quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ESPÍRITO DA VERDADE (E NÃO DE)

O Espírito de Verdade, quem seria ele?

 

I – Introdução

Assunto ainda polêmico no meio Espírita, já que para uns o Espírito de Verdade é Jesus, outros já dizem ser uma comunidade de espíritos superiores e para muitos outros, tanto faz. Talvez não seja um assunto de suma importância, mas convenhamos, não deveria ser objeto de tantas discussões, pois a essa altura do campeonato – praticamente um século e meio de Doutrina -, nós, os Espíritas, já deveríamos ter plena certeza de quem realmente assinou, nas obras da Codificação, com esse codinome.

Tentaremos trazer nossa contribuição, na condição de ser apenas um estudioso, para, quem sabe por ousadia, resolver de vez essa questão, definindo claramente quem é o Espírito de Verdade.

Deixaremos claro, de início, que não temos a pretensão de refutar nenhum artigo escrito sobre o assunto, apenas, reafirmamos, queremos contribuir para elucidar a questão.

II – Seria uma comunidade de Espíritos?

Encontramos algumas comunicações em que poderemos tomar por base para responder a essa questão.

Perguntou-se ao Espírito Jobard:

"Vedes os Espíritos que estão aqui convosco? – R. Eu vejo sobretudo Lázaro e Erasto; depois, mais distante, o Espírito de Verdade, planando no espaço; depois, uma multidão de Espíritos amigos que vos cercam, apressados e benevolentes". (Revista Espírita 1862, p. 75).

Ao Espírito Sanson, se fez a seguinte pergunta:

"Não vedes outros Espíritos? – R. Perdão; o Espírito de Verdade, Santo Agostinho, Lamennais, Sonnet, São Paulo, Luís e outros amigos que evocais, estão sempre em vossas sessões". (Revista Espírita 1862, p. 175).

Numa comunicação de Lacordaire, lemos:

"Era preciso, aliás, completar o que não havia podido dizer então, porque não teria sido compreendido. Foi porque uma multidão de Espíritos de todas as ordens, sob a direção do Espírito de Verdade, veio em todas as partes do mundo e em todos os povos, revelar as leis do mundo espiritual, das quais Jesus havia adiado o ensinamento, e lançar, pelo Espiritismo, os fundamentos da nova ordem social. Quando todas as bases lhe forem postas, então virá o Messias que deverá coroar o edifício e presidir à reorganização com a ajuda dos elementos que terão sido preparados". (Revista Espírita 1868, p. 47).

Pela informação desses três Espíritos podemos concluir que não se trata de uma coletividade, mas sim de uma individualidade. Mas sigamos em frente. Devemos, para dissipar todas as possíveis dúvidas, trazer o testemunho do próprio Kardec, que afirma:

"O Espírito que ditou a comunicação acima é, pois, muito absoluto no que concerne a qualificação de santo, e não está na verdade dizendo que os Espíritos Superiores se dizem simplesmente Espíritos de verdade, qualificação que não seria senão um orgulho mascarado sob um outro nome, e que poderia induzir em erro se tomado ao pé da letra, porque ninguém pode se gabar de possuir a verdade absoluta, não mais do que a santidade absoluta. A qualificação de Espírito de Verdade, não pertence senão a um e pode ser considerado como nome próprio; ela é especificada no Evangelho. De resto, esse Espírito se comunica raramente, e somente em circunstâncias especiais; deve-se manter em guarda contra aqueles que se apoderam indevidamente desse título: são fáceis de se reconhecer, pela prolixidade e pela vulgaridade de sua linguagem". (Revista Espírita 1866, p. 222).

Não restando, portanto, a nós mais dúvida quanto a ser ou não uma coletividade já que as informações nos apontam para uma individualidade.

Já que Kardec disse que a qualificação do Espírito de Verdade encontra-se especificada no Evangelho, seguiremos sua orientação e, mais à frente, iremos ver o que lá podemos encontrar sobre isso.

III – Seria ele o Consolador?

Vejamos essa passagem de João:

"Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja eternamente convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito". (João, 14, 15-18 e 26).

Por Jesus ter dito que enviaria outro Consolador, muitos querem concluir que o Espírito de Verdade não é Jesus. Observar que Jesus disse "O Espírito de Verdade... vós o conheceis..." não estaria ele aí exatamente já se colocando como o próprio Espírito de Verdade? Acreditamos que sim. Mas a respeito desse assunto coloca Kardec, em "A Gênese", cap. XVII, item 39 (p. 340), o seguinte:

"Qual deve ser esse Enviado? Jesus dizendo: 'Eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador', indica claramente que esse Consolador não é ele mesmo, do outro modo teria dito: 'Eu retornarei para completar o que vos ensinei'. Depois acrescentou: A fim de que fique eternamente convosco e ele estará em vós. Isto não se poderia entender de uma individualidade encarnada que não pode permanecer eternamente conosco, e ainda menos estar em nós; mas se compreende muito bem de uma doutrina, a qual, com efeito, quando assimilada, pode estar eternamente conosco. O Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade".

Assim, Kardec conclui que o Consolador é o Espiritismo, cujo inspirador foi o Espírito de Verdade, separando uma coisa de outra, ou seja, a idéia que o Espírito de Verdade é o Consolador.

Antes, nesse mesmo livro, no Cap. I – Caracteres da revelação Espírita (p. 31), disse Kardec:

"... reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo com respeito ao Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade quem preside ao grande movimento de regeneração, a promessa do seu advento se encontra realizada, porque, pelo fato, é ele o verdadeiro Consolador".

O que mostra claramente a separação que fazia entre Espírito de Verdade e o Consolador. Kardec ao dizer no final que "é ele o verdadeiro Consolador", o "ele" aqui está se referindo ao Espiritismo e não ao Espírito de Verdade, ressaltamos para que não se venha confundi-los no entendimento desse texto.

Também podemos observar que nessa passagem bíblica Jesus diz "voltarei para vós", profecia que se realizou quando da implantação do Espiritismo.

IV – Quando ele aparece pela primeira vez?

 

No dia 24 de março de 1856, Kardec estava, em seu escritório, escrevendo um texto sobre os Espíritos e suas manifestações, quando, por várias vezes, ouviu repetidas batidas cuja causa não logrou sucesso em encontrar. No dia seguinte, era dia de sessão na casa do Sr. Baudin, lá Kardec interroga ao Espírito Z (Zéfiro) sobre a origem das batidas. Acontecimento que consta do livro "Obras Póstumas" (pp. 264-265), da seguinte forma:

Perg. – Sem dúvida, ouvistes o fato que acabo de citar; poderíeis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência? - Resp. – Era teu Espírito Familiar. Perg. – Com que objetivo vinha bater assim? - Resp. – Queria se comunicar contigo. Perg. – Poderíeis dizer-me o que é que ele queria de mim? - Resp. – Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.

Aqui Kardec coloca a seguinte nota:

Nessa época não se fazia distinção entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos; eram confundidos sob a denominação geral de Espíritos familiares.

Perg. – Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, vos agradeço por ter vindo me visitar; quereríeis me dizer quem sois? - Resp. – Para ti, me chamarei A Verdade, e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição.

Indagando sobre o porquê das batidas teve como resposta que havia um erro no que estava, naquela ocasião, escrevendo, fato que depois se confirmou.

Voltando às perguntas, Kardec diz:

Perg. O nome de Verdade, que tomastes, é uma alusão à verdade que procuro? Resp. Talvez; ou, pelo menos, é um guia que te protegerá e te ajudará. Perg. Depois posso vos evocar em minha casa? – Resp. – Sim, para te assistir pelo pensamento; mas, para respostas escritas em tua casa, não será senão em muito tempo que poderás obtê-las.

Perg. Animastes algum personagem conhecido na Terra? – Resp. Eu te disse, para ti, era a Verdade; esse para ti queria dizer discrição: disso não saberás mais.

Em nota acrescida às respostas obtidas do Espírito de Verdade, realizada na casa do Sr. Baudin, a 09 de abril de 1856, Kardec, nos informa (p. 266):

"A proteção desse Espírito, do qual estava longe de supor a superioridade, com efeito, jamais me faltou. Sua solicitude, e a dos bons Espíritos sob as suas ordens, se estende sobre todas as circunstâncias de minha vida, seja para aplainar as dificuldades materiais, seja para me facilitar o cumprimento de meus trabalhos, seja, enfim, para me preservar dos efeitos da malevolência de meus antagonistas, sempre reduzidos à impossibilidade. (...)".

O que nos deixa bem claro que Kardec ficou sabendo quem era o Espírito de Verdade, e confessa que estava longe de supor a superioridade desse Espírito. Isso nos leva a concluir que alguém de extraordinário valor deveria ser, pois se não fosse algum Espírito de elevada categoria, teria dito o seu nome sem maiores reservas. Por outro lado, foi um Espírito que esteve encarnado entre nós, caso contrário não poderia ser reconhecido como alguém de elevada evolução.

Algumas objeções têm-se feito quanto a essa superioridade do Espírito de Verdade, tendo em vista, principalmente, dois pontos: que dar pancadas não seria coisa que um Espírito superior faria, pois estaria se rebaixando caso o fizesse; e também por ter sido tratado de Espírito familiar.

Para o primeiro ponto podemos encontrar uma explicação do próprio Kardec, em "O Livro dos Médiuns", segunda parte – Cap. XI, item 145 (pp. 168-169):

"Resta-nos destruir um erro bastante difundido, e que consiste em confundir todos os Espíritos que se comunicam por meio de pancadas como os Espíritos batedores. A tiptologia é um meio de comunicação como outro, e não é mais indigna dos Espíritos elevados do que a escrita ou a palavra. Todos os Espíritos, bons ou maus, podem, pois, dela se servirem tão bem como de outros modos. O que caracteriza os Espíritos superiores é a elevação de pensamento, e não o instrumento do qual se servem para transmiti-lo; sem dúvida que preferem os meios mais cômodos e sobretudo os mais rápidos; mas, na falta de lápis e de papel, se servirão sem escrúpulos da vulgar mesa falante, e a prova disso está em que se obtêm, por esse meio, as coisas mais sublimes.(...)"

"Todos os Espíritos que batem não são, pois, Espíritos batedores; este nome deve ser reservado para aqueles que se podem chamar de batedores de profissão, e que com ajuda deste meio, se comprazem em pregar peças para divertir uma sociedade, ou para vexar pela importunidade. ... Ajuntemos que, se agem freqüentemente por sua própria conta, também são, a miúdo, instrumentos dos quais se servem os Espíritos superiores quando querem produzir efeitos materiais".

Agora quanto ao segundo ponto, ou seja, de ter sido identificado como um Espírito Familiar, temos também a explicação de Kardec de que na época não se fazia nenhuma distinção entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos, eram todos genericamente chamados de Espíritos familiares, que citamos anteriormente.

Assim, o Espírito de Verdade se apresenta a Kardec, que por motivo de discrição não disse absolutamente mais nada sobre si mesmo.

Observar que isso aconteceu antes do lançamento de O Livro dos Espíritos, se tivesse dito a Kardec quem realmente ele era, e Kardec, por sua vez, tivesse divulgado tal coisa, como estaria o Espiritismo hoje? Considerando que ainda não estamos nos fins dos tempos, época que deverá acontecer a parusia, alguém aceitaria ou acreditaria se fosse revelada a identidade desse Espírito? Teria o Espiritismo sobrevivido? Sua sobrevivência se deve ao fato que no princípio Kardec sempre procurou ressaltar o aspecto científico da Doutrina que acabara de codificar. Isso não foi, por que quis, mas atendendo orientação do Espírito de Verdade.

Em 9 de agosto de 1863 Kardec, prestes a lançar o "Evangelho Segundo o Espiritismo", fica sabendo o real objetivo do Espiritismo:

"Eis que a hora se aproxima em que será preciso declarar abertamente o Espiritismo por aquilo que ele é, e mostrar a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; a hora se aproxima em que, diante do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana". (Obras Póstumas, p. 298).

Poucos dias depois, a 14 de setembro de 1863, Kardec recebe mais uma mensagem, onde ressaltamos os trechos:

"(...) Nossa ação, sobretudo a do Espírito de Verdade, é constante ao teu redor, e tal que não podes recusá-la. (...) Com essa obra, o edifício começa a se livrar de seus alicerces, e já se pode entrever a sua cúpula se desenhar no horizonte". (Obras Póstumas, p. 299).

Allan Kardec reconhecia o Espírito de Verdade como seu guia espiritual, conforme podemos confirmar em seus escritos publicados na Revista Espírita 1861 (p. 356):

"Sim, senhores, este fato é não só característico, mas é providencial. Eis, a este respeito, o que me dizia ainda ontem, antes da sessão, o meu guia espiritual: o Espírito de Verdade".

V – A quem esse nome poderia qualificar?

Mas afinal, a quem poderíamos qualificar com o codinome A Verdade? De onde podemos tirar algo para relacionar com ele? Se o Espiritismo, conforme sustentam os Espíritos superiores, é o Cristianismo redivivo, só podemos encontrar alguma coisa no Evangelho, o que também foi sugestão de Kardec para que fizéssemos, conforme dito anteriormente.

Fizemos uma pesquisa, procurando eliminar as passagens comuns entre os evangelistas e encontramos a expressão "Em verdade vos digo" dita por Jesus por 60 (sessenta vezes), número que reportamos significativo. Podemos enumerar mais duas outras passagens para demonstrar a importância que Ele dava à palavra verdade. A primeira: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14,6). Desdobrando, a parte inicial, temos: Eu sou o caminho. Eu sou a Verdade. Eu sou a vida. Será que por aqui já não daria para identificarmos quem poderia se denominar A Verdade? A segunda: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8,32). A partir do advento do Espiritismo, nós ficamos livres ou não? Será que ainda estamos encabrestados pelos líderes religiosos, que nos impunham a ferro e fogo (do inferno, é claro) seus dogmas e erros teológicos? Será que a partir dele não temos em nossas mãos a nossa salvação, que antes se encontrava nas mãos dos líderes religiosos? É liberdade ou não? Pensamos que sim.

Essas passagens nos levam a concluir que Jesus é o Espírito de Verdade, pois estariam nelas as razões de ter usado o nome: A verdade.

Algum Espírito superior teria a coragem de usar o codinome A Verdade, sabendo que poderíamos relacioná-lo a Jesus? Impossível, pois a superioridade que possui não lhe permitiria dizer coisas dúbias que poderiam levar as pessoas a pensarem coisas equivocadas, principalmente em se tratando de levar alguém a confundi-lo com Jesus.

VI – O que os Espíritos disseram?

Na Revista Espírita 1861 (p. 169), destacamos um trecho da carta do Sr. Roustaing, de Bordeaux a Kardec:

"Agradeço com alegria e humildade esses divinos mensageiros por terem vindo nos ensinar que o Cristo está em missão sobre a Terra, para a propagação e o sucesso do Espiritismo, essa terceira explosão da bondade divina, para cumprir esta palavra final do Evangelho: 'Unum ovile et unus pastor', por terem vindo nos dizer: 'Não temais nada! O Cristo (chamado por eles Espírito de Verdade), a Verdade é o primeiro e o mais santo missionário das idéias espíritas'. Estas palavras me tocaram vivamente, e me perguntava: 'Mas onde está, pois, o Cristo em Missão na Terra?' A Verdade comanda, segundo a expressão do Espírito de Marius, bispo das primeiras idades da Igreja, essa falange de Espíritos enviados por Deus em missão sobre a Terra, para a propagação e o sucesso do Espiritismo".

Assim, Roustaing diz a Kardec que os Espíritos com os quais ele tinha relação diziam ser o Cristo o Espírito de Verdade. Julgamos importante essa informação por ela ter vindo fora do círculo de amizade do Codificador.

Vejamos agora algumas comunicações de Espíritos relacionados à Codificação Espírita:

Em 20 de janeiro de 1860 de Chateaubriand:

"Sois guiados pelo verdadeiro Gênio do Cristianismo, eu vos disse; é porque o próprio Cristo preside aos trabalhos de toda natureza que estão em vias de cumprimento para abrir a era de renovação e de aperfeiçoamento que vos predizem os vossos guias espirituais. (...)" (Revista Espírita 1860, p. 62).

Em 19 de setembro de 1861 de Erasto aos Espíritas lionenses:

"Não poderíeis crer o quanto nos é doce e agradável presidir ao vosso banquete, onde o rico e o artesão se acotovelam bebendo fraternalmente; onde o judeu, o católico e o protestante podem se sentar na mesma comunhão pascal. Não poderíeis crer o quanto estou orgulhoso em distribuir, a todos e a cada um, os elogios e os encorajamentos que o Espírito de Verdade, nosso mestre bem-amado, me ordenou conceder às vossas piedosas coortes (...)". (Revista Espírita 1861, p. 305).

Em 14 de outubro de 1861 Kardec lê a mensagem de Erasto aos Espíritas de Bordeaux:

"Sei o quanto vossa fé em Deus é profunda, e quão fervorosos adeptos sois da nova revelação; é por isso que vos digo, em toda a efusão de minha ternura por vós, estaria desolado, estaríamos todos desolados, nós que somos, sob a direção do Espírito de Verdade, os iniciadores do Espiritismo na França, se a concórdia das quais destes, até este dia, provas brilhantes viessem a desaparecer de vosso meio. (...) Devo vos fazer ouvir uma voz tanto mais severa, meus bem-amados, quanto o Espírito de Verdade, mestre de nós todos, espera mais de vós". (Revista Espírita 1861, pp. 348/350).

Em 21 de novembro de 1861 de Antoine (Espírito que foi o pai de Kardec):

"Aquele, diz-se, que tiver resistido a essas tristes tentações, pode, não esperar a mudança dos decretos de Deus, os quais são imutáveis, mas contar com a benevolência sincera e afetuosa do Espírito de Verdade, o Filho de Deus, o qual saberá, de maneira incomparável, inundar sua alma da felicidade de compreender o Espírito de justiça perfeita e de bondade infinita, e, por conseqüência, salvaguardá-lo de toda nova armadilha semelhante". (Revista Espírita 1862, p. 343).

Em 17 de setembro de 1863 de São José:

"Compreendei bem que quanto mais conduzirdes os homens a vos imitar, mais o conjunto de vossas preces terá poder. Tomai os homens pela mão, e conduzi-los no verdadeiro caminho onde engrossarão a vossa falange. Pregai a boa doutrina, a doutrina de Jesus, a que o próprio Divino Mestre ensina em suas comunicações, que não fazem senão repetir e confirmar a doutrina dos Evangelhos. Aqueles que viverem verão coisas admiráveis, eu vo-lo digo". (Revista Espírita 1863, pp. 365-366).

Em Paris, 1863 de Erasto:

"Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo. Caminhai, pois, em vosso caminho imperturbavelmente, sem vos preocupar com as zombarias de uns e amor-próprio ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu senhor e o vosso". (Revista Espírita 1868, p. 51).

Observem "nosso Mestre bem-amado", "Mestre de nós todos", "o Filho de Deus", "Divino Mestre" e "Meu Senhor e o vosso", a quem poderemos dar esses títulos? Isso mesmo, só existe um ser a quem podemos aplicá-los, que não é outro senão o próprio Jesus. A isso poderemos ainda reforçar usando da fala de São José que diz taxativamente que "o próprio Divino Mestre ensina em suas comunicações".

Uma comunicação, sem data e local, do Espírito Hahnemann:

"... cada um procurará, pela melhoria de sua conduta, adquirir esse direito que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido". (Revista Espírita 1864, p. 16).

Quem cabe a direção do nosso globo? Segundo nos informam os Espíritos a Jesus, assim, via de conseqüência, é ele o Espírito de Verdade.

E mais recentemente poderemos colocar do livro Missionários da Luz (p. 99) a explicação do espírito Alexandre a André Luiz:

"- Mediunidade – prosseguiu ele, arrebatando-nos os corações – constitui meio de comunicação; e o próprio Jesus nos afirma: 'eu sou a porta... se alguém entrar por mim será salvo e entrará, sairá e achará pastagens!' Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor?".

Reafirmando, mais uma vez, agora com uma informação mais recente, que o Espírito de Verdade é o Senhor, ou seja, Jesus.

VII – Kardec disse alguma coisa?

A primeira vez que Kardec fala, em suas obras, sobre esse episódio foi no livro "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas" (Iniciação Espírita, pp. 231/232), onde diz que o Espírito usou um nome alegórico e que soube depois, por outros Espíritos, ter sido ele "um ilustre filósofo da antiguidade". Entretanto, quando lança "O Livro dos Médiuns" (p. 92), que, segundo ele mesmo, substitui o primeiro por ser "muito mais completo e sobre um outro plano" (Revista Espírita 1860, p. 256), ao relatar novamente essa comunicação, já fala que "ele pertencia a uma ordem muito elevada, e que desempenhou um papel muito importante sobre a Terra", e, finalmente, no livro "Obras Póstumas" (pp. 263-265), quando relata todo o acontecimento ele fala que o Espírito usou o codinome "A Verdade", se abstendo de revelar quem realmente teria sido. (ver item IV).

Porque será que Kardec muda a fala? Para encontrarmos a explicação, devemos ver algumas observações que faz a respeito das comunicações:

  1. Recebida em 11 de dezembro de 1855: "Vê-se, por essas perguntas, que eu estava ainda bem novato sobre as coisas do mundo espiritual". (p. 262).
  2. Recebida em 25 de março de 1856: "Nessa época não se fazia distinção entre as diversas categorias de Espíritos simpáticos; eram confundidos sob a denominação geral de Espíritos familiares". (p. 264).
  3. Recebida em 09 de abril de 1856, com o detalhe que nessa a pergunta é feita ao Espírito que se identificou como À Verdade: "A proteção desse Espírito, do qual estava longe de supor a superioridade, com efeito, jamais me faltou. (...)". (p. 266).

Considerando que essas três comunicações, constantes do livro "Obras Póstumas", são os documentos originais que Kardec possuía e que, por sua vez, também são anteriores à época da publicação do livro "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas" que se deu no ano de 1858, e que em sua substituição veio "O Livro dos Médiuns", disponível ao público em data posterior, qual seja, no ano de 1861, e que esse último livro já mudava o "um ilustre filósofo da antiguidade", (se colocássemos o mais ilustre caberia como uma luva a Jesus), para "um Espírito de ordem elevada que desempenhou um papel muito importante sobre a Terra", (se disséssemos o de ordem mais elevada que desempenhou o papel mais importante sobre a Terra, ficaríamos com a impressão de que estávamos falando de Jesus), concluímos que essas devam prevalecer sobre as outras. Quer dizer, as comunicações constantes do livro "Obra Póstumas" são as que devemos considerar como a realidade dos acontecimentos, enquanto que para as outras acreditamos na hipótese de Kardec ter colocado diferente por absoluta discrição e para não atrair a ira dos religiosos de seu tempo, contra a Doutrina nascente.

Analisemos, em "O Livro dos Médiuns", a comunicação IX, inserida no capítulo XXXI, intitulado Dissertações Espíritas (pp. 422/423), da qual destacamos os seguintes trechos:

"Venho eu, teu Salvador e teu juiz; venho, como outrora, entre os filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar aos materialistas que, (...)".

"Mas os homens ingratos se afastaram do caminho reto e amplo que conduz ao reino de meu Pai, dispersos nos ásperos atalhos da impiedade. (...)".

"Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas daqueles que evocais. Não me comunico, senão raramente; meus amigos, aqueles que assistiram à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das vontades de meu Pai".

O importante dessa comunicação é a nota que Kardec coloca logo após, vejamo-la:

"Esta comunicação, obtida por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, está assinada por um nome que o respeito não nos permite reproduzir senão sob todas as reservas, tão grande seria o insigne favor de sua autenticidade, e porque, muito freqüentemente, dele se abusou nas comunicações evidentemente apócrifas; esse nome é o de Jesus de Nazaré. Não duvidamos, de nenhum modo, que não possa se manifestar; mas se os Espíritos verdadeiramente superiores não o fazem senão em circunstâncias excepcionais, a razão nos proíbe crer que o Espírito puro por excelência responda ao apelo de qualquer um; haveria, em todos os casos, profanação em lhe atribuir uma linguagem indigna dele".

"Por essas considerações, é que sempre nos abstivemos de publicar algo que levasse esse nome; e cremos que não se poderia ser mais circunspecto nas publicações desse gênero, que não têm autenticidade senão pelo amor-próprio, e cujo menor inconveniente é o de fornecer armas aos adversários do Espiritismo".

"Como dissemos, quanto mais os Espíritos são elevados na hierarquia, mais seu nome deve ser acolhido com desconfiança; seria preciso estar dotado de uma bem grande dose de orgulho para se vangloriar de ter o privilégio das suas comunicações, e se crer digno de conversar com ele como com seus iguais. Na comunicação acima, não constatamos senão uma coisa, que é a superioridade incontestável da linguagem e dos pensamentos, deixando a cada um o cuidado de julgar se aquele cujo nome leva não a desmentiria".

Está aí explicado porque Kardec não quis colocar a assinatura na mensagem. Entretanto, quando do "Evangelho Segundo Espiritismo", ele coloca essa mesma mensagem no Capítulo VI – O Cristo Consolador, item 5 (pp. 135/136), agora assinada pelo Espírito de Verdade, datando-a como ocorrida em Paris 1860, ou seja, bem no início do Espiritismo. Quer dizer que ao afirmar que essa comunicação tem a assinatura de Jesus e ao invés desse nome coloca o de Espírito de Verdade, pressupomos que para ele ambas provinham da mesma individualidade. Isso fica mais claro, quando em "O Livro dos Médiuns", no capítulo XXXI, ao tratar das Comunicações Apócrifas (pp. 444/445), Kardec coloca duas comunicações assinadas por Jesus, às quais, em nota, nos trás o seguinte:

"Não há, sem dúvida, nada de mau nessas duas comunicações; mas o Cristo jamais teve essa linguagem pretensiosa, enfática e empolada. Que sejam comparadas com aquela que citamos mais acima e que leva o mesmo nome, e se verá de que lado está a marca da autenticidade".

Para nós fica claro que ao pedir para comparar essas duas mensagens com a anterior e ver onde se encontra a "marca da autenticidade" é porque admite como autêntica a primeira. O que em outras palavras podemos dizer que Kardec admitia como verdadeira a comunicação dada por Jesus, e que ao colocá-la em outra ocasião como assinada pelo Espírito de Verdade é porque sabia que se tratava do mesmo Espírito.

VIII – O Espírito de Verdade nos deixou alguma pista?

Ao que nos parece, acreditamos que sim. Vejamos uma comunicação assinada pelo Espírito de Verdade a propósito de "A Imitação do Evangelho" (Evangelho Segundo o Espiritismo), dada em Bordeaux, em maio de 1864:

"Provas e expiações, eis a condição do homem sobre a Terra. Expiação do passado, provas para fortalecê-los contra a tentação, para desenvolver o Espírito pela atividade da luta, habituá-lo a dominar a matéria, e prepará-lo para os gozos puros que o esperam no mundo dos Espíritos".

"Há várias moradas na casa de meu Pai, eu lhes disse há dezoito séculos. Estas palavras o Espiritismo veio fazer compreendê-las". (Revista Espírita 1864, p. 399/400).

A respeito da assinatura, Kardec faz a seguinte observação:

"Sabe-se que tomamos tanto menos a responsabilidade dos nomes quanto pertençam a seres mais elevados. Nós não garantimos mais essa assinatura do que muitas outras, nos limitamos a entregar esta comunicação á apreciação de todo Espírita esclarecido. Diremos, no entanto, que não se pode nela desconhecer a elevação do pensamento, a nobreza e a simplicidade das expressões, a sobriedade da linguagem, a ausência de todo supérfluo. Se se a compara àquelas que estão reportadas em A Imitação do Evangelho (prefácio, e cap. III – O Cristo Consolador[ ]), e que levam a mesma assinatura, embora obtidas por médiuns diferentes e em diferentes épocas, nota-se entre elas uma analogia evidente de tom, de estilo e de pensamento que acusa uma fonte única. Por nós, dizemos que ela pode ser de O Espírito de Verdade, porque é digna dele; ..."

Kardec, embora muito reservado e não fugindo a essa sua característica, diz que tal comunicação pode ter vindo do Espírito que a assinou. Ressaltamos "eu lhes disse há dezoito séculos" deixando transparecer que se trata mesmo de Jesus.

IX – Conclusão

Tentamos, na medida de nossa capacidade, com esse estudo abranger tudo quanto foi possível encontrar nas obras de Kardec sobre o assunto para que pudéssemos, de maneira definitiva (ousadia de nossa parte?), dar a resposta à nossa questão inicial; de quem seria o Espírito de Verdade.

A nossa conclusão final, podemos até ainda encontrar pessoas que não irão aceitá-la, mas mesmo assim iremos externá-la: é que o Espírito de Verdade é realmente Jesus. Pelos motivos apresentados ao longo deste estudo – informação dos Espíritos, pela fala de Kardec, pelo Evangelho e pela comunicação do Espírito de Verdade – que são as bases que encontramos para fortalecer nossa convicção. "Se tenho razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como os outros" (Kardec, em Obras Póstumas, p. 337).

Esperamos que possa o leitor também tirar a sua, já que aqui nos propomos a seguir o exemplo de Kardec, não impor nada, apenas estamos passando as informações para que nossos leitores possam também tirar suas próprias conclusões.

 

 

 

 

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Agosto/2003.

(revisado em mar/2005).

 

 

 

 

 

Referências bibliográficas:

KARDEC, A. Revista Espírita, Araras-SP: IDE, vol. I a XI, diversas edições.

_________ A Gênese, Araras-SP: IDE, Araras, SP, 1993.

_________ Iniciação Espírita, São Paulo: Edicel, 1987.

_________ Obras Póstumas, Araras-SP: IDE, 1993.

_________ O Livro dos Médiuns, Araras-SP: IDE, 1993.

_________ O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: FEB, 1982.

XAVIER, F.C. Missionários da Luz, Brasília-DF: FEB, 1986.

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus Editora, 2002.

A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.

Bíblia Sagrada. São Paulo: Ave Maria, 1989.


Fonte:http://www.espiritismogi.com.br/colunistas/verdade.htm


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