sábado, 27 de fevereiro de 2010

Crack e álcool



 

Um dos maiores flagelos da atualidade... A matéria serve como alerta e reflexão para todos nós. Abraços, Jaime.

Crack e álcool - drogas que mais matam e destroem vidas na capital


Salvador - Bahia

Bruno Menezes | Redação CORREIO | Fotos: Marina Silva

Eles vivem dois dramas reais das ruas de Salvador. Agora, caminham juntos na esperança de mudar de vida e abandonar seus vícios: o álcool e o crack, as drogas que, hoje, mais matam no Brasil. Aos poucos, as substâncias são as vilãs que destroem as vidas de Antônio Ribeiro Chagas, 37 anos, e Geovane Silveira Santos, 30.

Antônio conheceu a atual companheira, identificada apenas como Dalas, nos botequins do Lobato, onde é chamado de Lampião. As constantes traições da mulher fizeram com que ele afundasse ainda mais no álcool. A possessividade e o ciúme também o fizeram levar, para dentro de casa, uma espingarda, com a qual Dalas foi baleada no domingo.


Posso ter levado chifre, mas abandonado não serei nunca - ANTÔNIO RIBEIRO, 37 ANOS

Já Geovane se entregou ao crack há quatro anos. Depois de fumar a primeira pedra, segundo ele, o vício foi devastador. Entrou para o tráfico, roubou a mulher e os próprios filhos. Fez empréstimos e dívidas com agiotas, que querem matá-lo. A solução encontrada foi pedir socorro numa delegacia, para se proteger de si mesmo.

Abandonado jamais
Filho de uma família estruturada que mora no Jardim Lobato, aos poucos Antônio se transformou na maior preocupação da casa. Sem filhos ou mulher, há quatro anos ele conheceu Dalas, a quem convidou para dividir o mesmo teto. Não demorou para que as brigas durante os porres de bombinhas de cachaça chamassem a atenção dos vizinhos, que atribuem ao comportamento dela o vício de Antônio.

Ex-moradora da Gamboa, ela nunca levou para a casa do atual companheiro seus dois filhos - teriam ficado sob os cuidados de parentes, onde morava. Lá, mantinha dois amantes. "E ainda tinha mais 20 homens, que moram ao longo da Avenida Suburbana. Não sei para quem ela ainda não se ofereceu naquela avenida", diz Antônio, preso acusado de tentar matar Dalas no domingo. Ele nega o crime e garante que foi a mulher quem disparou o tiro que atingiu a perna esquerda dela.

Dalas permanece internada no Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi operada e medicada. "Tomara que ela não morra. Mas, ao mesmo tempo, queria que fosse isso. Ela virou minha vida. A gente bebe muito e se acaba nos porres", conta Antônio," tonto"com a acusação que o levou para a cadeia.


Fumei minha casa toda. Tudo o que eu tinha virou crack - GEOVANE SILVEIRA, 30 ANOS

Abandono
Antônio mapeou os amantes da mulher e sabe onde mora cada um deles. Mas o que o deixou irritado, no domingo, foi o pedido de separação, feito pela mulher após algumas bombinhas de cachaça. "Posso ter levado chifre, sim. Mas abandonado não serei nunca. A gente passou o dia bebendo e, chegando em casa, ela queria ir embora. Acabou pegando o rifle embaixo da cama e atirou na própria perna. Agora, diz que eu dei o tiro", conta Antônio.

Irmão do autônomo, Hélio Ribeiro Chagas, 49, conta que tentou alertar o irmão sobre os perigos do álcool. "E sobre o barril que é essa mulher. Ela deixou ele doido e todo mundo na rua sabe que ela é uma vagabunda. É uma peça seca, estragada na vida. Baixo-astral demais. Ela lenhou ele, levou ele pra zona e para o buraco", lamenta Hélio.

Viciado pede ajuda
Ameaçado de morte por traficantes e agiotas, sem ter a quem pedir ajuda e percebendo que não há futuro aliado ao crack, Geovane, num ato de desespero, procurou a 5ª Delegacia, em Periperi. Pediu ao delegado que o salvasse dele mesmo.

Viciado, já assaltou a própria casa para trocar objetos de valor por pedras. "Troquei até os DVDs dos meus filhos por crack. Fumei minha casa toda. Tudo o que eu tinha virou pedra. Estou fumando crack há quatro anos e não aguento mais. Preciso de ajuda e preciso rápido", apela.

O delegado tenta uma vaga numa clínica de reabilitação para jovens viciados. Aos 30 anos, Geovane teve, na manhã de terça-feira (23), um surto de lucidez e resolveu pedir ajuda. A mesma que já havia pedido para amigos e parentes. "Não tenho mais coragem. E eles também não me querem mais por perto. Lesei a consciência de muita gente, pedindo dinheiro para procurar emprego. Gastei tudo com o crack e me tornei uma pessoa desacreditada", admite.

Na delegacia, aguardando para ser atendido, Geovane lembra dos primeiros passos no vício. "Não usava nada antes. Só bebia um pouco. Até que experimentei o crack pela primeira vez. Foi devastador de imediato. Viciei, mas durante oito meses consegui controlar e fumava só nos fins de semana. Depois, comecei a perder tudo. Minha casa, minha família, a confiança em mim e, por último, minha vida inteira", conta.

Recomeço
Depois de roubar tudo o que ele mesmo construiu, o pedido de ajuda vem com a esperança de mudar de vida e reconquistar a confiança da mulher e dos filhos de 13, 7 e 2 anos de idade. Ele comprava as pedras de crack na Feira de São Joaquim, em Paripe, onde mora, e nas invasões da Boca do Rio e do Nordeste de Amaralina. "Onde eu encontrava a possibilidade de comprar, se tivesse dinheiro, comprava. Agora, estou percebendo as grandes besteiras que fiz. E, com certeza, o crack foi a maior delas. Não quero mais'.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 24/02/2010 do CORREIO, Salvador - Bahia)



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Enviado por Jaime Khoury/BA
 

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