A RELIGIÃO EGÍPCIA
A Religião do Egito de 4.400 a.C. até o Cristianismo.
Considerado pelo historiador grego Heródoto de Halicarnaso (484 – 424 a.C.) como o povo mais espiritualizado da antiguidade, os egípcios possuem registros de suas primeiras manifestações religiosas datadas de quatro a cinco mil anos antes de Cristo.
Inicialmente os egípcios praticavam, como a maior parte dos povos primitivos, o animismo (adoração à natureza), permanecendo neste estágio por milênios, até que por volta de 3.000 a.C. começaram a acontecer modificações que levaram, juntamente com a evolução da civilização, ao desenvolvimento de uma religião complexa e cheia de divindades, embora com alguns resquícios do animismo, visto que os deuses egípcios possuíam formas zooantropomórficas (parte homem, parte animal). Apenas na XVIII dinastia, Amenófis IV, tentou estabelecer o monoteísmo, adotando como deus único Áton, o sol. Mas o poderoso clero não aceitou a mudança e passa a combater o Faraó. E logo após a sua morte, o culto aos vários deuses retornou.
O próprio sistema político do Egito antigo e a vida cotidiana eram fortemente ligados à religião. Os egípcios consideravam que os menores detalhes de suas vida dependiam da vontade dos deuses. O Faraó, governante supremo da região do Nilo, era considerado um deus encarnado, e como tal era merecedor de todo o respeito e adoração. Esta associação fortaleceu o governo e o próprio Faraó.
A antiga religião do Egito era sectária, os templos, por serem lugares sagrados, eram proibidos ao povo e apenas o Faraó e os sacerdotes tinham acesso a ele o que criava diferenças entre a religião praticada pelo povo e pelas altas camadas religiosas. Isto levava a adoração de diferentes deuses, inclusive era comum que cada cidade tivesse o seu deus de preferência.
Uma das características mais importantes do culto egípcio era a preocupação com a imortalidade e com a vida futura. Os egípcios acreditavam que o homem era composto do corpo físico perecível (khat), da alma imortal (ba) e de uma personalidade abstrata (ka), que seria um corpo espiritual. Após a passagem pela vida na terra, que era um estado transitório, a alma (ba) ia para o mundo espiritual encontrar-se com Osíris, onde seria julgado de acordo com as suas ações, depois seria encaminhado para uma região de venturas, caso tivesse sido bom, ou para um local de sofrimentos caso tivesse levado uma vida de maldades. E posteriormente reencarnaria para nova experiência no mundo dos vivos.
Um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia e o mito de Osíris. Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra) e com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (principal atividade econômica do Egito antigo). Seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita, tornando ele a viver no céu. Hórus seu filho mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito. Esta lenda além de justificar a divindade dos Faraós, que são descendentes de Osíris, representa, através do retorno de Osíris a vida, a imortalidade da alma e a reencarnação.
Atualmente a antiga crença dos egípcios perdeu-se no tempo, a população daquele país hoje segue o islamismo, entretanto a contribuição legada por eles permanece. Através da sua grande preocupação com as questões espirituais e da vida além da morte deixaram muitos ensinamentos que, desenvolvidos por outras correntes religiosas, inspiram uma compreensão mais ampla da relação entre o homem e o mundo espiritual.
O Livro dos Mortos
Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4.400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3.800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte: o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.
O homem egípcio e sua conceituação
A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT, ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem, era CU e era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que, também, ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes pois se o nome for eliminado poder-se-á destruir o homem. Ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3.400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".
O julgamento da alma e a vida eterna
A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo porém os deuses, encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal !. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3.800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade.
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1.500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam.
A criação do Mundo conforme os egípcios
Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão. Nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3.800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1.370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, .........És Uno, .........Os homens te exaltam e juram por ti pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, ..........seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.
Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz
Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por Set, seu irmão, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus. Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos, onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Com o tempo ele passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos. Osíris se torna um deus nacional, igual, e em alguns casos maior que Rá. Nas XVIII e XIX (1.600 a.C.) dinastias, ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.
Deuses do Egito
A SIGNIFICAÇÃO DO MITO OSIRIANO
Este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como, sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento ardente do deserto (Sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas, para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também ressuscitado), para renascer em novas espigas... (FREITAS, G. de., op. cit. V. 1, p. 47/48).A lenda de Osíris, que conta a morte e ressurreição do deus, está intimamente ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter dados sobre a unificação do Sul e do Norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo e a origem do poder divino do Faraó.
O Faraó era a encarnação do deus e o sumo sacerdote, sendo o seu poder praticamente absoluto, porque exercido em nome do deus. Daí o Egito ser considerado uma monarquia despótica de origem divina. O templo egípcio, construído em pedra, não era um lugar à disposição do povo. Era a habitação privativa da divindade, ao qual somente o Faraó e os sacerdotes tinham acesso.
O culto diário consistia em preces, gestos consagrados, hinos e defumações de incenso, realizados pelos sacerdotes, como delegados do Faraó, em teoria o único habilitado a estabelecer a ligação entre os homens e os deuses. Pela manhã e à tarde, a porta do santuário localizada no interior do templo era aberta e a estátua do deus era reverenciada, lavada e vestida, recebendo oferendas de alimentos e bebidas. Em todos os santuários eram feitos os mesmos atos. Ao povo somente era permitido fazer suas oferendas e adorações na parte externa dos templos.
As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios, principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana. A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.
O EMBALSAMENTO DE RICO:
"Primeiro, com a ajuda de um ferro curvo, extraem o cérebro pelas narinas... Em seguida, com uma pedra cortante, fazem uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vinho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois, enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arômatas, com exceção do incenso e cosem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias... Lavam o corpo, enrolam-o todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola)... Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana... que guardam no interior de uma câmara funerária...
O EMBALSAMENTO DE POBRE:
Desinfetam os intestinos... metem-no no sal durante 70 dias; entregam o corpo. (Heródoto, in: FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano, 1975, v. 1, p. 49.Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de templos e pirâmides para perpetuar os Faraós, suas realizações e feitos, mesmo que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava, pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do Faraó (Senhor da Casa Grande) e marcando profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.
Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris. São eles:
NUN, é a divindade mais primitiva do panteão de Heliópolis. Personificava o abismo líquido ou as águas primordiais, a partir do qual todo o mundo foi criado; é a divindade mais velha e sábia de todas. Era representado como um homem barbado, com uma pena na cabeça e portando um cajado. É uma divindade bissexual e à vezes masculino. Nun gerou Atun ( o sol nascente ) e Re ou Rá ( o sol do meio dia ).
ATUN, Uma das manifestações do deus sol, especialmente ao entardecer, original de Heliópolis, era representado por um homem barbado usando a coroa dupla do faraó e menos freqüentemente, como uma serpente usando as duas coroas do Alto e do Baixo Egito. Era considerado o rei de todos os deuses, aquele que criou o universo. É o mesmo deus Rê ou Rá que gerou Shu o ar e Tefnut a umidade. Atun e Rê ou Rá, foram mais tarde unidos ao deus carneiro de Tebas Amon e ficou conhecido pelo nome de Amon-Rê ou Amon-Rá.
AMON, o deus-carneiro de Tebas, rei dos deuses e patrono dos faraós, ele é o senhor dos templos de Luxor e Karnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Passou a ser cultuado por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá, sob o nome de Amon-Rê ou Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem divina. Ele é o sol que dá vida ao país. À época de Ramsés III. Amon tornou-se um título monárquico, mesmo título que Ptah e Rá. Freqüentemente representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito, ele se manifesta, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.
RÁ ( ou Rê), o criador dos deuses e da ordem divina, recebeu de Nun seu pai (mãe) o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava completamente acabado. Rá se esforçou tanto para terminar o trabalho da criação que chorou. De suas lágrimas, que banharam o solo, surgiram os seres humanos, masculinos e femininos. Eles foram criados como os deuses e os animais e Rá tratou de fazê-los felizes, tudo o que crescia sobre os campos lhes foi dado para que se alimentassem, não deixava faltar o vento fresco, nem o calor do sol, as enchentes ou as vazantes do Nilo. Como era considerado o criador dos homens, os egípcios denominavam-se o "rebanho de Rá". O deus nacional do Egito, o maior de todos os deuses, criador do universo e fonte de toda a vida, era o Sol, objeto de adoração em qualquer lugar. A sede de seu culto ficava em Heliópolis, o mais antigo e próspero centro comercial do Baixo Egito. Na Quinta Dinastia Rá, o Deus-Sol de Heliópolis, tornou-se uma divindade do estado. Foi retratado pela arte egípcia sob muitas formas e denominações e era também representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda, mais raramente, por um homem. Quando representado por uma cabeça de falcão estabelecia-se uma identidade com Hórus, outro deus solar adorado em várias partes do país desde tempos remotos.
SHU, é o deus do ar e da luz, personificação da atmosfera diurna que sustenta o céu. Tem a tarefa de trazer Rá, o deus Sol, seu pai, e o faraó à vida no começo de cada dia. É representado por um homem barbado usando na cabeça uma pena simples ou quatro longas plumas. É a essência da condição seca, do gênero masculino, calor, luz e perfeição. Aparece frequentemente nas pinturas, como um homem segurando Nut, a deusa do céu, para separá-la de Geb, o deus da Terra. Com Tefnut, sua esposa, formava o primeiro par de divindades da enéade de Heliópolis. Era associado ao Leão.
TEFNUT, considerada a deusa da umidade vivificante, que espera o sol libertar-se do horizonte leste para recebê-lo e não há seca por onde Tefnut passa. A deusa é irmã e mulher de Shu. É o símbolo das dádivas e da generosidade. Ela é retratada como uma mulher com a cabeça de uma leoa, indicando poder. Shu afasta a fome dos mortos, enquanto Tefnut afasta a sede. Shu e Tefnut são os pais de Geb e Nut.
NUT, deusa do céu que acolhe os mortos no seu império, é muitas vezes representada sob a forma de uma vaca. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Nut e Geb são pais de Osiris, Isis, Seth, Néftis e Hathor. Osiris e Isis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth, logo ficou evidente, quando ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.
GEB, o deus da Terra é irmão e marido de Nut. É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Ele estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça.
ÍSIS, é a mais popular de todas as deusas egípcias, considerada a deusa da família, o modelo de esposa e mãe, invencível e protetora. Usa os poderes da magia para ajudar os necessitados. Ela criou o rio Nilo com as suas lágrimas. Conta a lenda que, após a morte de Osíris, ela transforma-se em um milhafre para chorá-lo, reúne os pedaços de seus despojos, se empenha em reanima-lo e dele concebe um filho, Horus. Ela defende com unhas e dentes seu rebento contra as agressões de seu tio Seth. Perfeita esposa e mãe ela é um dos pilares da coesão sócio-religiosa egípcia. Usa na cabeça um assento com espaldar (trono) que é o hieróglifo de seu nome.
SETH, personifica a ambição e o mal. Considerado o deus da guerra e Senhor do Alto Egito durante o domínio dos Hicsos, tinha seu centro de culto na cidade de Ombos. Embora inicialmente fosse um deus benéfico, com o passar do tempo tornou-se a personificação do mal. Era representado por um homem com a cabeça de um tipo incerto de animal, parecido com um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda como Tífon, um animal imaginário formado por partes de diferentes seres, com a cabeça de um bode, orelhas grandes, como um burro. Associavam-no ao deserto aos trovões e às tempestades. Identificado com o lado negativo da lenda, a luta entre Osiris e Seth era a luta da terra fértil contra a areia do deserto.
NÉFTIS, é a esposa de Seth, mas quando este trai e assassina Osíris, por quem era apaixonada, ela permanece solidária à Isis, ajudando-a a reunir os membros espalhados do defunto e também tomando a forma de um milhafre para velá-lo e chorá-lo. Como Isis, ela protege os mortos, sarcófagos e um dos vasos canopos. O hieróglifo de seu nome é um cesto colocado sobre uma coluna, que usa na cabeça,. É ainda na campanha de Isis que ela acolhe o sol nascente e o defende contra a terrível serpente Apófis.
HÁTOR, personificação das forças benéficas do céu, depois de Isis, é a mais venerada das deusas. Distribuidora do amor e da alegria, deusa do céu e protetora das mulheres, nutriz do deus Hórus e do faraó, patrona do amor, da alegria, da dança e da música. Também é a protetora da necrópole de Tebas, que sai da falésia para acolher os mortos e velar os túmulos. Seu centro de culto era a cidade de Dendera, mas havia templos dessa divindade por toda parte. É representada na forma de uma mulher com chifres de vaca e disco solar na cabeça, uma mulher com cabeça de vaca ou por uma vaca que usava um disco solar e duas plumas entre os chifres. As vezes é retratada por um rosto de mulher visto de frente e provido de orelhas de vaca, a cabeleira separada em duas abas com as extremidades enroladas.
HÓRUS, filho de Isis e Osíris, Horus teve uma infância difícil, sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth que cobiçava o trono de seu pai Osiris. Após ter triunfado sobre Seth e as forças da desordem, ele toma posse do trono dos vivos; o faraó é sua manifestação na terra. Ele é representado como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, sempre usando as duas coroas do Alto e Baixo Egito. Na qualidade de deus do céu, Hórus é o falcão cujos olhos são o sol e a lua. Com o nome de "Horus do horizonte", assume uma das formas do sol, a que clareia a terra durante o dia. Mantenedor do universo e de todo tipo de vida, Horus era adorado em todo lugar. Ele é considerado o mais importante de todos os deuses, aquele que guia as almas até o Dwat ( Reino dos Mortos ).
ANÚBIS, filho de Seth e Néftis, é o mestre dos cemitérios e o patrono dos embalsamares. É na realidade o primeiro entre eles, a quem se deve o protótipo das múmias, a de Osíris. Todo egípcio esperava beneficiar-se em sua morte do mesmo tratamento e do mesmo renascimento desta primeira múmia. Anúbis também introduz os mortos no além e protege seus túmulos com a forma de um cão, vigilante, deitado em uma capela ou caixão. Anúbis era também associado ao chacal, animal que freqüentava as necrópoles e que tem por hábito desenterrar ossos, paradoxalmente representava para os egípcios a divindade considerada a guarda fiel dos túmulos. No reino dos mortos, era associado ao palácio de Osiris, na forma de um homem com cabeça de cão ou chacal, era o juiz que, após uma série de provas por que passava o defunto, dizia se este era justo e merecia ser bem recebido no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado por um terrível monstro, Amut. Anúbis tinha seu centro de culto em Cinópolis.
TOTH, divindade à qual era atribuída a revelação ao homem de quase todas as disciplinas intelectuais, a escrita, a aritmética, as ciências em geral e a magia. Era o deus-escriba e o deus letrado por excelência. Havia sido o inventor da escrita hieroglífica e era o escriba dos deuses; senhor da sabedoria e da magia. O que faz dele o patrono dos escribas que lhe endereçam uma prece antes de escrever. "Mestre das palavras divinas". Preside a medida do tempo, o disco na cabeça é a lua, cujas fases ritmam os dias e as noites. Representado como um íbis ou um homem com cabeça de íbis, ou ainda um babuíno.
MAÁT, esta deusa, que traz na cabeça uma pluma de avestruz, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa do senso de realidade. Filha de Rá e de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou. Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que ingressam no Dwat. Em sociedade, este respeito pelo equilíbrio implica na prática da equidade, verdade, justiça; no respeito às leis e aos indivíduos; e na consciência do fato que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido. É Maát, muito simbolicamente, que se oferece aos deuses nos templos. Protetora dos templos e tribunais.
PTAH, deus de Mênfis que foi a capital do Egito no Antigo Império, Ptah é "aquele que afeiçoou os deuses e fez os homens" e "que criou as artes". Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. Seu grande sacerdote chama-se "o superior dos artesãos". É, realmente, muito venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh. Apresenta-se com uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Tem como esposa a deusa Sekhmet e por filho Nefertum, o deus do nenúfar ( plantas aquáticas ).
SEKHMET, uma mulher com cabeça de leoa, encimada pelo disco solar, era uma de suas representações que, por sua vez, simbolizava os poderes destrutivos do Sol. Embora fosse uma leoa sanguinária, também operava curas e tinha um frágil corpo de moça. Era a deusa cruel da guerra e das batalhas e tanto causava quanto curava epidemias. Essa divindade feroz era adorada na cidade de Mênfis. Sua juba ( dizem os textos ) era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha a cor do sangue, seu rosto brilhava como o sol... o deserto ficava envolto em poeira, quando sua cauda o varria...
BASTET, uma gata ou uma mulher com cabeça de gata simbolizava a deusa Bastet e representava os poderes benéficos do Sol. Seu centro de culto era Bubástis, cujo nome em egípcio ( Per Bast ) significa a casa de Bastet. Em seu templo naquela cidade a deusa-gata era adorada desde o Antigo Império e suas efígies eram bastante numerosas, existindo, hoje, muitos exemplares delas pelo mundo. Quando os reis líbios da XXII dinastia fizeram de Bubástis sua capital, por volta de 944 a.C., o culto da deusa tornou-se particularmente desenvolvido.
KHNUM, um dos deuses relacionados com a criação era simbolizado por um carneiro, animal considerado excepcionalmente prolífico pelos egípcios. Segundo a lenda, o deus Khnum, um homem com cabeça de carneiro, era quem modelava, em seu forno de oleiro, os corpos dos deuses e, também, dos homens e mulheres, pois plasmava em sua roda todas as crianças ainda por nascer. Principal deus da Ilha Elefantina, localizada ao norte da primeira catarata do Nilo, onde as águas são alternadamente tranquilas e revoltas. Tem duas esposas Anuket (águas calmas) e Sati ( a inundação). Um dos velhos deuses cósmicos, é descrito como autor das coisas que são, origem das coisas criadas, pai dos pais e mãe das mães. Sua esposa Anuket ou Heqet, deusa com cabeça de rã, também era associada à criação e ao nascimento.
SEBEK, um crocodilo ou um homem com cabeça de crocodilo representavam essa divindade aliada do implacável deus Seth. O deus-crocodilo, era venerado em cidades que dependiam da água, como Crocodilópolis, seu centro de culto, na região do Faium, onde os sáurios eram criados em tanques e adornados com jóias, eram protegidos, nutridos e domesticados. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado. A adoração desse animal foi sobretudo importante durante o Médio Império.
TUÉRIS, (Taueret ) era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
KHEPRA, (escaravelho, em egípcio) ou um homem com um escaravelho no lugar da cabeça também representavam o deus-Sol. Nesse caso o besouro simbolizava o deus Khepra e sua função era nada menos que a de mover o Sol, como movia a bolazinha de excremento que empurrava pelos caminhos. Associados à idéia mitológica de ressurreição, os escaravelhos eram motivo freqüente das peças de ourivesaria encontradas nos túmulos egípcios.
ÁPIS, o boi sagrado que os antigos egípcios consideravam como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e que encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do boi Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos. Essa antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e sua força geradora.
BABUINO ou cinocéfalo é um grande macaco africano, cuja cabeça oferece alguma semelhança com os cães. No antigo Egito este animal estava associado ao deus Thoth, considerado o deus da escrita, do cálculo e das atividades intelectuais. Era o deus local em Hermópolis, principal cidade do Médio Egito. Deuses particularmente numerosos parecem ter se fundido no deus Thoth: deuses-serpentes, deuses-rãs, um deus-íbis, um deus-lua e este deus-macaco.
ÍBIS, uma ave pernalta de bico longo e recurvado. Existe uma espécie negra e outra de plumagem castanha com reflexos dourados, mas era o íbis branco, ou íbis sagrado, que era considerado pelos egípcios como encarnação do deus Thoth. Esta ave tem parte da cabeça e todo o pescoço desprovido de penas. Sua plumagem é branca, exceto a da cabeça, da extremidade das asas e da cauda, que é muito negra. Um homem com cabeça de íbis, era outra das representações daquele deus.
APÓFIS, a serpente que habitava o além-túmulo, representava as tempestades e as trevas. É descrita no chamado Livro de Him no Inferno, uma obra que narra a viagem do deus-Sol pelo reino das sombras durante a noite. Nessa jornada, enquanto visitava o reino dos mortos, a divindade lutava contra vários demônios que tentavam impedir sua passagem. As serpentes estavam entre os adversários mais perigosos e o demônio líder de todos eles era Apófis a grande serpente.
A mitologia egípcia inclui muitos deuses e deusas, entretanto, geralmente representam o mesmo conjunto de forças e arquétipos. O grupo acima descrito, resume de modo satisfatório o grande panorama da religião egípcia que perdurou durante milênios.
A religião egípcia pertence à classe dos cultos sem líderes. Akhenaten foi um gênio religioso e poderia ter conduzido seu povo ao monoteísmo, mas, de tal forma ultrapassara a índole de seu tempo, que seus ingentes esforços no sentido de estabelecer a crença em Aten deixaram impressão mínima na vida religiosa dos egípcios.
Os fatos da religião egípcia revelam quase nenhum progresso, dos primórdios da historia à conquista do Egito pelos romanos. Surpreende raça tão altamente evoluída na arquitetura, arte, literatura e mecânica, manter-se tão primitiva na religião.
A mais antiga religião egípcia de que temos noticia, remontando a quatro ou cinco mil anos antes de Cristo, é o animismo, com tendência para o politeísmo. Neste estágio permaneceu, praticamente, sem nenhum progresso, por milênios.
O animismo, gradativamente, cedera em tanto ao politeísmo, mas nos períodos posteriores da religião egípcia ainda encontramos a idolatria da natureza e elementos de fetichismo e magia. Os tão conhecidos deuses-animais do Egito representam o maior desenvolvimento da religião nas terras do Nilo.
O espírito de conservação era característico, e tão arraigado em sacerdotes e povos, que recebia, destes, fraco apoio a qualquer tendência para novas formas de religião. Como diz W. Max Müller ( "Religions of the Past and Present" Editado por James A. Montgomery, pág. 48.): "Não será demais insistir que todos os desvios do conservantismo reinante foram passos isolados e tímidos de um ou outro erudito mais avançado".
O fato de o maior número de relíquias dos egípcios primitivos consistir em túmulos e no que estes encerram, produziu em geral impressão popular de que os egípcios manifestavam grande interesse pela vida futura. Daí se conclui que os egípcios eram profundamente versados nos mistérios religiosos, o que não é exato. Durante longos períodos de tempo, diante dos quais a nossa civilização moderna parece evanecer, a religião das massas do Egito contava da espécie mais primitiva de idolatria da natureza. Os próprios sacerdotes não logravam acumular qualquer patrimônio de sabedoria religiosa a que possamos recorrer em nosso tempo. Mesmos os deuses que invocam, reputavam-nos falíveis, sujeitos ao sofrimento, e freqüentemente incapazes de atender aos rogos de seus fiéis. Acreditavam possuírem estes deuses "poderes pouco maiores do que pode esperar o povo com os recursos próprios da magia, da feiticeira"
Texto: Extraído do Site Luz Espírita
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From: Marluce Faustino
Date: 2009/11/22
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HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - PARTE III
A RELIGIÃO EGÍPCIA
A Religião do Egito de 4.400 a.C. até o Cristianismo.
Considerado pelo historiador grego Heródoto de Halicarnaso (484 – 424 a.C.) como o povo mais espiritualizado da antiguidade, os egípcios possuem registros de suas primeiras manifestações religiosas datadas de quatro a cinco mil anos antes de Cristo.
Inicialmente os egípcios praticavam, como a maior parte dos povos primitivos, o animismo (adoração à natureza), permanecendo neste estágio por milênios, até que por volta de 3.000 a.C. começaram a acontecer modificações que levaram, juntamente com a evolução da civilização, ao desenvolvimento de uma religião complexa e cheia de divindades, embora com alguns resquícios do animismo, visto que os deuses egípcios possuíam formas zooantropomórficas (parte homem, parte animal). Apenas na XVIII dinastia, Amenófis IV, tentou estabelecer o monoteísmo, adotando como deus único Áton, o sol. Mas o poderoso clero não aceitou a mudança e passa a combater o Faraó. E logo após a sua morte, o culto aos vários deuses retornou.
O próprio sistema político do Egito antigo e a vida cotidiana eram fortemente ligados à religião. Os egípcios consideravam que os menores detalhes de suas vida dependiam da vontade dos deuses. O Faraó, governante supremo da região do Nilo, era considerado um deus encarnado, e como tal era merecedor de todo o respeito e adoração. Esta associação fortaleceu o governo e o próprio Faraó.
A antiga religião do Egito era sectária, os templos, por serem lugares sagrados, eram proibidos ao povo e apenas o Faraó e os sacerdotes tinham acesso a ele o que criava diferenças entre a religião praticada pelo povo e pelas altas camadas religiosas. Isto levava a adoração de diferentes deuses, inclusive era comum que cada cidade tivesse o seu deus de preferência.
Uma das características mais importantes do culto egípcio era a preocupação com a imortalidade e com a vida futura. Os egípcios acreditavam que o homem era composto do corpo físico perecível (khat), da alma imortal (ba) e de uma personalidade abstrata (ka), que seria um corpo espiritual. Após a passagem pela vida na terra, que era um estado transitório, a alma (ba) ia para o mundo espiritual encontrar-se com Osíris, onde seria julgado de acordo com as suas ações, depois seria encaminhado para uma região de venturas, caso tivesse sido bom, ou para um local de sofrimentos caso tivesse levado uma vida de maldades. E posteriormente reencarnaria para nova experiência no mundo dos vivos.
Um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia e o mito de Osíris. Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra) e com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (principal atividade econômica do Egito antigo). Seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita, tornando ele a viver no céu. Hórus seu filho mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito. Esta lenda além de justificar a divindade dos Faraós, que são descendentes de Osíris, representa, através do retorno de Osíris a vida, a imortalidade da alma e a reencarnação.
Atualmente a antiga crença dos egípcios perdeu-se no tempo, a população daquele país hoje segue o islamismo, entretanto a contribuição legada por eles permanece. Através da sua grande preocupação com as questões espirituais e da vida além da morte deixaram muitos ensinamentos que, desenvolvidos por outras correntes religiosas, inspiram uma compreensão mais ampla da relação entre o homem e o mundo espiritual.
O Livro dos Mortos
Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4.400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3.800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte: o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.
O homem egípcio e sua conceituação
A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT, ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem, era CU e era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que, também, ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes pois se o nome for eliminado poder-se-á destruir o homem. Ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3.400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".
O julgamento da alma e a vida eterna
A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo porém os deuses, encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal !. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3.800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade.
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1.500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam.
A criação do Mundo conforme os egípcios
Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão. Nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3.800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1.370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, .........És Uno, .........Os homens te exaltam e juram por ti pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, ..........seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.
Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz
Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por Set, seu irmão, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus. Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos, onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Com o tempo ele passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos. Osíris se torna um deus nacional, igual, e em alguns casos maior que Rá. Nas XVIII e XIX (1.600 a.C.) dinastias, ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.
Deuses do Egito
A SIGNIFICAÇÃO DO MITO OSIRIANO
Este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como, sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento ardente do deserto (Sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas, para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também ressuscitado), para renascer em novas espigas... (FREITAS, G. de., op. cit. V. 1, p. 47/48).A lenda de Osíris, que conta a morte e ressurreição do deus, está intimamente ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter dados sobre a unificação do Sul e do Norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo e a origem do poder divino do Faraó.
O Faraó era a encarnação do deus e o sumo sacerdote, sendo o seu poder praticamente absoluto, porque exercido em nome do deus. Daí o Egito ser considerado uma monarquia despótica de origem divina. O templo egípcio, construído em pedra, não era um lugar à disposição do povo. Era a habitação privativa da divindade, ao qual somente o Faraó e os sacerdotes tinham acesso.
O culto diário consistia em preces, gestos consagrados, hinos e defumações de incenso, realizados pelos sacerdotes, como delegados do Faraó, em teoria o único habilitado a estabelecer a ligação entre os homens e os deuses. Pela manhã e à tarde, a porta do santuário localizada no interior do templo era aberta e a estátua do deus era reverenciada, lavada e vestida, recebendo oferendas de alimentos e bebidas. Em todos os santuários eram feitos os mesmos atos. Ao povo somente era permitido fazer suas oferendas e adorações na parte externa dos templos.
As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios, principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana. A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.
O EMBALSAMENTO DE RICO:
"Primeiro, com a ajuda de um ferro curvo, extraem o cérebro pelas narinas... Em seguida, com uma pedra cortante, fazem uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vinho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois, enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arômatas, com exceção do incenso e cosem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias... Lavam o corpo, enrolam-o todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola)... Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana... que guardam no interior de uma câmara funerária...
O EMBALSAMENTO DE POBRE:
Desinfetam os intestinos... metem-no no sal durante 70 dias; entregam o corpo. (Heródoto, in: FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano, 1975, v. 1, p. 49.Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de templos e pirâmides para perpetuar os Faraós, suas realizações e feitos, mesmo que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava, pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do Faraó (Senhor da Casa Grande) e marcando profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.
Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris. São eles:
NUN, é a divindade mais primitiva do panteão de Heliópolis. Personificava o abismo líquido ou as águas primordiais, a partir do qual todo o mundo foi criado; é a divindade mais velha e sábia de todas. Era representado como um homem barbado, com uma pena na cabeça e portando um cajado. É uma divindade bissexual e à vezes masculino. Nun gerou Atun ( o sol nascente ) e Re ou Rá ( o sol do meio dia ).
ATUN, Uma das manifestações do deus sol, especialmente ao entardecer, original de Heliópolis, era representado por um homem barbado usando a coroa dupla do faraó e menos freqüentemente, como uma serpente usando as duas coroas do Alto e do Baixo Egito. Era considerado o rei de todos os deuses, aquele que criou o universo. É o mesmo deus Rê ou Rá que gerou Shu o ar e Tefnut a umidade. Atun e Rê ou Rá, foram mais tarde unidos ao deus carneiro de Tebas Amon e ficou conhecido pelo nome de Amon-Rê ou Amon-Rá.
AMON, o deus-carneiro de Tebas, rei dos deuses e patrono dos faraós, ele é o senhor dos templos de Luxor e Karnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Passou a ser cultuado por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá, sob o nome de Amon-Rê ou Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem divina. Ele é o sol que dá vida ao país. À época de Ramsés III. Amon tornou-se um título monárquico, mesmo título que Ptah e Rá. Freqüentemente representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito, ele se manifesta, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.
RÁ ( ou Rê), o criador dos deuses e da ordem divina, recebeu de Nun seu pai (mãe) o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava completamente acabado. Rá se esforçou tanto para terminar o trabalho da criação que chorou. De suas lágrimas, que banharam o solo, surgiram os seres humanos, masculinos e femininos. Eles foram criados como os deuses e os animais e Rá tratou de fazê-los felizes, tudo o que crescia sobre os campos lhes foi dado para que se alimentassem, não deixava faltar o vento fresco, nem o calor do sol, as enchentes ou as vazantes do Nilo. Como era considerado o criador dos homens, os egípcios denominavam-se o "rebanho de Rá". O deus nacional do Egito, o maior de todos os deuses, criador do universo e fonte de toda a vida, era o Sol, objeto de adoração em qualquer lugar. A sede de seu culto ficava em Heliópolis, o mais antigo e próspero centro comercial do Baixo Egito. Na Quinta Dinastia Rá, o Deus-Sol de Heliópolis, tornou-se uma divindade do estado. Foi retratado pela arte egípcia sob muitas formas e denominações e era também representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda, mais raramente, por um homem. Quando representado por uma cabeça de falcão estabelecia-se uma identidade com Hórus, outro deus solar adorado em várias partes do país desde tempos remotos.
SHU, é o deus do ar e da luz, personificação da atmosfera diurna que sustenta o céu. Tem a tarefa de trazer Rá, o deus Sol, seu pai, e o faraó à vida no começo de cada dia. É representado por um homem barbado usando na cabeça uma pena simples ou quatro longas plumas. É a essência da condição seca, do gênero masculino, calor, luz e perfeição. Aparece frequentemente nas pinturas, como um homem segurando Nut, a deusa do céu, para separá-la de Geb, o deus da Terra. Com Tefnut, sua esposa, formava o primeiro par de divindades da enéade de Heliópolis. Era associado ao Leão.
TEFNUT, considerada a deusa da umidade vivificante, que espera o sol libertar-se do horizonte leste para recebê-lo e não há seca por onde Tefnut passa. A deusa é irmã e mulher de Shu. É o símbolo das dádivas e da generosidade. Ela é retratada como uma mulher com a cabeça de uma leoa, indicando poder. Shu afasta a fome dos mortos, enquanto Tefnut afasta a sede. Shu e Tefnut são os pais de Geb e Nut.
NUT, deusa do céu que acolhe os mortos no seu império, é muitas vezes representada sob a forma de uma vaca. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Nut e Geb são pais de Osiris, Isis, Seth, Néftis e Hathor. Osiris e Isis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth, logo ficou evidente, quando ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.
GEB, o deus da Terra é irmão e marido de Nut. É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Ele estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça.
ÍSIS, é a mais popular de todas as deusas egípcias, considerada a deusa da família, o modelo de esposa e mãe, invencível e protetora. Usa os poderes da magia para ajudar os necessitados. Ela criou o rio Nilo com as suas lágrimas. Conta a lenda que, após a morte de Osíris, ela transforma-se em um milhafre para chorá-lo, reúne os pedaços de seus despojos, se empenha em reanima-lo e dele concebe um filho, Horus. Ela defende com unhas e dentes seu rebento contra as agressões de seu tio Seth. Perfeita esposa e mãe ela é um dos pilares da coesão sócio-religiosa egípcia. Usa na cabeça um assento com espaldar (trono) que é o hieróglifo de seu nome.
SETH, personifica a ambição e o mal. Considerado o deus da guerra e Senhor do Alto Egito durante o domínio dos Hicsos, tinha seu centro de culto na cidade de Ombos. Embora inicialmente fosse um deus benéfico, com o passar do tempo tornou-se a personificação do mal. Era representado por um homem com a cabeça de um tipo incerto de animal, parecido com um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda como Tífon, um animal imaginário formado por partes de diferentes seres, com a cabeça de um bode, orelhas grandes, como um burro. Associavam-no ao deserto aos trovões e às tempestades. Identificado com o lado negativo da lenda, a luta entre Osiris e Seth era a luta da terra fértil contra a areia do deserto.
NÉFTIS, é a esposa de Seth, mas quando este trai e assassina Osíris, por quem era apaixonada, ela permanece solidária à Isis, ajudando-a a reunir os membros espalhados do defunto e também tomando a forma de um milhafre para velá-lo e chorá-lo. Como Isis, ela protege os mortos, sarcófagos e um dos vasos canopos. O hieróglifo de seu nome é um cesto colocado sobre uma coluna, que usa na cabeça,. É ainda na campanha de Isis que ela acolhe o sol nascente e o defende contra a terrível serpente Apófis.
HÁTOR, personificação das forças benéficas do céu, depois de Isis, é a mais venerada das deusas. Distribuidora do amor e da alegria, deusa do céu e protetora das mulheres, nutriz do deus Hórus e do faraó, patrona do amor, da alegria, da dança e da música. Também é a protetora da necrópole de Tebas, que sai da falésia para acolher os mortos e velar os túmulos. Seu centro de culto era a cidade de Dendera, mas havia templos dessa divindade por toda parte. É representada na forma de uma mulher com chifres de vaca e disco solar na cabeça, uma mulher com cabeça de vaca ou por uma vaca que usava um disco solar e duas plumas entre os chifres. As vezes é retratada por um rosto de mulher visto de frente e provido de orelhas de vaca, a cabeleira separada em duas abas com as extremidades enroladas.
HÓRUS, filho de Isis e Osíris, Horus teve uma infância difícil, sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth que cobiçava o trono de seu pai Osiris. Após ter triunfado sobre Seth e as forças da desordem, ele toma posse do trono dos vivos; o faraó é sua manifestação na terra. Ele é representado como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, sempre usando as duas coroas do Alto e Baixo Egito. Na qualidade de deus do céu, Hórus é o falcão cujos olhos são o sol e a lua. Com o nome de "Horus do horizonte", assume uma das formas do sol, a que clareia a terra durante o dia. Mantenedor do universo e de todo tipo de vida, Horus era adorado em todo lugar. Ele é considerado o mais importante de todos os deuses, aquele que guia as almas até o Dwat ( Reino dos Mortos ).
ANÚBIS, filho de Seth e Néftis, é o mestre dos cemitérios e o patrono dos embalsamares. É na realidade o primeiro entre eles, a quem se deve o protótipo das múmias, a de Osíris. Todo egípcio esperava beneficiar-se em sua morte do mesmo tratamento e do mesmo renascimento desta primeira múmia. Anúbis também introduz os mortos no além e protege seus túmulos com a forma de um cão, vigilante, deitado em uma capela ou caixão. Anúbis era também associado ao chacal, animal que freqüentava as necrópoles e que tem por hábito desenterrar ossos, paradoxalmente representava para os egípcios a divindade considerada a guarda fiel dos túmulos. No reino dos mortos, era associado ao palácio de Osiris, na forma de um homem com cabeça de cão ou chacal, era o juiz que, após uma série de provas por que passava o defunto, dizia se este era justo e merecia ser bem recebido no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado por um terrível monstro, Amut. Anúbis tinha seu centro de culto em Cinópolis.
TOTH, divindade à qual era atribuída a revelação ao homem de quase todas as disciplinas intelectuais, a escrita, a aritmética, as ciências em geral e a magia. Era o deus-escriba e o deus letrado por excelência. Havia sido o inventor da escrita hieroglífica e era o escriba dos deuses; senhor da sabedoria e da magia. O que faz dele o patrono dos escribas que lhe endereçam uma prece antes de escrever. "Mestre das palavras divinas". Preside a medida do tempo, o disco na cabeça é a lua, cujas fases ritmam os dias e as noites. Representado como um íbis ou um homem com cabeça de íbis, ou ainda um babuíno.
MAÁT, esta deusa, que traz na cabeça uma pluma de avestruz, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa do senso de realidade. Filha de Rá e de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou. Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que ingressam no Dwat. Em sociedade, este respeito pelo equilíbrio implica na prática da equidade, verdade, justiça; no respeito às leis e aos indivíduos; e na consciência do fato que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido. É Maát, muito simbolicamente, que se oferece aos deuses nos templos. Protetora dos templos e tribunais.
PTAH, deus de Mênfis que foi a capital do Egito no Antigo Império, Ptah é "aquele que afeiçoou os deuses e fez os homens" e "que criou as artes". Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. Seu grande sacerdote chama-se "o superior dos artesãos". É, realmente, muito venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh. Apresenta-se com uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Tem como esposa a deusa Sekhmet e por filho Nefertum, o deus do nenúfar ( plantas aquáticas ).
SEKHMET, uma mulher com cabeça de leoa, encimada pelo disco solar, era uma de suas representações que, por sua vez, simbolizava os poderes destrutivos do Sol. Embora fosse uma leoa sanguinária, também operava curas e tinha um frágil corpo de moça. Era a deusa cruel da guerra e das batalhas e tanto causava quanto curava epidemias. Essa divindade feroz era adorada na cidade de Mênfis. Sua juba ( dizem os textos ) era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha a cor do sangue, seu rosto brilhava como o sol... o deserto ficava envolto em poeira, quando sua cauda o varria...
BASTET, uma gata ou uma mulher com cabeça de gata simbolizava a deusa Bastet e representava os poderes benéficos do Sol. Seu centro de culto era Bubástis, cujo nome em egípcio ( Per Bast ) significa a casa de Bastet. Em seu templo naquela cidade a deusa-gata era adorada desde o Antigo Império e suas efígies eram bastante numerosas, existindo, hoje, muitos exemplares delas pelo mundo. Quando os reis líbios da XXII dinastia fizeram de Bubástis sua capital, por volta de 944 a.C., o culto da deusa tornou-se particularmente desenvolvido.
KHNUM, um dos deuses relacionados com a criação era simbolizado por um carneiro, animal considerado excepcionalmente prolífico pelos egípcios. Segundo a lenda, o deus Khnum, um homem com cabeça de carneiro, era quem modelava, em seu forno de oleiro, os corpos dos deuses e, também, dos homens e mulheres, pois plasmava em sua roda todas as crianças ainda por nascer. Principal deus da Ilha Elefantina, localizada ao norte da primeira catarata do Nilo, onde as águas são alternadamente tranquilas e revoltas. Tem duas esposas Anuket (águas calmas) e Sati ( a inundação). Um dos velhos deuses cósmicos, é descrito como autor das coisas que são, origem das coisas criadas, pai dos pais e mãe das mães. Sua esposa Anuket ou Heqet, deusa com cabeça de rã, também era associada à criação e ao nascimento.
SEBEK, um crocodilo ou um homem com cabeça de crocodilo representavam essa divindade aliada do implacável deus Seth. O deus-crocodilo, era venerado em cidades que dependiam da água, como Crocodilópolis, seu centro de culto, na região do Faium, onde os sáurios eram criados em tanques e adornados com jóias, eram protegidos, nutridos e domesticados. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado. A adoração desse animal foi sobretudo importante durante o Médio Império.
TUÉRIS, (Taueret ) era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
KHEPRA, (escaravelho, em egípcio) ou um homem com um escaravelho no lugar da cabeça também representavam o deus-Sol. Nesse caso o besouro simbolizava o deus Khepra e sua função era nada menos que a de mover o Sol, como movia a bolazinha de excremento que empurrava pelos caminhos. Associados à idéia mitológica de ressurreição, os escaravelhos eram motivo freqüente das peças de ourivesaria encontradas nos túmulos egípcios.
ÁPIS, o boi sagrado que os antigos egípcios consideravam como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e que encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do boi Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos. Essa antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e sua força geradora.
BABUINO ou cinocéfalo é um grande macaco africano, cuja cabeça oferece alguma semelhança com os cães. No antigo Egito este animal estava associado ao deus Thoth, considerado o deus da escrita, do cálculo e das atividades intelectuais. Era o deus local em Hermópolis, principal cidade do Médio Egito. Deuses particularmente numerosos parecem ter se fundido no deus Thoth: deuses-serpentes, deuses-rãs, um deus-íbis, um deus-lua e este deus-macaco.
ÍBIS, uma ave pernalta de bico longo e recurvado. Existe uma espécie negra e outra de plumagem castanha com reflexos dourados, mas era o íbis branco, ou íbis sagrado, que era considerado pelos egípcios como encarnação do deus Thoth. Esta ave tem parte da cabeça e todo o pescoço desprovido de penas. Sua plumagem é branca, exceto a da cabeça, da extremidade das asas e da cauda, que é muito negra. Um homem com cabeça de íbis, era outra das representações daquele deus.
APÓFIS, a serpente que habitava o além-túmulo, representava as tempestades e as trevas. É descrita no chamado Livro de Him no Inferno, uma obra que narra a viagem do deus-Sol pelo reino das sombras durante a noite. Nessa jornada, enquanto visitava o reino dos mortos, a divindade lutava contra vários demônios que tentavam impedir sua passagem. As serpentes estavam entre os adversários mais perigosos e o demônio líder de todos eles era Apófis a grande serpente.
A mitologia egípcia inclui muitos deuses e deusas, entretanto, geralmente representam o mesmo conjunto de forças e arquétipos. O grupo acima descrito, resume de modo satisfatório o grande panorama da religião egípcia que perdurou durante milênios.
A religião egípcia pertence à classe dos cultos sem líderes. Akhenaten foi um gênio religioso e poderia ter conduzido seu povo ao monoteísmo, mas, de tal forma ultrapassara a índole de seu tempo, que seus ingentes esforços no sentido de estabelecer a crença em Aten deixaram impressão mínima na vida religiosa dos egípcios.
Os fatos da religião egípcia revelam quase nenhum progresso, dos primórdios da historia à conquista do Egito pelos romanos. Surpreende raça tão altamente evoluída na arquitetura, arte, literatura e mecânica, manter-se tão primitiva na religião.
A mais antiga religião egípcia de que temos noticia, remontando a quatro ou cinco mil anos antes de Cristo, é o animismo, com tendência para o politeísmo. Neste estágio permaneceu, praticamente, sem nenhum progresso, por milênios.
O animismo, gradativamente, cedera em tanto ao politeísmo, mas nos períodos posteriores da religião egípcia ainda encontramos a idolatria da natureza e elementos de fetichismo e magia. Os tão conhecidos deuses-animais do Egito representam o maior desenvolvimento da religião nas terras do Nilo.
O espírito de conservação era característico, e tão arraigado em sacerdotes e povos, que recebia, destes, fraco apoio a qualquer tendência para novas formas de religião. Como diz W. Max Müller ( "Religions of the Past and Present" Editado por James A. Montgomery, pág. 48.): "Não será demais insistir que todos os desvios do conservantismo reinante foram passos isolados e tímidos de um ou outro erudito mais avançado".
O fato de o maior número de relíquias dos egípcios primitivos consistir em túmulos e no que estes encerram, produziu em geral impressão popular de que os egípcios manifestavam grande interesse pela vida futura. Daí se conclui que os egípcios eram profundamente versados nos mistérios religiosos, o que não é exato. Durante longos períodos de tempo, diante dos quais a nossa civilização moderna parece evanecer, a religião das massas do Egito contava da espécie mais primitiva de idolatria da natureza. Os próprios sacerdotes não logravam acumular qualquer patrimônio de sabedoria religiosa a que possamos recorrer em nosso tempo. Mesmos os deuses que invocam, reputavam-nos falíveis, sujeitos ao sofrimento, e freqüentemente incapazes de atender aos rogos de seus fiéis. Acreditavam possuírem estes deuses "poderes pouco maiores do que pode esperar o povo com os recursos próprios da magia, da feiticeira"
Texto: Extraído do Site Luz Espírita
Enviado por Marluce Faustino/RJ
A Religião do Egito de 4.400 a.C. até o Cristianismo.
Considerado pelo historiador grego Heródoto de Halicarnaso (484 – 424 a.C.) como o povo mais espiritualizado da antiguidade, os egípcios possuem registros de suas primeiras manifestações religiosas datadas de quatro a cinco mil anos antes de Cristo.
Inicialmente os egípcios praticavam, como a maior parte dos povos primitivos, o animismo (adoração à natureza), permanecendo neste estágio por milênios, até que por volta de 3.000 a.C. começaram a acontecer modificações que levaram, juntamente com a evolução da civilização, ao desenvolvimento de uma religião complexa e cheia de divindades, embora com alguns resquícios do animismo, visto que os deuses egípcios possuíam formas zooantropomórficas (parte homem, parte animal). Apenas na XVIII dinastia, Amenófis IV, tentou estabelecer o monoteísmo, adotando como deus único Áton, o sol. Mas o poderoso clero não aceitou a mudança e passa a combater o Faraó. E logo após a sua morte, o culto aos vários deuses retornou.
O próprio sistema político do Egito antigo e a vida cotidiana eram fortemente ligados à religião. Os egípcios consideravam que os menores detalhes de suas vida dependiam da vontade dos deuses. O Faraó, governante supremo da região do Nilo, era considerado um deus encarnado, e como tal era merecedor de todo o respeito e adoração. Esta associação fortaleceu o governo e o próprio Faraó.
A antiga religião do Egito era sectária, os templos, por serem lugares sagrados, eram proibidos ao povo e apenas o Faraó e os sacerdotes tinham acesso a ele o que criava diferenças entre a religião praticada pelo povo e pelas altas camadas religiosas. Isto levava a adoração de diferentes deuses, inclusive era comum que cada cidade tivesse o seu deus de preferência.
Uma das características mais importantes do culto egípcio era a preocupação com a imortalidade e com a vida futura. Os egípcios acreditavam que o homem era composto do corpo físico perecível (khat), da alma imortal (ba) e de uma personalidade abstrata (ka), que seria um corpo espiritual. Após a passagem pela vida na terra, que era um estado transitório, a alma (ba) ia para o mundo espiritual encontrar-se com Osíris, onde seria julgado de acordo com as suas ações, depois seria encaminhado para uma região de venturas, caso tivesse sido bom, ou para um local de sofrimentos caso tivesse levado uma vida de maldades. E posteriormente reencarnaria para nova experiência no mundo dos vivos.
Um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia e o mito de Osíris. Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra) e com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (principal atividade econômica do Egito antigo). Seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita, tornando ele a viver no céu. Hórus seu filho mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito. Esta lenda além de justificar a divindade dos Faraós, que são descendentes de Osíris, representa, através do retorno de Osíris a vida, a imortalidade da alma e a reencarnação.
Atualmente a antiga crença dos egípcios perdeu-se no tempo, a população daquele país hoje segue o islamismo, entretanto a contribuição legada por eles permanece. Através da sua grande preocupação com as questões espirituais e da vida além da morte deixaram muitos ensinamentos que, desenvolvidos por outras correntes religiosas, inspiram uma compreensão mais ampla da relação entre o homem e o mundo espiritual.
O Livro dos Mortos
Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4.400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3.800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte: o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.
O homem egípcio e sua conceituação
A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT, ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem, era CU e era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que, também, ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes pois se o nome for eliminado poder-se-á destruir o homem. Ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3.400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".
O julgamento da alma e a vida eterna
A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo porém os deuses, encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal !. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3.800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade.
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1.500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam.
A criação do Mundo conforme os egípcios
Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão. Nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3.800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1.370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, .........És Uno, .........Os homens te exaltam e juram por ti pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, ..........seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.
Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz
Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por Set, seu irmão, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus. Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos, onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Com o tempo ele passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos. Osíris se torna um deus nacional, igual, e em alguns casos maior que Rá. Nas XVIII e XIX (1.600 a.C.) dinastias, ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.
Deuses do Egito
A SIGNIFICAÇÃO DO MITO OSIRIANO
Este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como, sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento ardente do deserto (Sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas, para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também ressuscitado), para renascer em novas espigas... (FREITAS, G. de., op. cit. V. 1, p. 47/48).A lenda de Osíris, que conta a morte e ressurreição do deus, está intimamente ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter dados sobre a unificação do Sul e do Norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo e a origem do poder divino do Faraó.
O Faraó era a encarnação do deus e o sumo sacerdote, sendo o seu poder praticamente absoluto, porque exercido em nome do deus. Daí o Egito ser considerado uma monarquia despótica de origem divina. O templo egípcio, construído em pedra, não era um lugar à disposição do povo. Era a habitação privativa da divindade, ao qual somente o Faraó e os sacerdotes tinham acesso.
O culto diário consistia em preces, gestos consagrados, hinos e defumações de incenso, realizados pelos sacerdotes, como delegados do Faraó, em teoria o único habilitado a estabelecer a ligação entre os homens e os deuses. Pela manhã e à tarde, a porta do santuário localizada no interior do templo era aberta e a estátua do deus era reverenciada, lavada e vestida, recebendo oferendas de alimentos e bebidas. Em todos os santuários eram feitos os mesmos atos. Ao povo somente era permitido fazer suas oferendas e adorações na parte externa dos templos.
As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios, principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana. A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.
O EMBALSAMENTO DE RICO:
"Primeiro, com a ajuda de um ferro curvo, extraem o cérebro pelas narinas... Em seguida, com uma pedra cortante, fazem uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vinho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois, enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arômatas, com exceção do incenso e cosem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias... Lavam o corpo, enrolam-o todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola)... Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana... que guardam no interior de uma câmara funerária...
O EMBALSAMENTO DE POBRE:
Desinfetam os intestinos... metem-no no sal durante 70 dias; entregam o corpo. (Heródoto, in: FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano, 1975, v. 1, p. 49.Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de templos e pirâmides para perpetuar os Faraós, suas realizações e feitos, mesmo que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava, pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do Faraó (Senhor da Casa Grande) e marcando profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.
Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris. São eles:
NUN, é a divindade mais primitiva do panteão de Heliópolis. Personificava o abismo líquido ou as águas primordiais, a partir do qual todo o mundo foi criado; é a divindade mais velha e sábia de todas. Era representado como um homem barbado, com uma pena na cabeça e portando um cajado. É uma divindade bissexual e à vezes masculino. Nun gerou Atun ( o sol nascente ) e Re ou Rá ( o sol do meio dia ).
ATUN, Uma das manifestações do deus sol, especialmente ao entardecer, original de Heliópolis, era representado por um homem barbado usando a coroa dupla do faraó e menos freqüentemente, como uma serpente usando as duas coroas do Alto e do Baixo Egito. Era considerado o rei de todos os deuses, aquele que criou o universo. É o mesmo deus Rê ou Rá que gerou Shu o ar e Tefnut a umidade. Atun e Rê ou Rá, foram mais tarde unidos ao deus carneiro de Tebas Amon e ficou conhecido pelo nome de Amon-Rê ou Amon-Rá.
AMON, o deus-carneiro de Tebas, rei dos deuses e patrono dos faraós, ele é o senhor dos templos de Luxor e Karnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Passou a ser cultuado por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá, sob o nome de Amon-Rê ou Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem divina. Ele é o sol que dá vida ao país. À época de Ramsés III. Amon tornou-se um título monárquico, mesmo título que Ptah e Rá. Freqüentemente representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito, ele se manifesta, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.
RÁ ( ou Rê), o criador dos deuses e da ordem divina, recebeu de Nun seu pai (mãe) o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava completamente acabado. Rá se esforçou tanto para terminar o trabalho da criação que chorou. De suas lágrimas, que banharam o solo, surgiram os seres humanos, masculinos e femininos. Eles foram criados como os deuses e os animais e Rá tratou de fazê-los felizes, tudo o que crescia sobre os campos lhes foi dado para que se alimentassem, não deixava faltar o vento fresco, nem o calor do sol, as enchentes ou as vazantes do Nilo. Como era considerado o criador dos homens, os egípcios denominavam-se o "rebanho de Rá". O deus nacional do Egito, o maior de todos os deuses, criador do universo e fonte de toda a vida, era o Sol, objeto de adoração em qualquer lugar. A sede de seu culto ficava em Heliópolis, o mais antigo e próspero centro comercial do Baixo Egito. Na Quinta Dinastia Rá, o Deus-Sol de Heliópolis, tornou-se uma divindade do estado. Foi retratado pela arte egípcia sob muitas formas e denominações e era também representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda, mais raramente, por um homem. Quando representado por uma cabeça de falcão estabelecia-se uma identidade com Hórus, outro deus solar adorado em várias partes do país desde tempos remotos.
SHU, é o deus do ar e da luz, personificação da atmosfera diurna que sustenta o céu. Tem a tarefa de trazer Rá, o deus Sol, seu pai, e o faraó à vida no começo de cada dia. É representado por um homem barbado usando na cabeça uma pena simples ou quatro longas plumas. É a essência da condição seca, do gênero masculino, calor, luz e perfeição. Aparece frequentemente nas pinturas, como um homem segurando Nut, a deusa do céu, para separá-la de Geb, o deus da Terra. Com Tefnut, sua esposa, formava o primeiro par de divindades da enéade de Heliópolis. Era associado ao Leão.
TEFNUT, considerada a deusa da umidade vivificante, que espera o sol libertar-se do horizonte leste para recebê-lo e não há seca por onde Tefnut passa. A deusa é irmã e mulher de Shu. É o símbolo das dádivas e da generosidade. Ela é retratada como uma mulher com a cabeça de uma leoa, indicando poder. Shu afasta a fome dos mortos, enquanto Tefnut afasta a sede. Shu e Tefnut são os pais de Geb e Nut.
NUT, deusa do céu que acolhe os mortos no seu império, é muitas vezes representada sob a forma de uma vaca. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Nut e Geb são pais de Osiris, Isis, Seth, Néftis e Hathor. Osiris e Isis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth, logo ficou evidente, quando ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.
GEB, o deus da Terra é irmão e marido de Nut. É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Ele estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça.
ÍSIS, é a mais popular de todas as deusas egípcias, considerada a deusa da família, o modelo de esposa e mãe, invencível e protetora. Usa os poderes da magia para ajudar os necessitados. Ela criou o rio Nilo com as suas lágrimas. Conta a lenda que, após a morte de Osíris, ela transforma-se em um milhafre para chorá-lo, reúne os pedaços de seus despojos, se empenha em reanima-lo e dele concebe um filho, Horus. Ela defende com unhas e dentes seu rebento contra as agressões de seu tio Seth. Perfeita esposa e mãe ela é um dos pilares da coesão sócio-religiosa egípcia. Usa na cabeça um assento com espaldar (trono) que é o hieróglifo de seu nome.
SETH, personifica a ambição e o mal. Considerado o deus da guerra e Senhor do Alto Egito durante o domínio dos Hicsos, tinha seu centro de culto na cidade de Ombos. Embora inicialmente fosse um deus benéfico, com o passar do tempo tornou-se a personificação do mal. Era representado por um homem com a cabeça de um tipo incerto de animal, parecido com um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda como Tífon, um animal imaginário formado por partes de diferentes seres, com a cabeça de um bode, orelhas grandes, como um burro. Associavam-no ao deserto aos trovões e às tempestades. Identificado com o lado negativo da lenda, a luta entre Osiris e Seth era a luta da terra fértil contra a areia do deserto.
NÉFTIS, é a esposa de Seth, mas quando este trai e assassina Osíris, por quem era apaixonada, ela permanece solidária à Isis, ajudando-a a reunir os membros espalhados do defunto e também tomando a forma de um milhafre para velá-lo e chorá-lo. Como Isis, ela protege os mortos, sarcófagos e um dos vasos canopos. O hieróglifo de seu nome é um cesto colocado sobre uma coluna, que usa na cabeça,. É ainda na campanha de Isis que ela acolhe o sol nascente e o defende contra a terrível serpente Apófis.
HÁTOR, personificação das forças benéficas do céu, depois de Isis, é a mais venerada das deusas. Distribuidora do amor e da alegria, deusa do céu e protetora das mulheres, nutriz do deus Hórus e do faraó, patrona do amor, da alegria, da dança e da música. Também é a protetora da necrópole de Tebas, que sai da falésia para acolher os mortos e velar os túmulos. Seu centro de culto era a cidade de Dendera, mas havia templos dessa divindade por toda parte. É representada na forma de uma mulher com chifres de vaca e disco solar na cabeça, uma mulher com cabeça de vaca ou por uma vaca que usava um disco solar e duas plumas entre os chifres. As vezes é retratada por um rosto de mulher visto de frente e provido de orelhas de vaca, a cabeleira separada em duas abas com as extremidades enroladas.
HÓRUS, filho de Isis e Osíris, Horus teve uma infância difícil, sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth que cobiçava o trono de seu pai Osiris. Após ter triunfado sobre Seth e as forças da desordem, ele toma posse do trono dos vivos; o faraó é sua manifestação na terra. Ele é representado como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, sempre usando as duas coroas do Alto e Baixo Egito. Na qualidade de deus do céu, Hórus é o falcão cujos olhos são o sol e a lua. Com o nome de "Horus do horizonte", assume uma das formas do sol, a que clareia a terra durante o dia. Mantenedor do universo e de todo tipo de vida, Horus era adorado em todo lugar. Ele é considerado o mais importante de todos os deuses, aquele que guia as almas até o Dwat ( Reino dos Mortos ).
ANÚBIS, filho de Seth e Néftis, é o mestre dos cemitérios e o patrono dos embalsamares. É na realidade o primeiro entre eles, a quem se deve o protótipo das múmias, a de Osíris. Todo egípcio esperava beneficiar-se em sua morte do mesmo tratamento e do mesmo renascimento desta primeira múmia. Anúbis também introduz os mortos no além e protege seus túmulos com a forma de um cão, vigilante, deitado em uma capela ou caixão. Anúbis era também associado ao chacal, animal que freqüentava as necrópoles e que tem por hábito desenterrar ossos, paradoxalmente representava para os egípcios a divindade considerada a guarda fiel dos túmulos. No reino dos mortos, era associado ao palácio de Osiris, na forma de um homem com cabeça de cão ou chacal, era o juiz que, após uma série de provas por que passava o defunto, dizia se este era justo e merecia ser bem recebido no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado por um terrível monstro, Amut. Anúbis tinha seu centro de culto em Cinópolis.
TOTH, divindade à qual era atribuída a revelação ao homem de quase todas as disciplinas intelectuais, a escrita, a aritmética, as ciências em geral e a magia. Era o deus-escriba e o deus letrado por excelência. Havia sido o inventor da escrita hieroglífica e era o escriba dos deuses; senhor da sabedoria e da magia. O que faz dele o patrono dos escribas que lhe endereçam uma prece antes de escrever. "Mestre das palavras divinas". Preside a medida do tempo, o disco na cabeça é a lua, cujas fases ritmam os dias e as noites. Representado como um íbis ou um homem com cabeça de íbis, ou ainda um babuíno.
MAÁT, esta deusa, que traz na cabeça uma pluma de avestruz, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa do senso de realidade. Filha de Rá e de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou. Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que ingressam no Dwat. Em sociedade, este respeito pelo equilíbrio implica na prática da equidade, verdade, justiça; no respeito às leis e aos indivíduos; e na consciência do fato que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido. É Maát, muito simbolicamente, que se oferece aos deuses nos templos. Protetora dos templos e tribunais.
PTAH, deus de Mênfis que foi a capital do Egito no Antigo Império, Ptah é "aquele que afeiçoou os deuses e fez os homens" e "que criou as artes". Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. Seu grande sacerdote chama-se "o superior dos artesãos". É, realmente, muito venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh. Apresenta-se com uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Tem como esposa a deusa Sekhmet e por filho Nefertum, o deus do nenúfar ( plantas aquáticas ).
SEKHMET, uma mulher com cabeça de leoa, encimada pelo disco solar, era uma de suas representações que, por sua vez, simbolizava os poderes destrutivos do Sol. Embora fosse uma leoa sanguinária, também operava curas e tinha um frágil corpo de moça. Era a deusa cruel da guerra e das batalhas e tanto causava quanto curava epidemias. Essa divindade feroz era adorada na cidade de Mênfis. Sua juba ( dizem os textos ) era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha a cor do sangue, seu rosto brilhava como o sol... o deserto ficava envolto em poeira, quando sua cauda o varria...
BASTET, uma gata ou uma mulher com cabeça de gata simbolizava a deusa Bastet e representava os poderes benéficos do Sol. Seu centro de culto era Bubástis, cujo nome em egípcio ( Per Bast ) significa a casa de Bastet. Em seu templo naquela cidade a deusa-gata era adorada desde o Antigo Império e suas efígies eram bastante numerosas, existindo, hoje, muitos exemplares delas pelo mundo. Quando os reis líbios da XXII dinastia fizeram de Bubástis sua capital, por volta de 944 a.C., o culto da deusa tornou-se particularmente desenvolvido.
KHNUM, um dos deuses relacionados com a criação era simbolizado por um carneiro, animal considerado excepcionalmente prolífico pelos egípcios. Segundo a lenda, o deus Khnum, um homem com cabeça de carneiro, era quem modelava, em seu forno de oleiro, os corpos dos deuses e, também, dos homens e mulheres, pois plasmava em sua roda todas as crianças ainda por nascer. Principal deus da Ilha Elefantina, localizada ao norte da primeira catarata do Nilo, onde as águas são alternadamente tranquilas e revoltas. Tem duas esposas Anuket (águas calmas) e Sati ( a inundação). Um dos velhos deuses cósmicos, é descrito como autor das coisas que são, origem das coisas criadas, pai dos pais e mãe das mães. Sua esposa Anuket ou Heqet, deusa com cabeça de rã, também era associada à criação e ao nascimento.
SEBEK, um crocodilo ou um homem com cabeça de crocodilo representavam essa divindade aliada do implacável deus Seth. O deus-crocodilo, era venerado em cidades que dependiam da água, como Crocodilópolis, seu centro de culto, na região do Faium, onde os sáurios eram criados em tanques e adornados com jóias, eram protegidos, nutridos e domesticados. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado. A adoração desse animal foi sobretudo importante durante o Médio Império.
TUÉRIS, (Taueret ) era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
KHEPRA, (escaravelho, em egípcio) ou um homem com um escaravelho no lugar da cabeça também representavam o deus-Sol. Nesse caso o besouro simbolizava o deus Khepra e sua função era nada menos que a de mover o Sol, como movia a bolazinha de excremento que empurrava pelos caminhos. Associados à idéia mitológica de ressurreição, os escaravelhos eram motivo freqüente das peças de ourivesaria encontradas nos túmulos egípcios.
ÁPIS, o boi sagrado que os antigos egípcios consideravam como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e que encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do boi Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos. Essa antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e sua força geradora.
BABUINO ou cinocéfalo é um grande macaco africano, cuja cabeça oferece alguma semelhança com os cães. No antigo Egito este animal estava associado ao deus Thoth, considerado o deus da escrita, do cálculo e das atividades intelectuais. Era o deus local em Hermópolis, principal cidade do Médio Egito. Deuses particularmente numerosos parecem ter se fundido no deus Thoth: deuses-serpentes, deuses-rãs, um deus-íbis, um deus-lua e este deus-macaco.
ÍBIS, uma ave pernalta de bico longo e recurvado. Existe uma espécie negra e outra de plumagem castanha com reflexos dourados, mas era o íbis branco, ou íbis sagrado, que era considerado pelos egípcios como encarnação do deus Thoth. Esta ave tem parte da cabeça e todo o pescoço desprovido de penas. Sua plumagem é branca, exceto a da cabeça, da extremidade das asas e da cauda, que é muito negra. Um homem com cabeça de íbis, era outra das representações daquele deus.
APÓFIS, a serpente que habitava o além-túmulo, representava as tempestades e as trevas. É descrita no chamado Livro de Him no Inferno, uma obra que narra a viagem do deus-Sol pelo reino das sombras durante a noite. Nessa jornada, enquanto visitava o reino dos mortos, a divindade lutava contra vários demônios que tentavam impedir sua passagem. As serpentes estavam entre os adversários mais perigosos e o demônio líder de todos eles era Apófis a grande serpente.
A mitologia egípcia inclui muitos deuses e deusas, entretanto, geralmente representam o mesmo conjunto de forças e arquétipos. O grupo acima descrito, resume de modo satisfatório o grande panorama da religião egípcia que perdurou durante milênios.
A religião egípcia pertence à classe dos cultos sem líderes. Akhenaten foi um gênio religioso e poderia ter conduzido seu povo ao monoteísmo, mas, de tal forma ultrapassara a índole de seu tempo, que seus ingentes esforços no sentido de estabelecer a crença em Aten deixaram impressão mínima na vida religiosa dos egípcios.
Os fatos da religião egípcia revelam quase nenhum progresso, dos primórdios da historia à conquista do Egito pelos romanos. Surpreende raça tão altamente evoluída na arquitetura, arte, literatura e mecânica, manter-se tão primitiva na religião.
A mais antiga religião egípcia de que temos noticia, remontando a quatro ou cinco mil anos antes de Cristo, é o animismo, com tendência para o politeísmo. Neste estágio permaneceu, praticamente, sem nenhum progresso, por milênios.
O animismo, gradativamente, cedera em tanto ao politeísmo, mas nos períodos posteriores da religião egípcia ainda encontramos a idolatria da natureza e elementos de fetichismo e magia. Os tão conhecidos deuses-animais do Egito representam o maior desenvolvimento da religião nas terras do Nilo.
O espírito de conservação era característico, e tão arraigado em sacerdotes e povos, que recebia, destes, fraco apoio a qualquer tendência para novas formas de religião. Como diz W. Max Müller ( "Religions of the Past and Present" Editado por James A. Montgomery, pág. 48.): "Não será demais insistir que todos os desvios do conservantismo reinante foram passos isolados e tímidos de um ou outro erudito mais avançado".
O fato de o maior número de relíquias dos egípcios primitivos consistir em túmulos e no que estes encerram, produziu em geral impressão popular de que os egípcios manifestavam grande interesse pela vida futura. Daí se conclui que os egípcios eram profundamente versados nos mistérios religiosos, o que não é exato. Durante longos períodos de tempo, diante dos quais a nossa civilização moderna parece evanecer, a religião das massas do Egito contava da espécie mais primitiva de idolatria da natureza. Os próprios sacerdotes não logravam acumular qualquer patrimônio de sabedoria religiosa a que possamos recorrer em nosso tempo. Mesmos os deuses que invocam, reputavam-nos falíveis, sujeitos ao sofrimento, e freqüentemente incapazes de atender aos rogos de seus fiéis. Acreditavam possuírem estes deuses "poderes pouco maiores do que pode esperar o povo com os recursos próprios da magia, da feiticeira"
Texto: Extraído do Site Luz Espírita
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From: Marluce Faustino
Date: 2009/11/22
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HISTÓRIA DAS RELIGIÕES - PARTE III
A RELIGIÃO EGÍPCIA
A Religião do Egito de 4.400 a.C. até o Cristianismo.
Considerado pelo historiador grego Heródoto de Halicarnaso (484 – 424 a.C.) como o povo mais espiritualizado da antiguidade, os egípcios possuem registros de suas primeiras manifestações religiosas datadas de quatro a cinco mil anos antes de Cristo.
Inicialmente os egípcios praticavam, como a maior parte dos povos primitivos, o animismo (adoração à natureza), permanecendo neste estágio por milênios, até que por volta de 3.000 a.C. começaram a acontecer modificações que levaram, juntamente com a evolução da civilização, ao desenvolvimento de uma religião complexa e cheia de divindades, embora com alguns resquícios do animismo, visto que os deuses egípcios possuíam formas zooantropomórficas (parte homem, parte animal). Apenas na XVIII dinastia, Amenófis IV, tentou estabelecer o monoteísmo, adotando como deus único Áton, o sol. Mas o poderoso clero não aceitou a mudança e passa a combater o Faraó. E logo após a sua morte, o culto aos vários deuses retornou.
O próprio sistema político do Egito antigo e a vida cotidiana eram fortemente ligados à religião. Os egípcios consideravam que os menores detalhes de suas vida dependiam da vontade dos deuses. O Faraó, governante supremo da região do Nilo, era considerado um deus encarnado, e como tal era merecedor de todo o respeito e adoração. Esta associação fortaleceu o governo e o próprio Faraó.
A antiga religião do Egito era sectária, os templos, por serem lugares sagrados, eram proibidos ao povo e apenas o Faraó e os sacerdotes tinham acesso a ele o que criava diferenças entre a religião praticada pelo povo e pelas altas camadas religiosas. Isto levava a adoração de diferentes deuses, inclusive era comum que cada cidade tivesse o seu deus de preferência.
Uma das características mais importantes do culto egípcio era a preocupação com a imortalidade e com a vida futura. Os egípcios acreditavam que o homem era composto do corpo físico perecível (khat), da alma imortal (ba) e de uma personalidade abstrata (ka), que seria um corpo espiritual. Após a passagem pela vida na terra, que era um estado transitório, a alma (ba) ia para o mundo espiritual encontrar-se com Osíris, onde seria julgado de acordo com as suas ações, depois seria encaminhado para uma região de venturas, caso tivesse sido bom, ou para um local de sofrimentos caso tivesse levado uma vida de maldades. E posteriormente reencarnaria para nova experiência no mundo dos vivos.
Um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia e o mito de Osíris. Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra) e com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (principal atividade econômica do Egito antigo). Seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita, tornando ele a viver no céu. Hórus seu filho mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito. Esta lenda além de justificar a divindade dos Faraós, que são descendentes de Osíris, representa, através do retorno de Osíris a vida, a imortalidade da alma e a reencarnação.
Atualmente a antiga crença dos egípcios perdeu-se no tempo, a população daquele país hoje segue o islamismo, entretanto a contribuição legada por eles permanece. Através da sua grande preocupação com as questões espirituais e da vida além da morte deixaram muitos ensinamentos que, desenvolvidos por outras correntes religiosas, inspiram uma compreensão mais ampla da relação entre o homem e o mundo espiritual.
O Livro dos Mortos
Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4.400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3.800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte: o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.
O homem egípcio e sua conceituação
A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT, ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem, era CU e era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que, também, ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes pois se o nome for eliminado poder-se-á destruir o homem. Ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3.400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".
O julgamento da alma e a vida eterna
A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo porém os deuses, encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal !. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3.800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade.
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1.500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam.
A criação do Mundo conforme os egípcios
Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão. Nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3.800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1.370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, .........És Uno, .........Os homens te exaltam e juram por ti pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, ..........seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.
Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz
Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por Set, seu irmão, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus. Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos, onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Com o tempo ele passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos. Osíris se torna um deus nacional, igual, e em alguns casos maior que Rá. Nas XVIII e XIX (1.600 a.C.) dinastias, ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.
Deuses do Egito
A SIGNIFICAÇÃO DO MITO OSIRIANO
Este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como, sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento ardente do deserto (Sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas, para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também ressuscitado), para renascer em novas espigas... (FREITAS, G. de., op. cit. V. 1, p. 47/48).A lenda de Osíris, que conta a morte e ressurreição do deus, está intimamente ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter dados sobre a unificação do Sul e do Norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo e a origem do poder divino do Faraó.
O Faraó era a encarnação do deus e o sumo sacerdote, sendo o seu poder praticamente absoluto, porque exercido em nome do deus. Daí o Egito ser considerado uma monarquia despótica de origem divina. O templo egípcio, construído em pedra, não era um lugar à disposição do povo. Era a habitação privativa da divindade, ao qual somente o Faraó e os sacerdotes tinham acesso.
O culto diário consistia em preces, gestos consagrados, hinos e defumações de incenso, realizados pelos sacerdotes, como delegados do Faraó, em teoria o único habilitado a estabelecer a ligação entre os homens e os deuses. Pela manhã e à tarde, a porta do santuário localizada no interior do templo era aberta e a estátua do deus era reverenciada, lavada e vestida, recebendo oferendas de alimentos e bebidas. Em todos os santuários eram feitos os mesmos atos. Ao povo somente era permitido fazer suas oferendas e adorações na parte externa dos templos.
As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios, principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana. A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.
O EMBALSAMENTO DE RICO:
"Primeiro, com a ajuda de um ferro curvo, extraem o cérebro pelas narinas... Em seguida, com uma pedra cortante, fazem uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vinho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois, enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arômatas, com exceção do incenso e cosem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias... Lavam o corpo, enrolam-o todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola)... Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana... que guardam no interior de uma câmara funerária...
O EMBALSAMENTO DE POBRE:
Desinfetam os intestinos... metem-no no sal durante 70 dias; entregam o corpo. (Heródoto, in: FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano, 1975, v. 1, p. 49.Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de templos e pirâmides para perpetuar os Faraós, suas realizações e feitos, mesmo que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava, pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do Faraó (Senhor da Casa Grande) e marcando profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.
Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris. São eles:
NUN, é a divindade mais primitiva do panteão de Heliópolis. Personificava o abismo líquido ou as águas primordiais, a partir do qual todo o mundo foi criado; é a divindade mais velha e sábia de todas. Era representado como um homem barbado, com uma pena na cabeça e portando um cajado. É uma divindade bissexual e à vezes masculino. Nun gerou Atun ( o sol nascente ) e Re ou Rá ( o sol do meio dia ).
ATUN, Uma das manifestações do deus sol, especialmente ao entardecer, original de Heliópolis, era representado por um homem barbado usando a coroa dupla do faraó e menos freqüentemente, como uma serpente usando as duas coroas do Alto e do Baixo Egito. Era considerado o rei de todos os deuses, aquele que criou o universo. É o mesmo deus Rê ou Rá que gerou Shu o ar e Tefnut a umidade. Atun e Rê ou Rá, foram mais tarde unidos ao deus carneiro de Tebas Amon e ficou conhecido pelo nome de Amon-Rê ou Amon-Rá.
AMON, o deus-carneiro de Tebas, rei dos deuses e patrono dos faraós, ele é o senhor dos templos de Luxor e Karnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Passou a ser cultuado por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá, sob o nome de Amon-Rê ou Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem divina. Ele é o sol que dá vida ao país. À época de Ramsés III. Amon tornou-se um título monárquico, mesmo título que Ptah e Rá. Freqüentemente representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito, ele se manifesta, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.
RÁ ( ou Rê), o criador dos deuses e da ordem divina, recebeu de Nun seu pai (mãe) o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava completamente acabado. Rá se esforçou tanto para terminar o trabalho da criação que chorou. De suas lágrimas, que banharam o solo, surgiram os seres humanos, masculinos e femininos. Eles foram criados como os deuses e os animais e Rá tratou de fazê-los felizes, tudo o que crescia sobre os campos lhes foi dado para que se alimentassem, não deixava faltar o vento fresco, nem o calor do sol, as enchentes ou as vazantes do Nilo. Como era considerado o criador dos homens, os egípcios denominavam-se o "rebanho de Rá". O deus nacional do Egito, o maior de todos os deuses, criador do universo e fonte de toda a vida, era o Sol, objeto de adoração em qualquer lugar. A sede de seu culto ficava em Heliópolis, o mais antigo e próspero centro comercial do Baixo Egito. Na Quinta Dinastia Rá, o Deus-Sol de Heliópolis, tornou-se uma divindade do estado. Foi retratado pela arte egípcia sob muitas formas e denominações e era também representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda, mais raramente, por um homem. Quando representado por uma cabeça de falcão estabelecia-se uma identidade com Hórus, outro deus solar adorado em várias partes do país desde tempos remotos.
SHU, é o deus do ar e da luz, personificação da atmosfera diurna que sustenta o céu. Tem a tarefa de trazer Rá, o deus Sol, seu pai, e o faraó à vida no começo de cada dia. É representado por um homem barbado usando na cabeça uma pena simples ou quatro longas plumas. É a essência da condição seca, do gênero masculino, calor, luz e perfeição. Aparece frequentemente nas pinturas, como um homem segurando Nut, a deusa do céu, para separá-la de Geb, o deus da Terra. Com Tefnut, sua esposa, formava o primeiro par de divindades da enéade de Heliópolis. Era associado ao Leão.
TEFNUT, considerada a deusa da umidade vivificante, que espera o sol libertar-se do horizonte leste para recebê-lo e não há seca por onde Tefnut passa. A deusa é irmã e mulher de Shu. É o símbolo das dádivas e da generosidade. Ela é retratada como uma mulher com a cabeça de uma leoa, indicando poder. Shu afasta a fome dos mortos, enquanto Tefnut afasta a sede. Shu e Tefnut são os pais de Geb e Nut.
NUT, deusa do céu que acolhe os mortos no seu império, é muitas vezes representada sob a forma de uma vaca. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Nut e Geb são pais de Osiris, Isis, Seth, Néftis e Hathor. Osiris e Isis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth, logo ficou evidente, quando ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.
GEB, o deus da Terra é irmão e marido de Nut. É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Ele estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça.
ÍSIS, é a mais popular de todas as deusas egípcias, considerada a deusa da família, o modelo de esposa e mãe, invencível e protetora. Usa os poderes da magia para ajudar os necessitados. Ela criou o rio Nilo com as suas lágrimas. Conta a lenda que, após a morte de Osíris, ela transforma-se em um milhafre para chorá-lo, reúne os pedaços de seus despojos, se empenha em reanima-lo e dele concebe um filho, Horus. Ela defende com unhas e dentes seu rebento contra as agressões de seu tio Seth. Perfeita esposa e mãe ela é um dos pilares da coesão sócio-religiosa egípcia. Usa na cabeça um assento com espaldar (trono) que é o hieróglifo de seu nome.
SETH, personifica a ambição e o mal. Considerado o deus da guerra e Senhor do Alto Egito durante o domínio dos Hicsos, tinha seu centro de culto na cidade de Ombos. Embora inicialmente fosse um deus benéfico, com o passar do tempo tornou-se a personificação do mal. Era representado por um homem com a cabeça de um tipo incerto de animal, parecido com um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda como Tífon, um animal imaginário formado por partes de diferentes seres, com a cabeça de um bode, orelhas grandes, como um burro. Associavam-no ao deserto aos trovões e às tempestades. Identificado com o lado negativo da lenda, a luta entre Osiris e Seth era a luta da terra fértil contra a areia do deserto.
NÉFTIS, é a esposa de Seth, mas quando este trai e assassina Osíris, por quem era apaixonada, ela permanece solidária à Isis, ajudando-a a reunir os membros espalhados do defunto e também tomando a forma de um milhafre para velá-lo e chorá-lo. Como Isis, ela protege os mortos, sarcófagos e um dos vasos canopos. O hieróglifo de seu nome é um cesto colocado sobre uma coluna, que usa na cabeça,. É ainda na campanha de Isis que ela acolhe o sol nascente e o defende contra a terrível serpente Apófis.
HÁTOR, personificação das forças benéficas do céu, depois de Isis, é a mais venerada das deusas. Distribuidora do amor e da alegria, deusa do céu e protetora das mulheres, nutriz do deus Hórus e do faraó, patrona do amor, da alegria, da dança e da música. Também é a protetora da necrópole de Tebas, que sai da falésia para acolher os mortos e velar os túmulos. Seu centro de culto era a cidade de Dendera, mas havia templos dessa divindade por toda parte. É representada na forma de uma mulher com chifres de vaca e disco solar na cabeça, uma mulher com cabeça de vaca ou por uma vaca que usava um disco solar e duas plumas entre os chifres. As vezes é retratada por um rosto de mulher visto de frente e provido de orelhas de vaca, a cabeleira separada em duas abas com as extremidades enroladas.
HÓRUS, filho de Isis e Osíris, Horus teve uma infância difícil, sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth que cobiçava o trono de seu pai Osiris. Após ter triunfado sobre Seth e as forças da desordem, ele toma posse do trono dos vivos; o faraó é sua manifestação na terra. Ele é representado como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, sempre usando as duas coroas do Alto e Baixo Egito. Na qualidade de deus do céu, Hórus é o falcão cujos olhos são o sol e a lua. Com o nome de "Horus do horizonte", assume uma das formas do sol, a que clareia a terra durante o dia. Mantenedor do universo e de todo tipo de vida, Horus era adorado em todo lugar. Ele é considerado o mais importante de todos os deuses, aquele que guia as almas até o Dwat ( Reino dos Mortos ).
ANÚBIS, filho de Seth e Néftis, é o mestre dos cemitérios e o patrono dos embalsamares. É na realidade o primeiro entre eles, a quem se deve o protótipo das múmias, a de Osíris. Todo egípcio esperava beneficiar-se em sua morte do mesmo tratamento e do mesmo renascimento desta primeira múmia. Anúbis também introduz os mortos no além e protege seus túmulos com a forma de um cão, vigilante, deitado em uma capela ou caixão. Anúbis era também associado ao chacal, animal que freqüentava as necrópoles e que tem por hábito desenterrar ossos, paradoxalmente representava para os egípcios a divindade considerada a guarda fiel dos túmulos. No reino dos mortos, era associado ao palácio de Osiris, na forma de um homem com cabeça de cão ou chacal, era o juiz que, após uma série de provas por que passava o defunto, dizia se este era justo e merecia ser bem recebido no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado por um terrível monstro, Amut. Anúbis tinha seu centro de culto em Cinópolis.
TOTH, divindade à qual era atribuída a revelação ao homem de quase todas as disciplinas intelectuais, a escrita, a aritmética, as ciências em geral e a magia. Era o deus-escriba e o deus letrado por excelência. Havia sido o inventor da escrita hieroglífica e era o escriba dos deuses; senhor da sabedoria e da magia. O que faz dele o patrono dos escribas que lhe endereçam uma prece antes de escrever. "Mestre das palavras divinas". Preside a medida do tempo, o disco na cabeça é a lua, cujas fases ritmam os dias e as noites. Representado como um íbis ou um homem com cabeça de íbis, ou ainda um babuíno.
MAÁT, esta deusa, que traz na cabeça uma pluma de avestruz, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa do senso de realidade. Filha de Rá e de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou. Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que ingressam no Dwat. Em sociedade, este respeito pelo equilíbrio implica na prática da equidade, verdade, justiça; no respeito às leis e aos indivíduos; e na consciência do fato que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido. É Maát, muito simbolicamente, que se oferece aos deuses nos templos. Protetora dos templos e tribunais.
PTAH, deus de Mênfis que foi a capital do Egito no Antigo Império, Ptah é "aquele que afeiçoou os deuses e fez os homens" e "que criou as artes". Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. Seu grande sacerdote chama-se "o superior dos artesãos". É, realmente, muito venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh. Apresenta-se com uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Tem como esposa a deusa Sekhmet e por filho Nefertum, o deus do nenúfar ( plantas aquáticas ).
SEKHMET, uma mulher com cabeça de leoa, encimada pelo disco solar, era uma de suas representações que, por sua vez, simbolizava os poderes destrutivos do Sol. Embora fosse uma leoa sanguinária, também operava curas e tinha um frágil corpo de moça. Era a deusa cruel da guerra e das batalhas e tanto causava quanto curava epidemias. Essa divindade feroz era adorada na cidade de Mênfis. Sua juba ( dizem os textos ) era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha a cor do sangue, seu rosto brilhava como o sol... o deserto ficava envolto em poeira, quando sua cauda o varria...
BASTET, uma gata ou uma mulher com cabeça de gata simbolizava a deusa Bastet e representava os poderes benéficos do Sol. Seu centro de culto era Bubástis, cujo nome em egípcio ( Per Bast ) significa a casa de Bastet. Em seu templo naquela cidade a deusa-gata era adorada desde o Antigo Império e suas efígies eram bastante numerosas, existindo, hoje, muitos exemplares delas pelo mundo. Quando os reis líbios da XXII dinastia fizeram de Bubástis sua capital, por volta de 944 a.C., o culto da deusa tornou-se particularmente desenvolvido.
KHNUM, um dos deuses relacionados com a criação era simbolizado por um carneiro, animal considerado excepcionalmente prolífico pelos egípcios. Segundo a lenda, o deus Khnum, um homem com cabeça de carneiro, era quem modelava, em seu forno de oleiro, os corpos dos deuses e, também, dos homens e mulheres, pois plasmava em sua roda todas as crianças ainda por nascer. Principal deus da Ilha Elefantina, localizada ao norte da primeira catarata do Nilo, onde as águas são alternadamente tranquilas e revoltas. Tem duas esposas Anuket (águas calmas) e Sati ( a inundação). Um dos velhos deuses cósmicos, é descrito como autor das coisas que são, origem das coisas criadas, pai dos pais e mãe das mães. Sua esposa Anuket ou Heqet, deusa com cabeça de rã, também era associada à criação e ao nascimento.
SEBEK, um crocodilo ou um homem com cabeça de crocodilo representavam essa divindade aliada do implacável deus Seth. O deus-crocodilo, era venerado em cidades que dependiam da água, como Crocodilópolis, seu centro de culto, na região do Faium, onde os sáurios eram criados em tanques e adornados com jóias, eram protegidos, nutridos e domesticados. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado. A adoração desse animal foi sobretudo importante durante o Médio Império.
TUÉRIS, (Taueret ) era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
KHEPRA, (escaravelho, em egípcio) ou um homem com um escaravelho no lugar da cabeça também representavam o deus-Sol. Nesse caso o besouro simbolizava o deus Khepra e sua função era nada menos que a de mover o Sol, como movia a bolazinha de excremento que empurrava pelos caminhos. Associados à idéia mitológica de ressurreição, os escaravelhos eram motivo freqüente das peças de ourivesaria encontradas nos túmulos egípcios.
ÁPIS, o boi sagrado que os antigos egípcios consideravam como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e que encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do boi Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos. Essa antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e sua força geradora.
BABUINO ou cinocéfalo é um grande macaco africano, cuja cabeça oferece alguma semelhança com os cães. No antigo Egito este animal estava associado ao deus Thoth, considerado o deus da escrita, do cálculo e das atividades intelectuais. Era o deus local em Hermópolis, principal cidade do Médio Egito. Deuses particularmente numerosos parecem ter se fundido no deus Thoth: deuses-serpentes, deuses-rãs, um deus-íbis, um deus-lua e este deus-macaco.
ÍBIS, uma ave pernalta de bico longo e recurvado. Existe uma espécie negra e outra de plumagem castanha com reflexos dourados, mas era o íbis branco, ou íbis sagrado, que era considerado pelos egípcios como encarnação do deus Thoth. Esta ave tem parte da cabeça e todo o pescoço desprovido de penas. Sua plumagem é branca, exceto a da cabeça, da extremidade das asas e da cauda, que é muito negra. Um homem com cabeça de íbis, era outra das representações daquele deus.
APÓFIS, a serpente que habitava o além-túmulo, representava as tempestades e as trevas. É descrita no chamado Livro de Him no Inferno, uma obra que narra a viagem do deus-Sol pelo reino das sombras durante a noite. Nessa jornada, enquanto visitava o reino dos mortos, a divindade lutava contra vários demônios que tentavam impedir sua passagem. As serpentes estavam entre os adversários mais perigosos e o demônio líder de todos eles era Apófis a grande serpente.
A mitologia egípcia inclui muitos deuses e deusas, entretanto, geralmente representam o mesmo conjunto de forças e arquétipos. O grupo acima descrito, resume de modo satisfatório o grande panorama da religião egípcia que perdurou durante milênios.
A religião egípcia pertence à classe dos cultos sem líderes. Akhenaten foi um gênio religioso e poderia ter conduzido seu povo ao monoteísmo, mas, de tal forma ultrapassara a índole de seu tempo, que seus ingentes esforços no sentido de estabelecer a crença em Aten deixaram impressão mínima na vida religiosa dos egípcios.
Os fatos da religião egípcia revelam quase nenhum progresso, dos primórdios da historia à conquista do Egito pelos romanos. Surpreende raça tão altamente evoluída na arquitetura, arte, literatura e mecânica, manter-se tão primitiva na religião.
A mais antiga religião egípcia de que temos noticia, remontando a quatro ou cinco mil anos antes de Cristo, é o animismo, com tendência para o politeísmo. Neste estágio permaneceu, praticamente, sem nenhum progresso, por milênios.
O animismo, gradativamente, cedera em tanto ao politeísmo, mas nos períodos posteriores da religião egípcia ainda encontramos a idolatria da natureza e elementos de fetichismo e magia. Os tão conhecidos deuses-animais do Egito representam o maior desenvolvimento da religião nas terras do Nilo.
O espírito de conservação era característico, e tão arraigado em sacerdotes e povos, que recebia, destes, fraco apoio a qualquer tendência para novas formas de religião. Como diz W. Max Müller ( "Religions of the Past and Present" Editado por James A. Montgomery, pág. 48.): "Não será demais insistir que todos os desvios do conservantismo reinante foram passos isolados e tímidos de um ou outro erudito mais avançado".
O fato de o maior número de relíquias dos egípcios primitivos consistir em túmulos e no que estes encerram, produziu em geral impressão popular de que os egípcios manifestavam grande interesse pela vida futura. Daí se conclui que os egípcios eram profundamente versados nos mistérios religiosos, o que não é exato. Durante longos períodos de tempo, diante dos quais a nossa civilização moderna parece evanecer, a religião das massas do Egito contava da espécie mais primitiva de idolatria da natureza. Os próprios sacerdotes não logravam acumular qualquer patrimônio de sabedoria religiosa a que possamos recorrer em nosso tempo. Mesmos os deuses que invocam, reputavam-nos falíveis, sujeitos ao sofrimento, e freqüentemente incapazes de atender aos rogos de seus fiéis. Acreditavam possuírem estes deuses "poderes pouco maiores do que pode esperar o povo com os recursos próprios da magia, da feiticeira"
Texto: Extraído do Site Luz Espírita
Enviado por Marluce Faustino/RJ
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