecção,do se conhecer para dar e a partir daí,receber e não o contrário que é o erro da grande maioria que dá errado. Só queremos que o outro ceda e que nos dê e nada em nós queremos mexer,pois senão será um sacrifíco e não estamos dispostos a abrir mão e a compartilhar.Grande erro.
Essa fase é atemporal. Pode durar 1 mês,1 anos mas não dura mais do que 3 anos em média(por experiência pessoal,de amigos e colegas e leitura).Mas não fiquemos triste,pois passando essa fase(e não podemos queimar etapas) vem o amadurecimento através do amor e com ele a parceria sólida,a cumplicidade,a fraternidade,a sapiência na tolerância,daquele saber ouvir ou ignorar sem devolver e sim,compreender,enfim avançar dia após dia com carinho e atenção.Diálogo é tudo de bom e importante não apenas nas palavras mas no tom. Aceitemos que as diferenças são normais e que enriquecem a relação e quando nos damos conta disso,as brigas tendem a diminuir e discutir é normal e de preferência cada vez menos.Agredir verbal e/ou fisicamente é sinal do limite.
Um tapinha fora do sexo e que seja fora do bumbum dói sim e vai ser o primeiro de muitos,pois o grande erro da maioria da mulheres,as maiores vítimas é achar que ele vai melhorar e que resolve por si só. Violência é que nem Maconha,o primeiro tapa é o início do vício,ou seja o primeiro contato abre a chancela,porque na mente do homem ela vai aceitar aquilo e relevar,sempre. Não deixe,mulher,chegar a esse primeiro contato físico.Tapinha só no carinho do sexo e de preferência pedindo. Sado-masoquismo jamais porque já úma parafilia séria.
Amor não tem hora para acontecer,nem paixão e principalmente os dois ao mesmo tempo. Como assim? Sabemos que há varios tipos de amor,sejam eles fraternos,maternos,paternos e o que estamos abordando aqui:o de casal. Podemos amar várias pessoas em nossas vidas e as vezes pode acontecer de ao mesmo tempo. Por que não? E amar alguém e se apaixonar por alguém,ao mesmo tempo ou longo tempo ou vice versa? Não controlamos o coração nem nossos desejos sexuais,nossos impulsos internos,mas o que fazemos é reprimir e se adequar aos moldes da família,da sociedade e ficamos diante da dicotomia certo-errado ou ruim-bom e nos castramos piscologica,emocional e fisicamente. Preste atenção, não estamos falando de liberação inconsequente e irrestrita e ignorar nossa inserção na sociedade e nossa cultura,mas estou me referindo ao simples fato de aceitarmos dentro de nós,nossos anseios,fantasias,manifestações que são nossa privacidade,não precisa sair compartilhando com ninguém,mesmo nossos parceiros. E é nesse ponto que talvez muitas pessoas se cobram,se martirizam,se anulam,sofrem e o pior de tudo,se obsediam(a pior de todas as obsesões,a si própria).
Nesse momento de conflitos vale recorrer talvez a ela,momentaneamente,nossa grande amiga solidão que nada tem de ruim e nos ensina tanto no cantinho do nosso quarto,andando na praia e meditando,fazendo nossa corrida na orla ou malhando. Ela é nossa conversa com nosso mundo interior e quando nos escutamos pelo silêncio que fazemos e que também é uma prece.
E nessa reflexão na solidão de seu mundo íntimo,pare e pense e aceite sua realidade. Se gostar de alguém e começar a gostar de outra pessoa,escolha o caminho da razão e do bomsenso,mas não represe,não reprima porque um dia estoura e aí talvez venha a dor,mas não alimente o que não tem futuro,respeite seus sentimentos e o do outro,ou dos outros. Esse consumismo interno,corroído pela angústia gerado por padrões prestabelecidos de pecado,conceitos e tabus deve ser extirpado de nós como um mal que se enraizou.
"Se esse amor,ficar entre nós,vai ser tão bom amor,vai se gastar(...)
O que é que eu quero se eu te privo que é a beleza de deitar(...)
Amor só dura em liberdade,o ciúme é só vaidade,como poderei te condenar(...)"
("A Maçã",Raul Seixas/Paulo Coelho - veja ela em http://letrasquemarcam.blogspot.com)
Quando ouvi pela primeira vez essa canção fiquei chocado,estarrecido mas com o tempo fui vendo que Raul Seixas tinha razão e assim como as Parábolas de Jesus(não estou comparando o conteúdo) devemos submeter a interpretação no nosso cotidiano. Sofremos muito por nos castrar psicologicamente frente a conservadorismos que quanto mais negamos mais ele fica em nós.Saibamos lidar com eles e sejamos felizes,revendo,vivendo,amando,sentindo....
Paz e luz para você!
Um comentário:
Olá Manoel, bom dia!
Parabéns pela corajosa escolha do tema e abordagem.
Falar de sexo e paixão, infelizmente ainda é carregado de alguns tabus e preconceitos.
Como diria Carlos D. de Andrade, 'amar só se aprende amando'.
Nesse aprendizado tantos abusos são cometidos em nome do amor, o sexo por sexo é um deles.
Abraços fraternos e muita paz.
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