quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Quem são os verdadeiros ESPÍRITAS?

Por Vania Mugnato de Vasconcelos


Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.
(Allan Kardec, ESE., XVII, 4)



Ponderando com Allan Kardec, torna-se simples definir quem é verdadeiro Espírita, afinal os podemos reconhecer pelos esforços que fazem em transformar-se em pessoas moralmente melhores e em domar suas más inclinações, geradas pelas imperfeições milenares que todos carregamos na alma imortal.

No entanto, embora o desejássemos, a temática é mais complexa do que podemos pensar inicialmente. Observando com um pouco de atenção, podemos facilmente reconhecer muitos “espíritas” ainda adormecidos perante suas responsabilidades, adquiridas através dos esclarecimentos que a Codificação oferta a 152 anos.

Vemos pessoas que se intitulam “espíritas” apenas porque são ávidas leitoras de Zíbia Gasparetto, apreciam o seriado “Médium”, assistiram a novela “A Viagem”, ou acreditam que viveram como Faraós ou Rainhas no Egito. Aliás, quando se designam de “espíritas” pode-se até respirar feliz, pois há quem se auto-intitule de kardecista, como se o Espírita seguisse a pessoa Kardec e não a obra dos Espíritos que ele codificou.

Há quem se diga “espírita” sem jamais ter lido O Livro dos Espíritos (LE) e O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) - a Codificação toda, então, nem se comenta! -, e sem nunca ter se comprometido com o Evangelho no Lar, porque “esquece”, “algo dá errado” ou parece que está “falando sozinho”.

Há quem se afirme “espírita” mas ainda faz o “sinal da cruz”, diz “amém” ao final de suas preces, repete orações decoradas, chama Maria de virgem, bate cartão no cemitério em dia de Finados, batiza seus filhos em outra religião, por apego ao rito ou medo dele ser considerado “pagão”, e casa-se na igreja com a justificativa de que Deus está em todo lugar – e Ele está, mas é ilógico caminhar por duas estradas ao mesmo tempo, especialmente quando se contradizem no trajeto.

Há quem se diga “espírita” porque vai ao Centro Espírita buscar o passe e a água fluidificada, e de boa vontade, ouve a palestra esclarecedora sobre valores morais imprescindíveis à transformação íntima. E na saída compra ou empresta um romance, retornando ao lar certo de que fez tudo o que podia. Mas continua sendo assistido em vez de servidor.

Há “espíritas” que fazem de Bezerra de Menezes um Espírito santo, em vez de reconhecê-lo um incansável trabalhador do Bem que todos podemos imitar; que garantem que Chico Xavier foi Kardec; que fazem tietagem a Divaldo Pereira Franco; que pensam que André Luiz é Espírito superior e não vai mais encarnar na Terra; que lêem admirados obras de autores que dizem que Espírito engravida; que se preocupam em saber se seus filhos são índigo ou cristal; que conseguem justificar sua ânsia por um bom filé mal passado através de O Livro dos Espíritos.

Há alguns pobres “espíritas” que se deixam levar pela vaidade, achando que são privilegiados por serem médiuns ou expositores, dirigentes de trabalhos ou de Centros Espíritas; que não saem do Centro sem uma psicografia do seu mentor, que usam o ESE como bíblia, e para o qual a assinatura de nome nobre em uma obra é garantia de verdade e por isso não precisa ser questionada.

O verdadeiro Espírita realmente o é, repetindo ainda uma vez a Kardec, reconhecido por sua transformação moral e pelos esforços em domar as más inclinações que ainda carrega. Mas também o é porque estuda a Codificação inteira e, além dela, busca completar seu conhecimento estudando outras obras sérias, discutindo, comparando, usando a razão, nada aceitando sem refletir a respeito.

O verdadeiro Espírita não deseja continuar a utilizar os apoios milenares que hoje chamamos (por sua função) de “muletas”, e que por séculos sustentaram-nos a fé cega, frágil e inconstante, muitas vezes manifestada apenas porque foi gerada pelo medo, não pela compreensão da Vida e amor ao Criador.

O verdadeiro Espírita não faz do passe uma necessidade, nem da água fluidificada uma vitamina diária. Não faz cara de ingênuo enquanto coloca o mesmo nome nos pedidos de vibrações de vários Centros, pensando que várias equipes de Espírito irão ajudar, em vez de uma só. E ele não é feito de açúcar, se está comprometido com o trabalho, não teme a chuva e o frio, cumprindo sempre com sua parte.

O verdadeiro Espírita não julga todas as dores como atestado de culpabilidade, porque sabe que além de expiações, também vivemos em provas. E ele sabe que é preciso confiar que não existem acasos, e sempre será o que deve ser, mas que neste contexto temos que agir com precaução, responsabilidade, resignação e coragem.

O verdadeiro Espírita não diz que não lê Ramatís porque alguém que também não leu lhe disse que ele é um Espírito pseudo-sábio, mas se concordar com essa ideia foi porque tirou suas próprias conclusões, da mesma forma que o faz com outros autores encarnados ou não. E não esquece da objetiva mensagem de Paulo de Tarso, em I Tessalonicenses 5:21, que diz "Examinai tudo. Retende o que é bom”.

O verdadeiro Espírita não se considera dono da verdade, e por isso não tenta convencer ninguém a lhe aceitar as opiniões (aliás, não precisam aceitar as minhas!), não se melindra porque seus alvitres não são aceitos, não se exclui de um grupo porque não foi atendido em sugestão que ofertou para a resolução de um problema ou organização de um evento. Ele trabalha em grupo, democraticamente, cioso de fazer o melhor pelo Espiritismo, pelos Assistidos, pelos Espíritos, pela Causa Social, e não pelo seu Ego.

O verdadeiro Espírita não faz de conta que já vive de bônus-hora, reconhece que permanece encarnado, cumpre com as responsabilidades para com “César” (coisas do mundo) sem deixar de lado as coisas de Deus (espirituais). Ele vota, se candidata, contribui financeiramente com o sustento da Casa a que se vinculou, sem fingir que despesas se pagam com preces.

O verdadeiro Espírita lerá este texto até o final e reconhecerá que algumas realidades podem ter sido ditas; verificará se lhe servem, ponderando nos motivos que ainda o prendem a rituais de outras religiões, satisfação egoística, fanatismo e cegueira. E se admitir que realmente está se desviando do sentimento original do Espiritismo, ele procurará domar estas inclinações, estimuladas pelo mundo competitivo em que vivemos, bem como por falanges de espíritos inferiores que há muito desistiram de nos afastar da preciosa Doutrina de Luz, e focam atenção em perverter seus nobres ideais.

Este é o ESPÍRITA que fará diferença no mundo sob este título. Aqueles que se dizem “espíritas” mas ainda caminham paralelamente ao Espiritismo, também são excelentes cristãos, pessoas boníssimas, fazem toda a diferença, mas não são Espíritas, são simpatizantes da Doutrina dos Espíritos.


Fraternais abraços!

Vania Mugnato de Vasconcelos



Enviado por Jaime Khoury-Plantão da Paz/BA


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