quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mensagem psicografada - Terça 06/07/2010






As duas Damas

 

Vinha vestida num manto negro, vestes amassadas, olhos fundos, feições encovadas.

Mirei-a no instante da passagem, seguindo a poeira que se erguia do seu andar entediante e deslustrado.

Olhou-me e dirigiu a mim palavras salteadas, enxurrando o chão de melancolia.

Disse-me...

Tu me conheces, embora não te recordas do meu hálito frio.

Eu sou a corda rompida da cítara que não pode mais soar.

Sou a flauta sem sopro, muda diante do silêncio intragável.

Eu sou o musgo bolorento que se insinua por entre as raízes vivas.

Sou quem suga o ânimo e faz solver das ânforas o pesar.

Visito crianças, jovens, homens e mulheres, e as cãs alvas da idade...

Assusto a todos com desespero.

Sou inimiga oculta que chega sem se anunciar. Todos me evitam com medo da minha estadia em suas vidas.

Tenho a força para mudar o instante daquele que se julga imbatível.

O mais forte dos homens treme ao meu enlace e se desfaz em lágrimas como débil menino.

O mais poderoso dos reis rasteja aos meus pés quando o cortejo.

As portas se fecham ao meu sussurro.

O dourado do ocaso é negro quando chego.

A ampulheta rápida do tempo parece infindável, sem deixar cair a areia interminável das horas unidas a mim.

Eu sou, eu fui, serei a maior dominadora do instante que nunca passa.

Curioso indaguei a temível dama de negro... Quem és tu?

Disse-me então com a voz velada...

Eu sou a dor!

Sou eu quem coloca algemas nos pulsos da ilusão humana e cala a ansiosa alegria, fazendo-os rastejar na realidade que desperta para a aflição.   

Falou assim e deu de ombros, enfurnando-se na tristeza da solidão.

Foi quando percebi chegar saltitante por entre o canavial que se levantava dobrando em aplausos, aloirada dama que os raios solares beijava sofregamente a pele alva, irradiando alacridade e júbilo.

As aves emplumadas gorjeavam alarmante cantoria.

As madresilvas dançavam ao vento, suando o ar com o seu perfume.

Na ventura alegre do momento, as ninfas acompanhavam o cortejo em festa, correndo pelo capinzal, declamando versos aos ouvidos atentos.

De soslaio, a dama rodopiou com as vestes brancas a brandir no ar, tal quais asas abertas, prontas para o vôo e endereçou-me um olhar de brilho.

Absorto pelo ridente vicejante da sua face, perguntei...

E tu, quem és tu dama ensolarada?

Em trovas de contentamento me disse...

Eu sou aquela que vem trazer água para refrescar o ardor.

Sou o lume que carrega dádivas aos pobres e sofredores.

Sou a grande promessa as almas.

Sou desejada por todos, indistintamente! Quem não desejaria receber o meu abraço?

Porém, os homens, só me conhecem por partes, nunca divisando a minha totalidade, que preservo para os puros de coração.

Insinuo-me pelos caminhos e quando adentro os lares, transformo-os em festa de regozijo.

Sou o primeiro beijo dos namorados apaixonados.

Sou o primeiro olhar da mãe quando vê o filhinho nascer.

Sou o viço da generosidade...

Sou a frondosa terra no afagar da semente.

Sou o maior tesouro, oculta na bondade...

Sou o fanal da vida humana.

Sou a flor que brota em pétalas de esperança...

Sou as pegadas perseguidas.

A aproximação do Éden...

Entendendo a importância suprema que se agigantava por lábios tão seculares, tanto mais curioso, indaguei... Dizes... por tudo... quem tu és?

Eu?...

Eu sou a felicidade!

Felicidade que ultrapassando os momentos do encontro com a dor, tendo com ela aprendido, pode enfim bailar livremente nos jardins da existência.

 

Tagore

Mensagem recebida na reunião mediúnica da

Fraternidade Espírita Irmã Scheilla em 06/07/2010







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