quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A RESPOSTA

 

De onde brota a dignidade?

Artigo trata de direitos humanos como defesa da dignidade humana.

Direitos Humanos é uma idéia nascida da consciência e da necessidade de preservar a vida e tudo o que nela está imbricado. No entanto, ao longo dos tempos, este conceito foi assimilado culturalmente como se os portadores destes direitos fossem sempre os outros, aqueles que estão numa situação de extrema indignidade. Nunca a gente (eu, você e nós). Faz-se necessário um grande esforço para ressignificar as palavras, lembrando que são os conceitos que dizem o que as coisas são.

A cultura é formada por todos os valores, as posturas, as atitudes, os costumes, a educação, os conceitos e a construção de identidades que são materializadas no cotidiano. Através de nossa cultura fomos alimentando a ideia de que sempre temos mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem usufruídos. Muitas vezes, ainda, entendeu-se que direitos são privilégios de uma classe social, povo ou nação, em detrimento dos demais. Desta forma, gerou-se um grande distanciamento entre o conceito de dignidade humana e as pessoas, o que leva muitos de nós a não nos sentirmos incluídos quando se fala de direitos humanos.

Ser gente

A defesa da vida, que também é defesa da dignidade humana, engloba o que a humanidade, através de muita luta e conquista, reconheceu como direitos humanos. O que vem a ser dignidade humana? É difícil definir, mas todos entendemos quando ela falta a alguém (como aquilo que define a própria noção de humanidade, enquanto condições mínimas e básicas para ser gente). Basta olharmos para a nossa realidade cotidiana que facilmente percebemos inúmeras realidades de indignidade.

Como existem os que lutam pela dignidade alheia, existem os que são violados em seus direitos e existem os que querem reduzir direitos humanos à defesa daqueles que transgrediram regras e leis sociais. Quem luta por seus direitos e pelos direitos dos outros, por sua vez, nem sempre é bem compreendido, porque a defesa da vida humana (da dignidade) exige uma postura firme e radical. Vida e morte não são meio-termos e não nos permitem nunca vacilar, pois todos somos responsáveis pela manutenção da vida, e vida que deve ser vivida na mais absoluta plenitude.

Mas como criar identidade com direitos humanos? Que tal começar considerando-se a si mesmo como portador de direitos, de liberdade, de dignidade, ao mesmo tempo diferente e igual aos outros. Pois diferenças e semelhanças não são critérios para auferir nossa dignidade. O que temos em comum é o fato de que somos humanos e comungamos das mesmas necessidades. Se me considero portador de direitos humanos, assim devo também considerar meus familiares, meus amigos, aqueles que conheço e aqueles que ainda não conheço, aqueles de quem gosto e até aqueles de quem não gosto. Sim, todos que são humanos, como eu.

Das palavras às ações

Desconhecemos outra maneira de mudar culturalmente conceitos ou ideias senão pelo caminho da educação. Educação em direitos humanos não é somente um conteúdo a ser ensinado, mas pressupõe, antes de tudo, a vivência de valores e atitudes que cultivem a preservação da vida, das singularidades e das diferenças. Para mudarmos atitudes e conceitos precisamos ser motivados, sensibilizados e estimulados a compreender o ser humano em suas diferentes situações e realidades.

Acreditamos que ainda temos tempo para a sensibilidade humana. Esperamos que esta mesma sensibilidade, da qual todos somos portadores, gere compromissos solidários para uma incondicional defesa da dignidade de todos. O convite é para transformarmos nossas palavras em ações a favor da humanidade, a que está nos outros e a que está em nós.

Já dizia Gonzaguinha: "E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar".

Nei Alberto PiesProfessor e ativista de direitos humanos, Passo Fundo, RS.
 

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