quarta-feira, 7 de abril de 2010

Entrevista com o médium que psicografa mensagens de dom Helder


Publicado em 03.04.2010, às 08h30

Verônica Almeida Do Jornal do Commercio
Carlos Pereira psicografa nas horas de folga mensagens como a que recebeu ao ser fotografado para esta reportagem
Carlos Pereira psicografa nas horas de folga mensagens como a que recebeu ao ser fotografado para esta reportagem
Foto: Chico Porto/JC Imagem

Leia abaixo entrevista com Carlos Pereira, espírita pernambucano, ex-presidente da Associação dos Divulgadores do Espiritismo, médium que psicografa mensagens de dom Helder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, morto em 1999. Pereira já publicou dois livros com textos do religioso e prepara o terceiro. Também tem um blog com mensagens de dom Helder.

JC - Quem é você e quando tornou-se espírita?

CARLOS - Tenho 44 anos, sou administrador, mestre em gestão pública. Me acordei nesta vida espírita. Meus pais eram espíritas e sempre frequentei os centros desde criança.

JC - Como foi o desenvolvimento da mediunidade?

CARLOS - A partir dos 30 anos de idade comecei a ter as primeiras tentações mediúnicas, inicialmente pela fala, a psicofonia, e depois também pela psicografia. Cada uma tem um modo próprio de desenvolver sua mediunidade. Eu tinha tentações, percepções e, não sabendo, como é muito natural, como administrar isso, busquei ajuda e, como eu já estava na casa espírita, foi mais fácil educar. Há mediunidade de vidência, em que a pessoa vê vultos. Quem tem a mediunidade de audiência, começa a ouvir vozes. Eu comecei a ter estímulos na mão para escrever e quando começava a escrever vinha uma efervescência muito grande de pensamentos. Tinha certeza que não é não eram meus. Os conteúdos e o vocabulário não são nosso, apesar de termos consciência do processo. Chegam de maneira espontânea, muito rápida.

JC - Em que momento pratica a psicografia?

CARLOS - Faço isso, em casa, terças e quintas pela manhã, entre 5h e 6h, e no domingo de manhã, às 6h, e no Grupo Esperança, em Camragibe, na sexta, à noite. Eu planejei esses horários em função das minhas disponibilidades e peço aos espíritos que façam o planejamento deles em função do nosso. No domingo, por exemplo, é um encontro marcado com um espírito que escreve para um blog, que é dom Helder Câmara. toda semana tem um texto dele no domdapaz.blogspot.com.

JC- Como foi seu primeiro contato com o espírito de dom Helder?

CARLOS - É uma história longa. Nas exposições que a gente faz, as pessoas que tinham vidência me perguntavam quem era o padre que estava ao meu lado e eu não sabia.Outras pessoas me perguntavam o que dom Helder estava fazendo ao meu lado, e eu dizia não sei, pergunte a ele. Já era um processo de aproximação para assimilar o psiquismo de um com um outro. E num certo instante em casa, ele disse que  tinha acertado comigo fazer um livro e que eu em pedi que em nível consciente ele viesse avisar isso. Em quatro anos, já aconteceu o primeiro, com 52 textos, Novas Utopias, o segundo, No coração de Deus, com 365 pensamentos, e tem o terceiro, livro de artigos que está pronto, mas só sai no primeiro semestre do ano que vem.

Pelo que falou em algumas mensagens, (dom Helder) vive numa espécie de convento



JC - Como  tem certeza que é dom Helder?

CARLOS -  Pessoas que conviveram com ele se identificam. Os mais céticos não acreditam, até que leem os textos. Quem mais critica são os católicos conservadores. Eu deixo que o público avalie. Fazemos pela boa fé, em defesa de uma causa.

JC- Teve alguma afinidade com ele anteriormente?


CARLOS -  Só vi dom Helder duas vezes muito rápido. O encontrei numa avenida e depois no lançamento de um livro de outra pessoa. Eu não o conheci em vida nem ele me conhecia. Os espíritos se aproximam por afinidade, segundo eu aceitei o desafio e compromisso de fazer isso e, em terceiro, pelas ligações que possivelmente tive com a igreja católica em outras encarnações.

JC - Onde vive dom Helder?

CARLOS -  Ele não disse o local exato. Pelo que falou em algumas mensagens vive numa espécie de convento, um ambiente católico, em que convive com outros religiosos. Embora haja uma certa hierarquia do lado de lá, é mais moral do que institucional. Lá estão todos juntos para fazer o bem, católico, budista ou de outra religião.

JC - E Chico Xavier?

CARLOS - É um exemplo de conduta cristã e mediúnica. Ele não só trazia textos, exemplificava a conduta cristã, era coerente, praticando o que falava. É maior que o próprio espirtismo. Todo religioso que ama a humanidade extrapola seu grupo de atuação, como dom Helder, madre Tereza de Calcutá, o Dalai Lama, são maiores que as crenças. Chico foi coerente com aquilo que fazia, uma mediunidade ética, gratuita. Outros médius não são iguais. Talvez tenha sido um dos maiores médiuns de todos os tempos, com uma faculdade muito depurada. Quem dera fôssemos 10% de Chico, tanto em sensibilidade mediúnica quanto em comportamento cristão.

JC - Como vê a ampla divulgação do espiritismo no cinema e TV?


CARLOS - As informações não pertencem ao espiritismo, mas ao ser humano, são os princípios da natureza. Este será o século da plena descoberta da espiritualidade humana, o Brasil será um foco. Faz parte de uma fase de espiritualização da humanidade. Será algo muito comum, nao só na mídia, mas nas artes, nas universidades. Nos últimos 20 anos, a academia está em crise de paradigma, e é exatamente porque ela está descobrindo a não matéria, verificando pela física quântica essas incertezas. A psicologia já se volta ao transpessoal e outros campos do saber estão se permitindo ter outra perspectiva sobre a vida.

JC - O maior desafio do espiritismo?

CARLOS - Colaborar com espiritualização da humanidade e para a vivência do amor na terra. Ajudar a se descobrir como espírito imortal e que esse conhecimento seja útil para a gente amar mais um ao outro.

JC - A divulgação do espiritismo deveria ser mais ousada?

CARLOS - O espiritismo deveria estar mais na mídia e como a gente não está, porque considera de uma maneira geral que isso não é importante, nos limitamos a uma atuação nos centros. A mídia tem a capacidade de alcançar bilhões de pessoas com pouco investimento. Tem a internet, que agrega outras mídias, a TV, o radio.  E preciso ocupar os espaços de maneira profissional. Podemos explicar o outro lado das notícias e direcionar a mensagem para a construção de uma sociedade melhor, por exemplo. O espaço do bem ainda é atrofiado, existe, mas parece que existe mais mal do que bem. Os que fazem o mal são mais ousados. Os bons são mais tímidos. Mas no balanço, tem mais bem do que mal.

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