quinta-feira, 8 de abril de 2010

Espíritos desencarnados são os mesmos homens



> Como a gente deve considerar os espíritos desencarnados?

 


> Entre as pessoas comuns encontramos muita gente que tem "medo de defunto", ou seja, medo de quem já morreu, o que implica que a pessoa que já se foi pode voltar, geralmente a noite, quando vem "puxar seu pé". Por mais que tenha sido uma pessoa querida, amiga, que lhe amava, até mesmo o seu pai ou sua mãe, é muito comum as pessoas terem medo dela, pelo fato de ter morrido.
> É uma crença equivocada e extremamente confusa, porque no fundo a pessoa não sabe se acredita ou não, mas no fundo tem medo.
> Que sentido teria alguém, que sempre nos amou, aparecer à gente para nos prejudicar ou meter medo?
> Outro aspecto que todos nós identificamos:
> Toda pessoa que morre, por mais que tenha sido uma pessoa complicada e até pilantra, termina virando uma "pessoa boa", na boca de todo o mundo.
> - "Era um homem muito bom, trabalhador, amigo de todo mundo".
> Por que as pessoas sempre dizem isto?
> Até bandidos, traficantes e assassinos, quando morrem, são qualificados como pessoas que eram boas.
> Analisemos outras visões:
> Os protestantes e o universo católico praticante acham que quando a pessoa morre, fica deitada o tempo todo no seu túmulo, esperando por um tal juízo final, quando o próprio Jesus... aquele que nos ensinou o "não julgueis"... virá aqui, com chicote na mão, exatamente para julgar todo o mundo, ou seja, todos os mortos, desde os tempos de Adão e Eva até o dia final, que é quando ocorrerá a destruição total pelo Apocalipse, que eles acreditam.
> Nessa crença, Jesus levará apenas 144 mil "salvos" para viverem eternamente à direita de Deus Pai... não sei onde eles vão conseguir encontrar direita ou esquerda além da Terra... e as outras mais de vinte bilhões de pessoas serão condenadas a irem para o tal inferno, caracterizando uma esmagadora vitória do tal Satanás, sobre Deus, que não conseguiu salvar nem um milionésimo por cento dos seus filhos.
> O que não dá pra entender nessa concepção é que muitas pessoas morrem e não têm corpo para ir pra nenhum túmulo, porque os tem totalmente desintegrados por fogo, explosões, devorados, etc...
> Mas não é a análise que vem ao caso agora. O relevante aqui é entender que eles acreditam que está todo mundo morto e que, segundo diz Paulo aos Hebreus, ninguém que morre volta.
> No entendimento católico, algumas pessoas que morrem podem estar vivas, sim, desde que o Vaticano assim queira e resolva canonizá-las, não importam quais foram os seus padrões de moralidade, quando vivas. É o caso dos "santos", que estão aí aparecendo pra todo mundo, fazendo "milagres", ajudando pessoas, salvando pessoas, inclusive a mãe de Jesus, Maria, que de vez em quando aparece para alguém em algum lugar do mundo.
> Então, entende-se que para a igreja católica algumas pessoas que já morreram continuam vivas, sob a denominação de santas, outorgadas pelo Vaticano.
> Até o Constantino, imperador, um tremendo assassino, praticante das maiores atrocidades, é considerado santo, pela igreja.
> O bom senso nos sugere que uma pessoa que era bandida, morreu sendo bandida e uma pessoa que sempre foi boa e honesta, morreu boa e honesta.
> Vejamos, agora, um aspecto interessante acerca dos momentos em que as pessoas morrem:
> Antigamente, quando alguém morria, os velórios e enterros eram extremamente tristes, lúgubres, extremamente baixo astral, gente de roupa preta, muita gente chorando e até choradores profissionais eram contratados (as chamadas carpideiras), para o local ficar o mais triste possível. Panos pretos nas portas das casas e todo mundo com as caras extremamente sérias, do ponto de vista da aparência.
> Quando adotavam algumas músicas, eram as cafonérrimas marchas fúnebres, geralmente composições de extremo mau gosto.
> Enfim, o velório era alguma coisa que traumatizava crianças e fazia muita gente ficar com a imagem da cara do defunto em sua cabeça, durante muito tempo, inclusive sem conseguir dormir direito.
> Se analisarmos bem, verificaremos que houve certa evolução, por parte da sociedade, acerca da pessoa que morreu. Os velórios evoluíram.
> Hoje já não encontramos mais aquela coisa horrorosa do passado. Não há mais aquela predominância da roupa preta, as pessoas sorriem e até encontramos gaiatos contando piadas e outro morrendo de rir, inclusive filhos e parentes do morto. Virou moda os presentes aplaudirem o morto e é muito comum encontrarmos pessoas cantando músicas populares, inclusive sambas e pagodes, ao lado do caixão, geralmente músicas que o morto gostava, quando em vida. A música fúnebre já caiu em desuso, há muito tempo, e nem no dia de finados a gente escuta mais esse tipo, nem nas rádios.
> Vejam o detalhe deste entendimento popular: Acreditam que se a pessoa gostava de samba e de pagode, depois de morto deve continuar gostando.
> Quem foi que ensinou isto para as pessoas comuns? Por acaso, elas estudam a natureza dos espíritos depois que desencarnam?
> Não. A cultura comum não estuda isto e a iniciativa deve ter origem na prática do bom senso, que independe de crença religiosa ou filosófica.
> Faremos agora uma análise da visão de nós espíritas, acerca de pessoas que já desencarnaram. Não posso mais usar o termo que "já morreram".
> Somos praticantes da doutrina que estuda, mais que qualquer outra, a realidade do mundo espiritual, como vivem os espíritos, de onde viemos e para onde vamos.
> A nossa base de análise é "O Livro dos Espíritos" que, em seu capítulo 3, que fala do "Retorno da vida corporal à vida espiritual", nos apresenta em sua questão 150, a pergunta de Kardec aos Espíritos:
>
> 150 – A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?
>
> Resposta: "Sim, ela nunca a perde. O que seria ela se não a conservasse?"
>
> Mas ele não ficou satisfeito com essa resposta simples e, como todo homem inteligente, procurou esclarecer-se melhor, fazendo uma outra pergunta, dentro da mesma questão:
>
> Como a alma continua a ter a sua individualidade, uma vez que não possui mais o seu corpo material?
>
> Resposta: Ela ainda tem um fluido que lhe é próprio, tomado da atmosfera de seu planeta e que representa a aparência da sua última encarnação: seu perispírito.
>
> Esta questão deixa claro que a pessoa, ao desencarnar, mantém a sua individualidade, ou seja, as suas características. Quem foi culto, continuará culto; quem estudou apenas o primeiro grau não vai ter conhecimento de nível universitário, só porque morreu; quem foi baixo astral, continuará sendo baixo astral; quem foi carinhoso e afetuoso com as pessoas, continuará sendo carinhoso e afetuoso; quem foi apaixonado pelo Flamengo, continuará sendo rubro negro.
> Raciocinemos, já que somos praticantes de uma doutrina que propõe a racionalidade:
> Que sentido tem você levar flores para o velório de uma pessoa que nunca teve qualquer afinidade com flores? Vai colocar flores no seu túmulo, pra quê?
> Há pessoas, poucas, principalmente mulheres, que adoram receber flores. Estas, sim, ficariam felizes ao receberem os seus buquês de flores. Mas todo mundo gostaria?
> A mesma coisa é a mania que muitos têm de acenderem velas. Pra quê?
> Relembremos o que ensina a doutrina: "A pessoa mantém a mesma individualidade", ou seja, os mesmos gostos, os mesmos sentimentos, paixões, desejos, amores e inclusive ódios.
> O cidadão desencarnado continuará andando por aqui, porque a doutrina nos ensina também que não existe um local determinado onde os espíritos vivem e que o mundo deles é aqui mesmo, ao nosso lado, e que influenciam em nossas vidas muito mais do que a gente supõe.
> Se o elemento, que era flamenguista roxo, vive por aqui, é óbvio que ele vai querer ir ao Maracanã toda vez que o Flamengo joga, vai torcer do mesmo jeito, via ficar feliz quando o time ganha, triste quando o time perde e até xingar a mãe do juiz.
> Se ele sempre gostou das músicas do Zeca Pagodinho, que tipo de música ele vai gostar de escutar? Será marcha fúnebre?
> Se sempre foi uma pessoa bem humorada, sempre gostou de estar em ambientes alegres, com pessoas dando gargalhadas, falando bobagens, contando piadas, pessoa extremamente popular, você acha que ele iria gostar de vir aqui, sentar-se nas cadeiras do teatro municipal, naqueles momentos em que orquestras de câmara tocam músicas eruditas?
> Escutar Bach, Bettooven, Chopin, Mozart, Tchaikovicz, etc...?
> Que diabo ele iria fazer lá, se nunca teve qualquer afinidade com aquele tipo de música?
> Gente, quem foi advogado, ao voltar aqui vai gostar de dar uma voltinha lá pelo fórum, porque ali ele tem sintonia. Quem foi médico ou enfermeiro, vai querer dar uma voltinha pelos hospitais e quem foi traficante de drogas vai continuar nos ambientes onde se traficam drogas e por aí vai.
> Observemos, então, como procedemos nós, espíritas, no intercâmbio mediúnico, que é o momento em que nós conversamos naturalmente com os espíritos e temos consciência de que eles são exatamente as mesmas pessoas que aqui viveram, conservando as suas mesmas individualidades, as suas características:
> Os recebemos em ambientes escuros, ou semi-escurecidos. Todo mundo de cabeça baixa, maioria com olhos fechados, aquele silêncio, aquela coisa "séria", caras fechadas, ninguém pode sorrir, ninguém pode brincar e... qual o tipo de música que os centros, que adotam músicas, colocam para ele? Ave Maria de Gounod, Serenata de Schubert e outras consideradas "músicas de oração".
> Uai, apesar da beleza da Ave Maria de Gounod, é esse tipo de música que lhe faz alegre e feliz?
> Ainda tem aquela recomendação: Não se pode fazer qualquer tipo de pergunta aos espíritos.
> Por que?
> Será que toda pergunta feita aos espíritos, fora da seriedade mascarada, necessariamente é pergunta fútil?
> -Ninguém deve estar indagando quem é o espírito, qual o seu nome.
> Por que não? Vejamos o quanto a visão estreita dá um entendimento equivocado à instrução espírita:
> A doutrina nos sugere que a identificação do espírito comunicante não é o mais relevante, que o mais importante é o conteúdo na mensagem que ele apresenta. Correto, mas isto não quer dizer que não devamos perguntar e muito menos que o perguntar seja desrespeitoso ao espírito.
> Há confrades que dizem que sorrir é falta de respeito, que contatos bem humorados com espíritos é falta de respeito, que postura alegre em reunião mediúnica é falta de respeito... tudo é falta de respeito.
> Que diabo de conceituação mais maluca acerca do respeito é esta que muita gente ainda tem?
> Será que não estamos vivendo, em nossas reuniões mediúnicas, o mesmo baixo astral dos velórios de antigamente?
> O povo leigo, que não estuda a natureza dos espíritos, evolui neste aspecto e nós espíritas não?
> Eu costumo fazer palestras em centros espíritas e abordo estas questões. Geralmente a grande maioria dos freqüentadores gosta e a gente sente isto ao final da palestra, pelas manifestações. Todavia, de vez em quando, aparece uma daquelas criaturas que sempre entendem a doutrina mais do que todo mundo, pra vir com aquele tipo de reação:
> - "O Alamar quer que se toque `na boquinha da garrafa' nos centros espíritas".
> Sempre existe esse tipo de reação, característica daquela pessoa que diz que a gente está querendo que coloquem toalhas pretas nas mesas, quando questionamos o porquê da insistência nas toalhas de cor branca.
> Na visão estreita, não existem as cores beges, azul claro, verde claro, cinza, rosa clarinho e cor nenhuma entre o branco e o preto. O extremismo é cego em relação ao meio termo.
> Eu, particularmente, quando tenho a oportunidade de falar com algum espírito desencarnado, converso normalmente, descontraidamente, da mesma maneira, com as mesmas expressões e do mesmo jeito que converso com as pessoas encarnadas do centro espírita que me convidou a participar da mediúnica.
> Recentemente recebi um e-mail de uma pessoa, que não sei quem é, mas com características de perturbada, profundamente irritada porque alguém havia lhe retransmitido um outro e-mail com uma matéria escrita por mim, onde eu me dirigia à Joanna de Ângelis, como "Joaninha". Foi um Deus-nos-acuda, ela achou aquele tratamento desrespeitoso ao espírito, fez todas as repreensões que se acha no direito e mandou que eu estudasse Espiritismo.
> Vejamos bem: A Joanna de Ângelis, segundo consta, não se relaciona com o Divaldo como a chefa dele, a dona dele, o rigoroso sargentão que não quer papo com o soldado e nada parecido. Ela se relaciona, há muitos anos, como uma amiga querida, afetuosa, carinhosa e também muito bem humorada, como bem humorado é ele. Quem gosta do Di, (ela ficou com raiva, também, pelo fato de eu tê-lo tratado como Di. É assim que o pessoal da Bahia o trata, carinhosamente), obviamente tem também carinho por esse benfazejo espírito. Qual o mal teria alguém o tratar de forma tão carinhosa?
> Não podemos ter a pretensão de querer mudar a rotina de um movimento que, apesar de ter lido, na própria obra básica da doutrina, que a doutrina não é idéia congelada, não é idéia acabada e que deve-se evoluir conforme a ciência e as novas descobertas que atendam a coerência e não agridem a moralidade, não faz o menor esforço em rever conceitos. Mas quero exercer o meu direito de observação e sugestão para que as pessoas analisem a questão com outros olhos.
> Afinal de contas, O Espiritismo é uma doutrina que tem uma característica fascinante, que encanta a todos nós: O respeito absoluto pela liberdade das criaturas, inclusive o nosso direito de questioná-lo.
> Abração a todos.
>
> Alamar Régis Carvalho
> alamar@...
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> orkut "alamarregis"

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