terça-feira, 2 de novembro de 2010

COMPARTILHANDO MATERIAL DE PESQUISA FEITA PARA PALESTRA: EDUCANDO PARA A MORTE (PARTE II)




MORTE E EDUCAÇÃO

Vê-se pois, que a morte na visão espírita é u m fenômeno natural de mudanças e transmutações, inerentes à própria dinâmica da vida.

A Pedagogia espírita, propõe-se através da educação formal e informal, desenvolver uma ação educativa, iniciando no respectivo lar, tendo os pais como pedagogos e educadores, com a missão natural de orientar e educar os filhos, desde a fase preparatória antes da reencarnação propriamente dita, através do processo psicobiofísico da gestação, acompanhando-os com amor e dedicação em todas as fases do crescimento e desenvolvimento pleno, quando assumirão com maior consciência e responsabilidade deveres e obrigações de viver construtivamente, em harmonia consigo mesmos, com a natureza, com a sociedade, com a vida, cumprindo o plano divino de suas existências.

Compreendendo desde cedo que a vida é imperecível, e que o ser humano como espírito ou consciência em expansão é um agente co-criador que integra e participa de um plano maior, de acordo com o nível de maturidade consciencial alcançado, e com a correspondente autonomia relativa, de agir e interagir no contexto existencial que lhe é concedido viver, é natural e de esperar que venha gradativamente, pela educação recebida, a desenvolver uma cosmovisão existencial, sem as peias do medo de qualquer espécie e muito menos do medo da morte e do morrer.

Nesta perspectiva, a Educação espírita visa o Ser integral, homem ou mulher, cujos papéis no contexto do viver se complementam e se integram na grande sinfonia da vida, com iguais direitos e deveres éticos e cosmoéticos no desempenho de seu respectivo plano existencial.

Como decorrência lógica deste processo de educação anímico-consciencial permanente, cada pessoa vai sentindo a imperiosa necessidade ético-espiritual de expandir-se na busca do auto-conhecimento, na construção da plenitude consciencial, livre de preconceitos e condicionamentos atávicos ou adquiridos, limitadores da liberdade de pensar, sentir e agir em harmonia com as leis da vida, numa visão plena de totalidade, integração e complementaridade.

Assim sendo, o viver passa a ser uma aprendizagem constante em todas as etapas do crescimento e desenvolvimento pessoal, de uma autoconsciência holística, ecológica e integradora, a se manifestar através de um comportamento individual e social, construtivo, edificante e solidário, em todos os momentos de sua vida de relação.

Sabe, por experiência própria, através de uma educação holística espiritualista ou espírita, que a vida de relação não se extingue com a cessação da vida física, mas ultrapassa os limites espaço-temporais do aqui, agora, expandindo-se na multidimensionalidade extrafísica da Biosfera e do Universo.

Consequentemente, tem consciência e discernimento de que é um agente co-criador arquiteto do próprio destino em todos os níveis de manifestação da vi da consciencial .Assim sendo, sente a própria dimensão transcendente do viver no plano físico e extra-físico através de suas funções psi, anímico-mediúnicas, paranormais, que lhe possibilitam projetar-se fora do respectivo corpo físico, penetrando nos diferentes níveis e planos conscienciais extra-físicos, continuando na dinâmica da vida de relação a interagir com espíritos ou consciências afins, encarnados ou desencarnados, realizando novos aprendizados enriquecedores ou participando solidariamente nas tarefas e trabalhos assistenciais ou socorristas, vivendo conscientemente o amor solidário, o amor compaixão, o amor-fraternidade, expressões particulares do verdadeiro "amor ao próximo como a si mesmo", princípio universal da Cosmoética, sem cuja observância o ser humano encarnado ou desencarnado não poderá ser plenamente feliz e nem poderá viver em paz consigo próprio, com a vida, com a natureza e com a humanidade.

Ressalta-se, pois, a importância da Educação numa visão e abordagem holística, integradora, sem os condicionamentos dogmáticos e sectários que dividem e segregam os seres humanos de todas as raças, povos e nações, tanto no Oriente como no Ocidente.

Sem dúvida alguma, o Espiritismo vem contribuindo para o desenvolvimento desta consciência holística, individual e coletiva, sem violentar a liberdade de pensar e de escolher o próprio caminho para o auto-conhecimento e a auto-realização como Espírito ou uma consciência em expansão, na construção da plenitude existencial rumo à plenitude do Ser.

Tais princípios educativos, fazendo parte dos currículos educacionais nas escolas de ensino fundamental, ampliando-se no segundo grau e ensino superior, através de projetos psicopedagógicos multi e transdisciplinares integrantes de um plano educacional de maior amplitude, privilegiando a valorização da Vida, a educação física, mental e afetiva do ser humano numa perspectiva holística, integradora e transcendente, possibilitando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e espiritual, com ênfase no auto-conhecimento, e numa cosmovisão transcendente da v ida, em que a morte não seja considerada o fim de tudo, mas apenas uma grande e profunda transmutação consciencial.

Deste modo, a convicção adquirida e consolidada através de um novo paradigma educacional—holístico, ecológico, espiritualista ou espírita, evolucionista, convicção não imposta— mas construída através da auto-educação, de que o Espírito ou o Eu-Consciencial é um ser. agente co-criador, e integrante do processo dinâmico da própria vida, evoluindo ao longo de um contínuo histórico através das vidas sucessivas, na construção e reconstrução do próprio destino, nesta perspectiva cada Consciência, tanto no plano físico ou extra-físico, sente a realidade existencial com maior amplitude, eliminando toda e qualquer reação instintiva de medo face aos grandes desafios educativos da Vida e do próprio viver.

Assim sendo, adquire e desenvolve a plena lucidez e discernimento, cognitivo e afetivo, de que a vida de relação se expande também, além do aqui, agora, possibilitando a interação entre encarnados e desencarnados, segundo os princípios universais da lei de afinidade, sintonia e ressonância.

Através da constatação do próprio potencial anímico-mediunico, a manifestar-se por meio das funções psi, paranormais, ampliando as percepções extra-sensoriais e autoprojeção, fora do corpo, a constatação da realidade multi e transdimensional espaço-temporal torna-se uma evidência incontestável, com profunda repercussão no comportamento ético individual e coletivo, podendo acelerar o processo das grandes transformações político-sociais, econômicas, culturais, ético-religiosas, educacionais, e do despertar de uma consciência ecológica, holística, harmônica e integradora, na construção da Paz individual e coletiva, indispensável à implantação de uma nova ordem, alicerçada na Cosmoética do "amor ao próximo como a si mesmo", em todos os níveis de manifestação consciencial.

A comprovação científica dos fenômenos naturais, inerentes ao intercâmbio mediúnico, muito contribuirá para evidenciar, com maior solidez, a sobrevivência espiritual do ser humano, na mais eloqüente demonstração universal de que a morte não rompe e nem destrói os laços afetivos de amor conjugal, amor paternal, maternal, amor filial, fraternal, amor-solidariedade, amor-compaixão, entre as mentes e corações afins, encarnados e desencarnados, na dinâmica da vida imperecível.

(ANATONIA DO DESENCARNE)

http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=5187

 

Apóstolos do Espiritismo - José Herculano Pires

Educação para a Morte

Artigo extraído do Livro "Educação para a Morte" - 5ª edição, setembro de 1996 - Editora Espírita Correio Fraterno do ABC.

Vou me deitar para dormir. Mas posso morrer durante o sono. Estou bem, não tenho nenhum motivo especial para pensar na morte neste momento. Nem para desejá-la. Mas a morte não é uma opção, nem uma possibilidade. É uma certeza. Quando o Júri de Atenas condenou Sócrates à morte, ao invés de lhe dar um prêmio, sua mulher correu aflita para a prisão, gritando-lhe: "Sócrates, os juízes te condenaram à morte". O filósofo respondeu calmamente: "Eles também já estão condenados". A mulher insistiu no seu desespero: "Mas é uma sentença injusta!". E ele perguntou: "Preferias que fosse justa?". A serenidade de Sócrates era o produto de um processo educacional: a Educação para a Morte. É curioso notar que em nosso tempo só cuidamos da Educação para a Vida. Esquecemo-nos de que vivemos para morrer. A morte é o nosso fim inevitável. No entanto, chegamos geralmente a ela sem o menor preparo. As religiões nos preparam, bem ou mal, para a outra vida. E depois que morremos encomendam o nosso cadáver aos deuses, como se ele não fosse precisamente aquilo que deixamos na Terra ao morrer, o fardo inútil que não serve mais para nada.
Quem primeiro cuidou da Psicologia da Morte e da Educação para a morte, em nosso tempo, foi Allan Kardec. Ele realizou uma pesquisa psicológica exemplar sobre o fenômeno da morte. Por anos seguidos falou a respeito com os espíritos de mortos. E, considerando o sono como irmão ou primo da morte, pesquisou também os espíritos de pessoas vivas durante o sono. Isso porque, segundo verificara, os que dormem saem do corpo durante o sono. Alguns saem e não voltam: morrem. Chegou, com antecedência de mais de um século, a esta conclusão a que as ciências atuais também chegaram, com a mesma tranqüilidade de Sócrates, a conclusão de Victor Hugo: "Morte não é morrer, mas apenas mudar-se".
As religiões podiam ter prestado um grande serviço à Humanidade se houvessem colocado o problema da morte em termos de naturalidade. Mas, nascidas da magia e amamentadas pela mitologia, só fizeram complicar as coisas. A mudança simples de que falou Victor Hugo transformou-se, nas mãos de clérigos e teólogos, numa passagem dantesca pela selva selvaggia da Divina Comédia. Nas civilizações agrárias e pastoris, graças ao seu contato permanente com os processos naturais, a morte era encarada sem complicações. Os rituais suntuosos, os cerimoniais e sacramentos surgiram com o desenvolvimento da civilização, no deslanche da imaginação criadora. A mudança revestiu-se de exigências antinaturais, complicando-se com a burocracia dos passaportes, recomendações, trânsito sombrio na barca de Caronte, processos de julgamento seguido de condenações tenebrosas e assim por diante. Logo mais, para satisfazer o desejo de sobrevivência, surgiu a monstruosa arquitetura da morte, com mausoléus, pirâmides, mumificações, que permitiam a ilusão do corpo conservado e da permanência fictícia do morto acima da terra e dos vermes. Morrer já não era morrer, mas metamorfosear-se, virar múmia nos sarcófagos ou assombração maléfica nos mistérios da noite. As múmias, pelo menos, tiveram utilidade posterior, como vemos na História da Medicina, servindo para os efeitos curadores do pó de múmia. E quando as múmias se acabaram, não se achando nenhuma para remédio, surgiram os fabricantes de múmias falsas, que supriam a falta do pó milagroso. Os mortos socorriam os vivos na forma lobateana do pó de pirimpimpim.
Muito antes de Augusto Comte, os médicos haviam descoberto que os vivos dependiam sempre e cada vez mais da assistência e do governo dos mortos. De toda essa embrulhada resultou o pavor da morte entre os mortais. Ainda hoje os antropólogos podem constatar, entre os povos primitivos, a aceitação natural da morte. Entre as tribos selvagens da África, da Austrália, da América e das regiões árticas, os velhos são mortos a pauladas ou fogem para o descampado a fim de serem devorados pelas feras. O lobo ou o urso que devora o velho e à velha expostos voluntariamente ao sacrifício será depois abatidos pelos jovens caçadores que se alimentam da carne do animal reforçada pelos elementos vitais dos velhos sacrificados. É um processo generoso de troca no qual os clãs e as tribos se revigoram.
O pavor maior da morte provém da idéia de solidão e escuridão. Mas os teólogos acharam que isso era pouco e oficializaram as lendas remotas do Inferno, do Purgatório e do Limbo, a que não escapam nem mesmo as crianças mortas sem batismo. De tal maneira se aumentaram os motivos do pavor da morte, que ela chegou a significar desonra e vergonha. Para os judeus, a morte se tornou a própria impureza. Os túmulos e os cemitérios foram considerados impuros. Os cenotáfios, túmulos vazios construídos em honra aos profetas mostram bem essa aversão à morte. Como podiam eles aceitar um Messias que vinha da Galiléia dos Gentios, onde o Palácio de Herodes fora construído sobre terra de cemitérios? Como aceitar esse Messias que morreu na cruz, vencido pelos romanos impuros, que arrancara Lázaro da sepultura (já cheirando mal) e o fizera seu companheiro nas lides sagradas do messianismo?
Ainda em nossos dias o respeito aos mortos está envolvido numa forma velada de repulsa e depreciação. A morte transforma o homem em cadáver, risca-o do número dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de ação e, portanto de significação no meio humano. "O morto está morto", dizem os materialistas e o populacho ignaro. O Papa Paulo VI declarou, e a imprensa mundial divulgou em toda parte, que "existe uma vida após a morte, mas não sabemos como ela é". Isso quer dizer que a própria Igreja nada sabe da morte, a não ser que morremos. A idéia cristã da morte, sustentada e defendida pelas diversas igrejas, é simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se vêem diante de um Tribunal Divino que os condena a suplícios eternos. Os santos e os beatos não escapam às condenações, não obstante a misericórdia de Deus, que não sabemos como pode ser misericordioso com tanta impiedade. As próprias crianças inocentes, que não tiveram tempo de pecar, vão para o Limbo misterioso e sombrio pela simples falta do batismo. Os criminosos broncos, ignorantes e todo o grosso da espécie humana são atirados nas garras de Satanás, um anjo decaído que só não encarna o mal porque não deve ter carne. Mas com dinheiro e a adoração interesseira a Deus essas almas podem ser perdoadas, de maneira que só para os pobres não há salvação, mas para os ricos o Céu se abre ao impacto dos te-déuns suntuosos, das missas cantadas e das gordas contribuições para a Igreja. Nunca se viu soberano mais venal e tribunal mais injusto. A depreciação da morte gerou o desabrido comércio dos traficantes do perdão e da indulgência divina. O vil dinheiro das roubalheiras e injustiças terrenas consegue furar a Justiça Divina, de maneira que o desprestígio dos mortos chega ao máximo da vergonha. A felicidade eterna depende do recheio dos cofres deixados na Terra.
Diante de tudo isso, o conceito da morte se azinhavre nas mãos dos cambistas da simonia, esvazia-se na descrença total, transforma-se no conceito do nada, que Kant definiu como conceito vazio. O morto apodrece enterrado, perdeu a riqueza da vida, virou pasto de vermes e sua misteriosa salvação depende das condições financeiras da família terrena. O morto é um fraco, um falido e um condenado, inteiramente dependente dos vivos na Terra.
O povo não compreende bem todo esse quadro de misérias em que os teólogos envolveram a morte, mas sente o nojo e o medo da morte, introjetados em sua consciência pela força dos poderes divinos que o ameaçam desde o berço ao túmulo e ao além-túmulo. Não é de admirar que os pais e as mães, os parentes dos mortos se apavorem e se desesperem diante do fato irremissível da morte.
Jesus ensinou e provou que a morte se resolve na Páscoa da ressurreição, que ninguém morre, que todos temos o corpo espiritual e vivemos no além-túmulo como vivos mais vivos que os encarnados. Paulo de Tarso proclamou que o corpo espiritual é o corpo da ressurreição (cap. 12 da primeira Epístola aos Coríntios), mas a permanente imagem do Cristo crucificado, das procissões absurdas do Senhor Morto, - heresia clamorosa -, as cerimônias da Via-Sacra e as imagens aterradoras do Inferno Cristão – mais impiedoso e brutal do que os Infernos do Paganismo – marcados a fogo na mente humana através de dois milênios, esmagam e envilecem a alma supersticiosa dos homens.
Não é de admirar que os teólogos atuais, divididos em várias correntes de sofistas cristãos moderníssimos, estejam hoje proclamando, com uma alegria leviana de debilóides, a Morte de Deus e o estabelecimento do Cristianismo Ateu. Para esses novos teólogos, o Cadáver de Deus foi enterrado pelo Louco de Nietsche, criação fantástica e infeliz do pobre filósofo que morreu louco.
O clero cristão, tanto católico como protestante, tanto do Ocidente como do Oriente, perdeu a capacidade de socorrer e consolar os que se desesperam com a morte de pessoas amadas. Seus instrumentos de consolação perderam a eficiência antiga, que se apoiava no obscurantismo das populações permanentemente ameaçadas pela Ira de Deus. A Igreja, Mãe da Sabedoria Infusa, recebida do Céu como graça especial concedida aos eleitos, confessa que nada sabe sobre a vida espiritual e só aconselha aos fiéis as práticas antiquadas das rezas e cerimônias pagas, para que os mortos queridos sejam beneficiados no outro Mundo ao tinir das moedas terrenas. O Messias espantou a chicote os animais do Templo que deviam ser comprados para o sacrifício redentor no altar simoníaco e derrubou as mesas dos cambistas, que trocavam no Templo as moedas gregas e romanas pelas moedas sagradas dos magnatas despenseiros da misericórdia divina. O episódio esclarecedor foi suplantado na mente popular pelo impacto esmagador das ameaças celestiais contra os descrentes, esses rebeldes demoníacos. Em vão o Cristo ensinou que as moedas de César só valem na Terra. Há dois mil anos essas moedas impuras vêm sendo aceitas por Deus para o resgate das almas condenadas. Quem pode, em sã consciência, acreditar hoje em dia numa Justiça Divina que funciona com o mesmo combustível da Justiça Terrena? Os sacerdotes foram treinados a falar com voz empastada, melíflua e fingida, para, à semelhança da voz das antigas sereias, embalar o povo nas ilusões de um amor venal e sem piedade. Voz doce e gestos compassivos não conseguem mais, em nossos dias, do que irritar as pessoas de bom senso. O Cristo Consolador foi traído pelos agentes da misericórdia divina que desceu ao banco das pechinchas, no comércio impuro das consolações fáceis. Os homens preferem jogar no lixo as suas almas, que Deus e o Diabo disputam não se sabe porquê.

http://www.irmaclara.com.br/apostolos/artigo.php?artigo=253&title=Educação%20para%20a%20Morte


Base de dados: Manoel Trajano - FEIS - Fraternidade Espírita Irmã Scheilla - Salvador - Bahia









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